RIO – O professor universitário Mamour Sop Ndiaye, de 45 anos, disse, nesta quinta-feira, que estuda acionar judicialmente o Colégio Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, e colegas de sua filha, Ndeye Fatou Ndiaye, de 15, que a ofenderam com mensagens racistas num grupo de WhatsApp, como revelou o jornalista Ancelmo Gois. Mamour disse que não deixará mais que a adolescente frequente as aulas on-line e decidiu tirá-la do colégio.
– Não quero deixá-la naquele ambiente. Minha filha quer fazer Medicina, um dos cursos mais concorridos. E ela não está podendo estudar por causa do racismo. Agora, está no seu quarto, procurando conteúdo na internet, para se manter atualizada – disse Mamour.
A 9ª DP (Catete) fez um registro de ocorrência sobre o caso. A Polícia Civil informou que “diligências estão em andamento”. Mamour e a filha foram chamados para prestar depoimento na delegacia na tarde desta quinta.
A filha mais nova do professor, de 8 anos, estuda no Colégio Franco-Brasileiro. Ela ainda está participando das aulas on-line, mas a ideia do pai é também tirá-la da instituição:
– Como é mais novinha, ela é mais apegada aos coleguinhas. Mas já estou conversando com ela para prepará-la.
Mamour contou que desde de que o caso foi divulgado, ele e a família vêm recebendo muito apoio.
– Somos muito acolhidos, tanto nas redes sociais quanto nas ruas. O Brasil tem isso: para cada pessoa que faz o mal, existem dez para fazer o bem – disse.
Com relação aos pais dos estudantes responsáveis pelas ofensas racistas, ele contou que não foi procurado por nenhum deles:
– Um dos colegas procurou a minha filha, mas a orientei a não responder.
As ofensas
“Dou dois índios por um africano”, “quanto mais preto, mais preju”, “fede a chorume”. Essas foram algumas das mensagens racistas escritas no grupo de WhatsApp para se referir a Fatou. O episódio criminoso repercutiu nas redes sociais e artistas como Taís Araújo e Iza manifestaram solidariedade à adolescente.
Os autores das mensagens fazem, ainda, uma série de declarações racistas comparando negros a objetos comercializáveis. Um deles chega a dizer que “venderia” a colega em um site de negócios quando ela completasse 18 anos, “que aí vale mais”. Um dos adolescentes também sugere pintar duas outras colegas de marrom e comprá-las, ao que outro responde: “quando a gente usar demais, a gente vende na OLX”.
A jovem, que entrou no colégio aos 5 anos, contou que descobriu as mensagens através de um amigo que participava do grupo onde elas foram enviadas. Após sair da conversa, o rapaz tirou fotos e encaminhou para a menina.
O que diz o colégio
O GLOBO encaminhou um novo pedido de posicionamento ao Colégio Franco-Brasileiro sobre as declarações dadas nesta quinta-feira por Mamour Sop Ndiaye. A instituição não havia se pronunciado até o momento de publicação desta reportagem.
Nesta quarta-feira, o colégio divulgou uma nota de repúdio ao crime e informou que está “analisando todos os fatos para que sejam tomadas as devidas providências.” A instituição também disse que os membros da equipe pedagógica estão “profundamente indignados com o ocorrido”, e afirmou que “o Colégio Franco-Brasileiro repudia, de forma veemente, toda forma de racismo.”
Leia a nota abaixo, na íntegra:
“Prezada Comunidade Escolar,
Tomamos ciência hoje de um fato ocorrido envolvendo alunos da 1ª série do Ensino Médio do Colégio Franco-Brasileiro, em conversas de um grupo de WhatsApp formado pelos próprios alunos. Nessas conversas, foram constatadas atitudes extremamente racistas.
Estamos profundamente indignados com o ocorrido e reiteramos que o Colégio Franco-Brasileiro repudia, de forma veemente, toda forma de racismo.
O ato de discriminar agride os Direitos Humanos e o princípio da dignidade da pessoa humana. É nossa responsabilidade enfrentar o racismo nos diferentes espaços que ocupamos, incluindo os ambientes virtuais.
Em nossa proposta pedagógica, destacamos que: “educamos para a democracia e não para o autoritarismo, para a igualdade de gênero e não para o sexismo, para o pluralismo econômico e não para o dogmatismo, para a diversidade cultural e não para o etnocentrismo, para a igualdade racial e não para o racismo, para a liberdade religiosa e não para o fanatismo. Estamos analisando todos os fatos para que as devidas providências sejam tomadas.
O colégio ressalta ainda que os alunos não estão participando das atividades pedagógicas e que as próximas ações relacionadas ao ocorrido só serão tomadas após a apuração dos fatos pelas autoridades.”
Já empresa OLX, que foi mencionada pelos jovens, afirmou, em nota, que repudia qualquer forma de discriminação. Confira a íntegra abaixo.
“A OLX repudia qualquer tipo de discriminação e se solidariza com a estudante, reforçando que faz parte do DNA da empresa apoiar e incluir a diversidade.”
Fonte: O Globo