Jornal Povo

‘Crivella não está preocupado com o cidadão carioca’, afirma deputada Martha Rocha, pré-candidata a prefeita do Rio

Parlamentar contestou atitudes do prefeito na pandemia. Governador Witzel e presidente Bolsonaro também foram alvos de críticas dela.

A partir desta segunda-feira (11) o Jornal Povo publicará matérias exclusivas das entrevistas feitas pelo empresário e publicitário Tadeu Vieira, com os pré-candidatos à prefeitura do Rio. Essas entrevistas serão publicadas todos os dias. O espaço servirá para que eles exponham suas ideias, falem sobre seus planos de governo e debatam sobre os assuntos de interesse público.

A primeira dessas entrevistas é com a deputada estadual Martha Rocha, do Partido Democrático Trabalhista, o PDT. Ela fez duras críticas à gestão do prefeito Marcello Crivella sobre como ele vem trabalhando em meio a pandemia do novo coronavírus, além de sua opinião sobre o trabalho do prefeito em outros setores.  

Martha já começou afirmando que Crivella não está preocupado com o cidadão carioca, e que suas ações visam apenas sua reeleição.

“O prefeito está insistindo em investir em restauração de áreas de lazer e de praças. Porque ele quer atingir aos seus guetos eleitorais. Ele não está preocupado com o cidadão e muito menos de cuidar de pessoas. Ele está preocupado única e exclusivamente preocupado com a sua eleição”, afirmou ela, que contestou o motivo dos leitos dos hospitais federais não estarem inseridos na ajuda ao tratamento de pacientes com covid-19. “Se inserir os leitos dos hospitais federais, nós teremos um aumento de 800 leitos. Não é possível o que a gente está assistindo, de pessoas dormindo deitadas em três cadeiras juntas. Isso é desumano. Para uma pessoa que tem até uma identidade isso é cruel”, completou.

Durante a entrevista a parlamentar também disse que, com a aproximação da família Bolsonaro com a prefeitura do Rio, esperava mais providências para conter o avanço do covid-19 na cidade.

“O governo federal poderia estar contribuindo, e muito, para o enfrentamento dessa crise. Me causa até espanto porque o prefeito Marcello Crivella vem dando sinais de aproximação do governo federal. O filho do presidente se filiou ao partido do prefeito […] Esperávamos todos que houvesse uma efetiva participação do governo federal no enfrentamento do coronavírus, mas é claro que isso não está acontecendo”, destacou ela.

“Eu tenho muita tranquilidade quando um projeto chega na Assembleia Legislativa. Se esse projeto for de um companheiro que está ali apresentando uma questão que é importante para a população do Estado, eu tenho a maior tranquilidade de votar a favor. Agora, não me peça para votar pela privatização da Cedae, não peça para aprovar as contas de um governo que não investiu em saúde e educação”, disse.

Turismo, eventos e serviços

Quando perguntada sobre setores de turismo, eventos e serviços do Rio, Martha falou sobre a necessidade de se melhor investir nos principais eventos que acontecem no Estado.

“A cultura é uma economia criativa. A gente pode e deve fortalecer áreas como audiovisual, artes cênicas, cenografia, coreografia. A gente pode usar, por exemplo os equipamentos das escolas para permitir que esses pequenos produtores não precisem alugar um espaço, pagar um aluguel. Como a gente faz isso: Libera o uso desse espaço fora do horário escolar com o compromisso de reverter algum tipo de benefício para a comunidade onde está instalado o equipamento escolar. Nesse momento de pandemia a cultura tem sido um aliado de sobrevivência […] É por isso que lamentavelmente no carnaval, entre um bloco e outro que todo carioca teve que sentar no chão e chorar que São Paulo teve mais turistas no carnaval do que na cidade do Rio de Janeiro. Alguma coisa está errada. Não é possível”, disse. “A importância da política pública está na razão direta da sua rubrica orçamentária. Primeiro eu tenho à vontade política de realizar. Identifiquei e quero dar evidência aquela política pública, qual é o segundo passo: Dar a rubrica orçamentária necessária para que essa política possa ser realizada através de ações e de estratégias. Tem uma pesquisa que mostra que a chance de um menino sair da escola é maior do que de uma menina. Se a gente tem uma área como essa da cultura, que é atuante, que tem vida, que existe verdadeiramente, a gente poderia estar pegando essa garotada para trabalhar com iluminação, podia estar pegando essa garotada para trabalhar com cenografia, podia estar pegando essa garotada para trabalhar com audiovisual. E com isso vamos estar conjugando a qualificação para o trabalho e trazendo essa criança de volta para a escola. Eu acho que é um olhar do futuro”, completou.

