Jornal Povo

Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo, quer ser prefeito do Rio

O ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, é mais um dos que estão na disputa pela cadeira da prefeitura do Rio. Ele, que também atuou mais de 30 anos no BNDES, espera aplicar sua experiência enquanto esteve à frente Mais Querido na gestão municipal, caso seja eleito. Em entrevista ao empresário Tadeu Vieira através de uma rede social, Bandeira falou sobre Flamengo e como chegou a decisão de virar pré-candidato a prefeito.

Ele começou falando sobre as acusações feitas ao Flamengo e seus ex-patrocinadores enquanto era presidente do clube e depois que saiu também. Na ocasião em que era presidente, empresas automobilísticas como Peugeot, FIAT e JEEP (fabricada pela FIAT), teriam fechado contratos bilionários com o Flamengo. Tudo de maneira incorreta pelo BNDES. A Pegeout, por exemplo quando patrocinou o time, teve R$ 154 liberados pelo banco. Outra empresa que teria sido financiada indevidamente pelo BNDES foi a Carabao, fabricante de energéticos, que rompeu contrato com o clube em 2018. Sobre essas acusações, Bandeira de Melo diz que são especulações e que o BNDES não fez transações suspeitas com nenhum patrocinador durante e depois de suas gestões, tanto no banco, quanto no Flamengo.

“Eu não estava mais no BNDES quando conheci a Carabao e ela veio a ser patrocinadora do Flamengo. Com quase 99% de certeza eu diria que o BNDES não financiou a Carabao. Se por acaso financiou foi através de um agente financeiro com risco zero para o BNDES. Então eu chutaria aqui que não houve nada disso. De vez enquando surgem essas coisas e eu entendo, porque as pessoas não entendem muito como funciona o BNDES. Tem um jornalista aí que colocou de maneira irresponsável que alguns patrocinadores do Flamengo tinham sido apoiados pelo BNDES, que isso foi uma jogada… Quase todas empresas brasileiras, direta ou indiretamente, são ligadas ao BNDES. Quem fala um absurdo desse é porque não conhece os processos de decisão do BNDES”, disse ele.

Ele continua dizendo:

 “Nenhum desses ex-patrocinadores do Flamengo, se por acaso eles passaram pelo BNDES, eu não participei de nenhuma operação, nem na equipe de análise, nem no comitê 1 e no comitê 2. Então, realmente quem fala isso não me conhece e não conhece o BNDES”.

Sem intenção de voltar para o Flamengo

Bandeira foi perguntado se haveria a possibilidade de um dia voltar a ser presidente do Flamengo e respondeu que não a menor intenção disso, mesmo que hajam muitos pedidos de torcedores que pedem o seu retorno a administração do clube.  Ele conta que nos seis anos que esteve à frente do rubro-negro fez o que pode para exercer uma boa gestão.

“Agradeço a todo mundo que me pede para voltar. Eu passei seis anos lá, foram dois mandatos. Fiz o melhor que eu pude, e se não foi o melhor, não foi por falta de sacrifício, de esforço. Acho dei a minha contribuição e agora é hora que outros assumam esse encargo. Meu lugar agora é na arquibancada.  E foi para onde eu fui mesmo: Leste superior”, disse.

‘Acho que é muito cedo’,  diz ele sobre reabertura dos clubes

Bandeira de Mello criticou a decisão da Federação de futebol do Estado do Rio de Janeiro, a Ferj, ter autorizado reabertura dos clubes no início do mês. O Flamengo, inclusive, realizou treinos na última quarta-feira (20) no Ninho do Urubu, com parte do elenco. O prefeito Marcelo Crivella havia dito que só era permitido o funcionamento dos setores de fisioterapia dos clubes, e que treinos ainda estão suspensos. Para Bandeira, ainda é muito cedo para as atividades esportivas serem retomadas.

“Acho que é muito cedo. Seria uma irresponsabilidade voltar o calendário do futebol, essa retomada do calendário do futebol agora. Nada contra planejar. Acho que pode se planejar como que vai voltar e o que vai fazer primeiro. Só pode colocar o planejamento em prática depois que você tiver a sinalização das autoridades competentes […] Qualquer forçação de barra em cima disso seria irresponsabilidade e nós não podemos fazer isso. Eu estou morrendo de saudade do futebol, mas vamos ter paciência. Vai ser bom para todo mundo depois que virarmos essa página.

A pré-candidatura

Bandeira de Mello conta que a ideia de entrar para a disputa da prefeitura se deu em razão de pessoas o procurarem dando exemplos de como ele conduziu o Flamengo ao longo dos seis anos a presidência do clube, e que pode fazer a mesma coisa à frente da gestão municipal.

