Empresário foi apoiador do presidente na época da campanha. Atualmente é presidente do PSDB no Rio. Ele diz que o Crivella ‘já é carta fora do baralho’.
O Jornal Povo publicará matérias exclusivas das entrevistas feitas pelo empresário e publicitário Tadeu Vieira, com os pré-candidatos à prefeitura do Rio. Essas entrevistas serão publicadas todos os dias. O espaço servirá para que eles exponham suas ideias, falem sobre seus planos de governo e debatam sobre os assuntos de interesse público.
Dessa vez o pré-candidato a ser entrevistado é Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro e atual presidente estadual do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. Paulo substituiu Gustavo Bebiano, ex-secretário geral do presidente Jair Bolsonaro, que viria pré-candidato a prefeito do Rio também pelo PSDB. Entretanto, Bebiano morreu no dia 14 de março de parada cardíaca em seu sítio em Teresópolis. Depois que isso aconteceu, Paulo Marinho passou a ser o candidato do PSDB no Rio para a disputa ao cargo de prefeito.
Antes de aceitar ir para o PSDB, Paulo Marinho era filiado ao Partido Social Liberal, PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro. Paulo, inclusive, foi um dos articuladores mais importantes da campanha do presidente, oferecendo todo o suporte de comunicação e até mesmo dispondo sua própria casa para reuniões e principais assuntos do partido. Mas ele disse que se arrepende de tudo isso. O pré-candidato conta que apoiar Bolsonaro foi um erro e que ele é uma grande decepção.
“Achei que o presidente Bolsonaro, primeiro, seria grato a população brasileira, iria governar para todos os brasileiros e infelizmente foi uma grande decepção. Eu me arrependo profundamente de ter me ocupado desse projeto político […] Era um projeto de união do Brasil. Eu achava que ele tinha um sentimento de gratidão pela população brasileira e que iria governar para todos”, disse Paulo Marinho.
‘Carlos Bolsonaro tinha ciúme de Gustavo Bebiano’, diz Paulo Marinho
Sobre Gustavo Bebiano, Paulo Marinho diz que ele era alvo de ciúmes de um dos filhos de Jair Bolsonaro: O Carlos. O pré-candidato afirma que Bebiano se destacava no trabalho que desempenhava e que chegou a ser cotado pelo próprio Bolsonaro para ser Ministro da Justiça, mas que ele teria recusado e quem assumiu foi o ex-ministro Sérgio Moro, nome indicado pelo ministro da economia, Paulo Guedes.
“Ele atirou nas costas do Gustavo Bebiano sem a menor pena. Eu tenho para mim que o Gustavo morreu de tristeza […] Ali é um projeto familiar. E quando eu digo que é um projeto familiar, é dos homens da família. O próprio capitão (Bolsonaro) é um cara que despreza as mulheres. Se ele pudesse ele colocava burca aqui no Brasil também. É um cara que não tem essa visão de mundo avançado […] O Carlos Bolsonaro, vendo a importância que o Gustavo ganhava, do tamanho que ele ficou na campanha, imaginou obviamente que ele fosse ocupar uma função de governo. Eu me recordo que, o capitão Bolsonaro disse também aqui na minha casa, com meu testemunho, que ele iria convidar o Gustavo para ser ministro da justiça”, lembra o pré-candidato.
Mudança para o PSDB
Depois que saiu do PSL, Paulo Marinho articulou sua ida ao PSDB com o governador de São Paulo, João Dória.
“Eu deixei o PSL, aceitei o convite do governador João Dória e assumi a presidência do diretório no momento em que, a presidência nacional do PSDB, quem assumia era o ex-deputado Bruno Araújo, que é hoje o presidente do PSDB nacional. O Bruno assumiu e propôs fazer uma intervenção do diretório do PSDB aqui no Rio e com a intervenção do diretório ele me indicou como o novo presidente do partido, para que eu pudesse fazer o trabalho que está em curso ainda de reestruturação do partido. O partido nos últimos anos serviu a poucos e se distanciou cada vez mais da população do Estado do Rio de Janeiro, culminando com a eleição de 2018, que não elegeu nenhum deputado federal. Então eu acho que ali foi o fundo do poço para o PSDB do Rio de Janeiro. E obviamente o governador Dória muito preocupado o destino do partido aqui no Rio, porque ele sabe a importância que o estado tem para o projeto nacional dele, queria que estivesse à frente do partido alguém fosse da confiança dele […] Eu tenho repetido um mantra que o governador (Dória) passou pra mim quando pediu que eu assumisse a presidência. Ele me disse: Paulo, traga jovens e mulheres para o partido. Esse é o futuro do PSDB”, disse Paulo Marinho.