‘Existe vida após Eduardo Paes e Marcello Crivella’

Ao falar de sua pré-candidatura a prefeita do Rio, Martha rebateu algo dito pelo ex-prefeito da cidade, Eduardo Paes. Paes falou que ‘não é o momento de colocar pessoas inexperientes na prefeitura’.

“Quando ele foi eleito, não teria em tese essa experiência […] Eu quero lamentar que o Eduardo faça esse discurso, porque eu acho assim, que esse não é um discurso democrático. O discurso democrático é aquele que respeita o adversário. O discurso democrático é aquele que faz com que você seja escolhido de acordo com os projetos que você venha a apresentar. Então vamos ter clareza nisso […] Vamos, Eduardo, com respeito que eu tenho pela sua trajetória, quero te dizer com toda transparência: Existe vida após Eduardo Paes”, disse.

Especula-se no meio político  que Eduardo Paes gostaria de ter Martha Rocha como a ‘vice dos sonhos’. Perguntada sobre isso, a deputada respondeu.

“Quero dizer ao Eduardo Paes que ele sabe exatamente que eu não serei vice dele e nem vice de ninguém. Respeito a candidatura dele […] Já que o nome dele foi citado eu vou me permitir dizer que existe vida além de Eduardo Paes e Marcelo Crivella. O Rio de Janeiro terá outros candidatos”, disse a deputada. “O que me incomoda quando as pessoas falam da unidade partidária, é porque a unidade é vem a nós e seja feita nossa vontade. Por que que não pode ser Martha candidata a prefeita e Eduardo vice? Por que que a gente tem que aderir a um projeto político que não é o nosso e que não está no nosso campo?”, questionou ela.­­     

Dossiê contra deputados

Martha também falou durante a entrevista sobre o dossiê contra os deputados estaduais do Rio e da denúncia feita pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano (PT) . Ela afirma que isso é uma tentativa de intimidar os parlamentares da Alerj a votarem favorável aos projetos que vem do Governo do Estado, e que espera que a polícia civil não esteja com outros propósitos dentro das investigações.

“Eu não quero crer que a polícia civil se prestasse a esse papel. Se isso ficar comprovado eu acho que vai ser primeiramente uma decepção, mas pode ter certeza de que eu estarei a frente daqueles que irão questionar de forma forte esse comportamento”, disse. “A produção do dossiê é para intimidar o deputado a votar de acordo com o interesse do governo. Não tem que dizer que deputado tem medo de dossiê não. Eu não tenho medo de dossiê […] Por trás do dossiê tem um interesse escuso”, completou.

Prisão do ex-subsecretário estadual de saúde

Martha também falou sobre a prisão do ex-subsecretário estadual de saúde, Gabriell Neves, acusado de estar envolvido em fraudes de licitação de contratos para compra de respiradouros para pacientes com Covid-19 no Rio de Janeiro. Ela questionou a nomeação de Gabriel ao cargo.

 “ A gente fica perguntando quem é que indicou essa figura para exercer essa função, porque dias atrás os meios de comunicação noticiaram, entre outras coisas, que ele é um advogado que já tinha tido um cargo em outra secretaria no governo passado, mas que ele tinha um problema judicial porque foi advogado judicial de uma senhora idosa que moveu uma ação e recebeu, depois de dez anos, uma indenização e ele simplesmente ficou com o dinheiro dessa senhora que tinha mais de 70 anos. Então eu fico me perguntando: Se já havia essa indicação da conduta dele como advogado, como é que alguém pode ser nomeado a um cargo de tamanha relevância? ”, contestou.

Sobre Bolsonaro, ela diz: ‘O que o presidente faz é um desserviço à nação’

A parlamentar também criticou como o presidente Jair Bolsonaro tem se posicionado em meio a pandemia, contrariando as medidas de segurança e minimizando o impacto da doença.

“O que o presidente faz é um desserviço a nação. O presidente contraria a todos os ditames da ciência, ele fica o tempo todo esticando uma corda querendo fazer o contraponto entre a economia e a saúde, o presidente incita as pessoas ao comportamento antidemocrático. Aqui na cidade do Rio de Janeiro a gente relatos de profissionais da área da saúde que não tem equipamento de proteção individual. As enfermeiras foram fazer uma manifestação legítima e democrática e foram hostilizadas”, apontou a parlamentar.

A entrevista está na íntegra no Instagram do Tadeu Vieira: https://www.instagram.com/tadeuvieira.rio/