Jornal Povo

Sangue congelado e paciência como estratégia: Flamengo sai do “modo avião” e conduz negociação com Jesus

“Gelo no sangue”. Virou bordão, meme, já passou a ser clichê utilizar, mas, acima de tudo, é o modus operandi do Flamengo para negociações. E com Jorge Jesus não é diferente. Duas semanas após a volta do treinador ao Brasil, o clube intensifica as conversas, mas sem pressa por uma solução. O otimismo é proporcional ao tempo que corre na ampulheta de 36 dias até o fim do contrato atual.

A estratégia é similar que foi utilizada na negociação com Inter de Milão e Gabigol pela continuidade do atacante. Na ocasião, o Flamengo deixou claro que o acerto dependia muito mais do desejo do artilheiro do que dos esforços que o clube faria, e deixou o relógio rolar. Marcos Braz e Bruno Spindel têm postura similar com Jorge Jesus.

– Todos os esforços serão feitos de novo. O presidente Landim autorizou, estamos conversando com calma, mas aconteceu essa situação do mundo. O Euro vai para mais de R$ 6. Isso é um fator ruim. Estamos analisando várias situações.

“Vamos fazer a nossa parte, mas não depende só do Flamengo. Dependemos também do Jorge entender o momento”, enfatizou Braz em entrevista à FlaTV no dia 25 de abril.

Depois de mais de um mês em “modo avião”, as tratativas entre os dirigentes e Bruno Macedo, português que representa o Mister, voltaram ao fluxo normal. Desde o dia 1º de maio no Rio de Janeiro, Jorge Jesus até monitora a situação, conversa com os dois lados, mas prefere canalizar suas atenções na programação para volta aos treinos.

As conversas que tiveram início em março ficaram para trás. Valores e tempo de contrato estão sendo reavaliados e um ponto determinante para o acerto está na cotação do euro. A moeda vale quase R$ 2 a mais do que na época do primeiro contrato (R$ 6,32 nesta sexta-feira).

No primeiro contrato, um dos gatilhos utilizados para convencer JJ a dirigir o Flamengo mesmo por um valor abaixo do mercado europeu foi a premiação por títulos. O português recebeu mais de R$ 15 milhões pelas conquistas da Libertadores e do Brasileirão, além de um valor pomposo também para comissão técnica.

Marcos Braz e Bruno Spindel negociam com Bruno Macedo, representante do Mister — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Marcos Braz e Bruno Spindel negociam com Bruno Macedo, representante do Mister — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Desta vez, a ideia era de que a valorização viesse com aumento considerável do salário, mas os impactos da crise mundial pela pandemia do coronavírus fizeram com que as partes reavaliassem a situação. Uma nova cláusula com recompensa por conquistas está sendo discutida e surge como alternativa para a diferença de quase 20% entre o que o Mister deseja com sua comissão e o que o Flamengo se propõe a pagar.

O contrato atual de Jorge Jesus vai até o dia 20 de junho, e o Flamengo tem algo bem definido em sua condução da negociação: não vai colocar a faca no pescoço por uma resposta imediata. Ciente de que não há como competir com um assédio de um grande europeu, o clube mantém a tranquilidade e confia no bom relacionamento para que o final seja feliz em condições normais (ou seja, sem que um gigante do Velho Continente entre na disputa).

O Flamengo deseja que o novo vínculo seja até o fim do mandato de Rodolfo Landim (dezembro de 2021) e não se opõe a gatilhos que permitam uma ruptura amigável em caso de boas propostas. Por outro lado, o clube está flexível se o Mister desejar um período menor para o contrato.

Gelo no sangue virou sinônimo de paciência. E, seja meme ou clichê, é a forma que o Flamengo tem conduzido suas negociações. Tem dado certo.

Fonte: GloboEsporte