Paulo falou sobre o ambiente político que está se formando no Rio e dos nomes que já surgiram para ocupar o cargo de prefeito da cidade. Ele fez duras críticas a candidatos que já tentaram a vaga nas eleições de 2016 e a tentativa de reeleição de Crivella. O pré-candidato diz que é momento de renovar a política carioca, e que não há porque Crivella querer se reeleger e ficar por mais quatro anos à frente da gestão municipal.
“Crivella querer ser prefeito de novo? Não dá. Já teve o privilégio de governar a cidade por quatro anos. Você quer mais quatro anos para que? Sai dessa […] eu acho uma tristeza nós estarmos hoje, depois de quatro anos falando sobre reeleição no Rio de Janeiro, com os mesmos candidatos. Não há renovação na política do Rio de Janeiro”, comentou ele.
Rio pós-pandemia e o investimento na economia, cultura e turismo
Paulo Marinho também falou sobre a importância de se cuidar dos setores de economia, cultura e turismo na cidade do Rio, especialmente no momento pós-pandemia de coronavírus. Para ele, é e será importante dar mais visibilidade aos seguimentos.
“Nós vamos encontrar um ambiente totalmente adverso quando essa pandemia passar. Nós temos que gerar emprego. As pessoas estão desempregadas. Já pesou o que vai acontecer com a economia do Rio? Hotéis fechados […] você precisa colocar alguém no comando dessa cidade a partir do ano que vem que consiga resgatar o mínimo de esperança para essa população e não tem outro caminho: Tem que gerar emprego”, disse.
Sobre o investimento na cultura carioca, Paulo Marinho tem em seus planos trazer grandes empresários investidores no setor. Um desses grandes empresários pensados por ele é Zé Victor Oliva, um dos mais respeitados produtores de eventos e dono de agências no Brasil.
“Tem que vender o Rio de Janeiro naquilo que ele é vocacionado, que são grandes eventos, entretenimento, movimento cultural […] No início do governo Crivella eu ainda tentei mobilizar um grupo de empresários de turismo para ajudar. Propuseram a ele a fazer um calendário oficial da cidade para produzir um projeto de entretenimento e de eventos para as pessoas entenderem que a cidade tem um calendário. Nada disso foi possível. Na primeira semana os empresários que eu mobilizei desistiram de querer ajudar porque as reuniões não tinham consequência, combinavam uma coisa e acontecia outra”, disse ele. “Eu acho que o Rio de Janeiro é uma cidade que tem um ambiente muito propício e que retoma rápido. Não é uma cidade que vai demorar não, porque o que precisa existir já está feito. Temos hoje uma estrutura hoteleira de primeiríssimo mundo. Temos uma estrutura de belezas naturais e de atrações para a cidade. Meu filho fez uma estrutura de construir uma roda gigante ali na região do Porto do Rio de Janeiro. Tem lá um investimento maravilhoso de um grupo privado que não teve um apoio da prefeitura para fazer o que fez”, completou.
“Eleito prefeito do Rio de Janeiro, vou transformar essa área de entretenimento e eventos da cidade. Eu vou botar para quebrar. Vou criar um calendário de eventos para cidade, chamar investidores. Vou trazer os principais empreendedores de São Paulo, chamar essa garotada que está fazendo evento na cidade. Eu vou me dedicar pessoalmente a isso”, destacou o pré-candidato.
Outro setor que, na visão de Paulo Marinho merece mais atenção por parte da prefeitura é o de indústria naval. Sobre isso ele disse:
“Pode ser uma indústria muito bem aproveitada para grandes reparos das plataformas de petróleo. Em Niterói tem uma base imensa também de reparo naval, um mega estaleiro. Tudo fechado. O Estado tem uma estrutura já montada. Tem que pegar as coisas que já existem na cidade e procurar ajudar, para que essas coisas funcionem”.
Paulo Marinho também falou sobre seus planos para a área urbana do Rio de Janeiro e em como esse setor pode ser fortalecido. Ele citou a importância de se revitalizar o Jardim de Alah, na divisa entre os bairros de Ipanema e Leblon, como área de encontros e produção de comércio. Na visão de Paulo, esse espaço também seria importante para as comunidades em volta da Zona Sul, como por exemplo a Rocinha.
“A Zona Sul do Rio de Janeiro é cercada de favelas. Se você beneficia a Zona Sul, você está beneficiando as comunidades […] É isso que tem que fazer. Revitalizar uma área nobre daquela como a do Jardim de Alah e entregar na mão da iniciativa privada, para que, com o dinheiro privado fazer com que ali se torne uma importante área de lazer e com qualidade de vida para a população. Deixa aquilo do jeito que está por quatro anos. Aí o Crivella quer ser prefeito de novo? Não dá. Volta para casa, volta para a igreja. Vai pregar um pouco”, disse.
Cedae
Quando questionado sobre os problemas envolvendo a Cedae do fornecimento de água suja a população, que ainda não teve um capítulo final e continua acontecendo, ele diz que tudo na empresa seria melhor se ela já estivesse sido privatizada, algo que ele defende que aconteça.