 “O início dessa história [sua pré-candidatura] foram as pessoas me procurando e tentando fazer essa analogia: Se houve uma recuperação do Flamengo, por que não tentar a mesma coisa na prefeitura. E aí comparam o Flamengo de 2012 com a prefeitura de agora. Nisso eu realmente não quero entrar, mas o início da formulação desse plano passa efetivamente por aí: Pela recuperação do Flamengo”, disse. “A analogia que fizeram foi em cima disso [presidência do Flamengo] e até do meu passado no BNDES também, porque durante algum tempo eu fui responsável pelo financiamento aos municípios, então eu já conhecia a administração municipal do outro lado do balcão.

É juntar a experiência do Flamengo, do BNDES, a equipe e a credibilidade. Não adianta nada ter todos os requisitos técnicos se você não tem integridade e não se dá o respeito. É claro que isso não é privilégio apenas de nossa candidatura. Conheço vários outros candidatos que também preenchem esse requisito. Mas, estamos aí para trabalhar”, disse.

Bandeira vem pelo REDE, mesmo partido da ex-ministra do meio ambiente, Marina Silva, por quem ele tem grande apresso. Ele diz que a conheceu quando fazia parte do setor de planejamento ambiental do BNDES e que depois daí ficaram mais próximos. Em 2018 se filiou ao REDE e tentou uma vaga de deputado federal, mas não se elegeu. No final do ano passado, o REDE ainda não tinha um nome para disputar as eleições municipais. Ele diz que o ex-deputado Miro Teixeira o procurou para ser o nome do partido para concorrer ao pleito. Como já tinha uma história de amizade com Marina Silva e já tinha sido candidato em 2018 pela legenda, Bandeira de Melo aceitou.

“No final do ano passado, a REDE ainda não tinha se decidido sobre o que iria fazer nas eleições municipais. É um partido pequeno, não tem fundo partidário, não tem estrutura. E eles ficaram: ‘o que vamos fazer’. E aí, chegou à conclusão de que seria, por todas as razões, lançar uma candidatura própria. E o Miro Teixeira, que é nosso decano, outro exemplo dentro da REDE, cinquenta anos de congresso sem nenhuma coisa que pudesse se falar, me procurou e sugeriu que eu viesse candidato da REDE a prefeito e colocou o pacote completo: Você vem com a Andreia Gouveia Vieira, que também dispensa apresentações, uma pessoa que todo mundo respeita, dois mandados de vereadora do Rio sendo admirada por todo mundo, inclusive os adversários. Aí ele [Miro Teixeira] falou: ‘gostaria que vocês dois fossem os candidatos posso anunciar? ’

Eu tomei um susto. Disse que não estava preparado para isso. Não falei com a minha mulher, não falei com minha família. Eu disse: Vamos fazer o seguinte? Vou viajar no sábado para Doha para ver a final do campeonato mundial (jogo entre Flamengo e Liverpool) e quando eu voltar a gente conversa […] Eu viajando para Doha, sai uma pesquisa no Datafolha e eu não tinha a menor ideia de que seria contemplado nela, que meu nome faria parte da pesquisa, e eu já com uma posição ótima, com 6,7, 8%, dependendo do cenário. Aí o Miro me ligou de novo e falou: ‘Agora não tem jeito. Você será candidato’.

Quando cheguei de Doha, infelizmente sem o título, mas com uma campanha honrosa, sentei com a Andreia, tomamos um café e combinamos que iriamos encarar o desafio, apesar de todas as dificuldades. E aí efetivamente os amigos que tenho em outros partidos também me procuraram e a Andreia e claro que alguns deles levantaram a possibilidade de trocarmos de partido, mas é aquela coisa, a gente agradece e fica muito feliz com a lembrança, mas não dá para trocar. Nessas horas o coração fala mais alto”, disse.

Os problemas do Rio

O pré-candidato diz que os problemas que existem no Rio de Janeiro só serão resolvidos se que estiver a frente do poder executivo da cidade se comprometer com a gestão. Dois exemplos dados por ele foram os setores da saúde, que passa por uma série de carências e não tem capacidade de atender a população, principalmente em tempos de pandemia, e do transporte público, que também precisa ser melhorado. 

 “A saúde do Rio, independente da Pandemia, é um problema que será resolvido com gestão. No caso do transporte público, igualmente. Eu sou usuário de transporte público. Entendo perfeitamente o drama que acontece. Mas vamos focar nesse maior problema da nossa geração. Eu nunca vivi nada parecido. A impressão que eu tenho é de que vai piorar”, disse.

“Quem está bem-intencionado quer o melhor para a cidade. Não está motivado por nenhuma vaidade, nenhum interesse pessoal. Todo mundo que entrou nessa, ou quase todo mundo pelo menos, está interessado que o final disso tudo seja a consequência do Rio de Janeiro voltar a ser aquela Cidade Maravilhosa que conhecemos. Eu tenho certeza que vai dar certo”, disse.

A entrevista na íntegra está no Instagram do Tadeu Vieira: https://www.instagram.com/tadeuvieira.rio/