Escutas telefônicas da operação que prendeu membros da Secretaria da Saúde mostram um homem que segundo o MP é integrante do esquema criminoso citando o governador do Rio. Quem menciona Wilson Witzel é o operador financeiro de Mário Peixoto, Luiz Roberto Martins. O governador nega que cometeu qualquer ilegalidade.
O operador diz a um interlocutor que o empresário negociou a liberação de uma organização social (OS) com o governador. A organização social Instituto Unir Saúde fechou vários contratos com a secretaria de saúde entre os anos de 2018 e 2019 até ser desqualificada como OS pelo estado em outubro de 2019.
Segundo as investigações da Operação Favorito, a OS movimentou mais de R$ 180 milhões em contratos de gestões de Upas na Baixada. Ainda de acordo com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, o empresário Mário Peixoto e seu operador financeiro Luiz Roberto Martins, ambos presos na semana passada, são os verdadeiros donos da OS e efetivamente promoveram negociação espúria com funcionários públicos estaduais.
Em ligação telefônica interceptada com autorização da Justiça no dia 20 de março deste ano, Luiz Roberto Martins anuncia a uma outra pessoa reclassificação da Unir. Segundo o operador financeiro de Mário Peixoto, o empresário teria acertado diretamente com o governador e que ele estaria comprando essa reclassificação de uma outra pessoa.
“Diz o Mário que foi ele que acertou junto com o governador. Mas não publicou ainda. Eu estava comprando isso de um outro cara”, disse o operador para uma outra pessoa durante uma ligação.
Na conversa, Luiz Roberto Martins chegou a mostrar seu entusiasmo com o retorno da Unir para administração das Upas na Baixada.
“As quatro de Nova Iguaçu não têm segundo colocado. Então está com contrato emergencial ainda. Se revogar e publicar a revogação tem que republicar o resultado do edital. Aí é nossa, p*. Mesquita, Queimados, Botafogo e Campos”, acrescentou o operador.
Para os investigadores, o grupo criminoso de Mário Peixoto pagou propina para funcionário público estadual ainda não identificado para obter o ato administrativo de revogação da desqualificação da OS, publicado no dia 23 de março.
Três dias depois do telefonema, a OS Instituto Unir Saúde foi reclassificado, podendo voltar a fechar contratos com o poder público. Segundo o MPF, a decisão não teve qualquer justificativa técnica.
Nesta segunda-feira (18), o jornal O Globo revelou que o governador Wilson Witzel ignorou pareceres jurídicos contra a OS Unir. Segundo a reportagem, em janeiro, a comissão de acompanhamento e fiscalização dos contratos de gestão da Secretaria da Casa Civil encontrou “numerosas e consideráveis irregularidades na atuação da OS Unir, principalmente, em relação à transparência nas informações prestadas, que impossibilitam a análise da aplicação dos recursos obtidos.
Luiz Roberto Martins foi preso na última semana em sua casa, em Vassouras, no Sul do estado. No local, a Polícia Federal encontrou R$ 1,5 milhão em espécie.
O que dizem os citados
O governo do estado disse que todos os contratos celebrados com as empresas envolvidas nas denúncias estão sendo auditados pela Controladoria Geral do Estado, para verificar possíveis ilegalidades e danos aos cofres públicos.
O governo também informou que estão sendo feitos cruzamentos de contratos sociais das empresas para identificar conluios entre elas e os sócios, e que, enquanto durar a auditoria da controladoria, todos os pagamentos aos fornecedores fiscalizados estão suspensos e que esses contratos podem ser cancelados se forem encontradas irregularidades.
Ainda segundo o governo, Wilson Witzel desqualificou o Instituto Unir Saúde num despacho publicado em edição extra do diário oficial.
O advogado de Luiz Roberto Martins informou que só vai se manifestar depois de analisar todos os autos do processo.
Fonte: G1