“No meu ponto de vista a Cedae já devia ter sido privatizada há muito tempo. É uma empresa que já está pronta para isso. Ela só não foi privatizada pelos motivos errados. Desde a época lá do Cabral, presidente da Assembleia, e do Marcelo Alencar governador, que queria privatizar e o Cabral não deixou e brigou com ele porque não queria. É sempre pelos motivos errados. Eles querem transformar essa privatização num negócio. Por isso que não sai. Se essa empresa já estivesse sido privatizada ela já estaria em outro patamar de qualidade e serviço para a população”, disse.
A aliança de Crivella com os Bolsonaro
Paulo também falou sobre o ajuntamento de Crivella com a família Bolsonaro. Ele diz que essa é a última tentativa do atual prefeito de se reeleger, mas que pode não dar certo. Além disso, o pré-candidato também afirmou que ‘Crivella é carta fora do baralho’ e que não ganha essas eleições.
“Essa última tentativa do Crivella de buscar a genitora do 01,02 e 03 (se referindo a mãe dos três filhos de Bolsonaro, Eduardo, Carlos e Flávio) para ser candidata a vice, foi a última cartada que ele deu para tentar sobreviver nessa eleição. Ele está com os dias contados. Crivella não será prefeito a partir de janeiro do ano que vem. O Crivella é carta fora desse jogo. Ele não conseguiu eleger o filho como deputado federal com o mesmo nome dele, Marcelo Crivella Filho. Como vai me dizer que agora o Crivella vai ganhar?”, comentou o pré-candidato.
O pré-candidato também disse que, por mais que haja essa tentativa de trazer os Bolsonaro para perto, não é algo que surtirá efeitos. Pelo menos não se o presidente Bolsonaro não der a autorização.
“Eles não são de dar carona. O apoio dos filhos não soma nada para o Crivella. Não soma nada. O apoio da ex-mulher dele também não soma nada. Ou o capitão (Bolsonaro) assina em baixo, ou então é tudo mímica. Não adianta o Flávio, o Carlos, o Eduardo, a mãe deles quererem ser parte do projeto do Crivella achando que isso vai dar vitória a ele, porque não vai dar. Pode esquecer. Ou o capitão vem pra cá e assume essa candidatura, ou então esquece o Crivella. E se o capitão vier também não vai levar. É duro carregar o Crivella. Pesa demais, toneladas. E o capitão não dar carona ao Crivella. Isso é uma ilusão do Crivella”, disse ele.
União a outra campanha por candidatura
Paulo foi questionado sobre a possibilidade do PSDB se aliar a alguma outra campanha de outro candidato, como por exemplo a do ex-prefeito Eduardo Paes, que vai tentar voltar ao cargo esse ano. Sobre isso, ele respondeu:
“É obvio que tem. Eu disse isso no primeiro dia que assumi o PSDB. Sabe o que deu a vitória ao Crivella? Foi o Osório, o Índio e o Pedro Paulo. Três candidaturas que tinham origem no mesmo seguimento político, e essa divisão que aconteceu nessas três candidaturas que deu a vitória ao Crivella […] Eu não tenho nenhum problema de sentar por exemplo com o Hugo Leal, com o governador Witzel, com o Eduardo Paes. Todo mundo que estiver nesse jogo político pra valer, afim de construir um projeto para a cidade eu sou totalmente a favor”, disse.
O perfil do novo prefeito
Paulo diz que o novo prefeito que o novo prefeito do Rio de Janeiro será aquele que conseguirá falar com todas as forças políticas e prol de melhorias para a cidade.
“Quem vai ganhar é o candidato que unir as forças políticas do Rio de Janeiro, que precisam se unir em torno de um nome que possa representar a salvação do Rio de Janeiro. E essa força política tem que governar junto com os outros partidos. Os partidos de centro e de direita tem que se unir para encontrar um nome que represente um projeto político sério de salvação. Se essa escolha do próximo prefeito do Rio de Janeiro não for uma escolha acertada, o preço que a população da Cidade do Rio vai pagar nos próximos quatro anos é imenso”, disse.
Prefeito Bruno Covas também acompanhou a entrevista
Durante a Live com Tadeu Vieira, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, comentou e parabenizou o pré-candidato pela entrevista. Os dois, tanto Tadeu, quanto Paulo, também o parabenizaram pelo trabalho que ele vem fazendo em meio a pandemia e também em meio ao seu tratamento contra um câncer.
“O Bruno é nota dez. Ele pra mim é uma inspiração. Vamos governar o Rio de Janeiro com base naquilo que ele vem fazendo lá em São Paulo”, disse Paulo Marinho.
A entrevista foi relizada e está disponível no Instagram do Tadeu Vieira: https://www.instagram.com/tadeuvieira.rio/