Um homem, de 30 anos, com sintomas de coronavírus, ficou preso dentro de uma viatura da Polícia Militar por pelo menos 24 horas em frente à 146ª Delegacia de Polícia, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
O suspeito foi preso por tráfico de drogas no conjunto de casas populares do Parque Aldeia, na tarde desta quinta-feira (14) e apresentava febre quando foi detido.
Segundo um parente do preso, o suspeito foi levado pela polícia para o Hospital Ferreira Machado, mas não foi atendido.
Ainda de acordo com o parente, a polícia levou o homem ao hospital da Beneficência Portuguesa, onde funciona o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus mas, ao chegarem ao local, foram informados que não havia o teste rápido para Covid-19.
Sem o atendimento, os policiais militares voltaram com a viatura para o pátio da Delegacia de Guarus, onde o homem permaneceu detido. De acordo com a família, o homem chegou a ter que fazer as necessidades fisiológicas ao lado da viatura.
“Hoje eu fiquei me sentindo como se eu tivesse botado um cachorro no mundo. Certo ou errado, o lugar dele era lá dentro (da delegacia) até o juiz tomar uma decisão”, disse a mãe do suspeito.
A mãe disse ainda que o homem tem problemas respiratórios.
“Ele tem bronquite asmática, está com febre, está gripado. Eu tenho aqui o papel da Beneficência. Ele precisa ficar isolado, precisa de medicamentos, e ele está a noite toda naquela situação ali. Na chuva e na friagem”, disse.
O delegado titular da 146 ªDP, Pedro Emílio, disse que o problema foi que a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) modificou as normas para a entrada de detentos na unidade e não quis receber o preso porque ele estava com mais de 37,5 graus de febre.
‘’Em determinação de nossa administração superior, não podemos receber o preso, tendo em vista medidas de Direitos Humanos, e total falta de condições de que aqui na Delegacia manter esse preso custodiado, já que não temos cama, alimentação, banheiro e nem nada do tipo. Então, ele permaneceu desde ontem sob custódia da Polícia Militar, e hoje, foi expedido um novo alvará de soltura e será agora liberado”, explicou.
Ainda de acordo com o delegado, no dia anterior, outro preso também passou pela mesma situação até que saísse uma decisão da Justiça, já que a polícia não pode mais manter suspeitos encarcerados por medidas de prevenção.
O delegado disse ainda que, através da promotoria de tutela coletiva, já foi realizada uma representação para que sejam tomadas providências no sentido de orientá-los para onde devem levar os presos para que eles possam permanecer dentro de condições dignas
Sobre a falta de testes na unidade de saúde, a Prefeitura de Campos disse que a informação não procede.
“O paciente em questão foi atendido pela equipe do Centro de Controle e Combate ao Covid-19 e não apresentava quadro clínico para a realização de teste. O município de Campos faz a testagem para Covid-19 de acordo com as normativas do Ministério da Saúde. Para a realização do teste, são levados em consideração o estado de saúde dos pacientes sintomáticos (moderados e graves) e o tempo do surgimentos dos sintomas para definir qual exame (PCR e teste rápido) será feito. De acordo com o protocolo de atendimento, o Hospital Ferreira Machado (HFM) recebe pacientes da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro para tratamento na área de traumatologia. Qualquer outro atendimento inicial deve ser direcionado à UPA, já que trata-se de instituição estadual”, diz a nota da Prefeitura.
A Polícia Militar esclareceu que “o referido preso, detido em posse de material entorpecente a ser comercializado, apresentou alta de temperatura corporal e foi encaminhado ao Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência para atendimento médico. Posteriormente, o preso permaneceu acompanhado por policiais militares em uma viatura da corporação durante os trâmites de registro do caso. Os Secretários de Estado da Polícia Militar, da Polícia Civil e de Administração Penitenciária já estão em contato com vistas a uma solução sobre situações peculiares dessa esfera”.
A Seap destacou que é uma medida de praxe e que antes de entrar no sistema prisional, principalmente, neste período de pandemia, o preso precisa passar por uma avaliação médica e cada caso é avaliado particularmente e que talvez por isso houve burocracia.
Fonte: G1