Jornal Povo

Mesmo sem Jair Bolsonaro, Rodrigo Amorim ainda acredita na relevância do PSL e quer ser prefeito pela legenda

Deputado estadual diz ainda ser grande amigo da família e entusiasta do presidente. Sobre Crivella, parlamentar é bem direto: ‘Prefeito omisso’.

O deputado estadual Rodrigo Amorim, do Partido Social Liberal, o PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro, disse que embora o presidente tenha escolhido seguir a caminhada fora da legenda, ele preferiu continuar nela e consolidar sua pré-candidatura a prefeito do Rio. A declaração foi dada durante uma entrevista ao empresário Tadeu Vieira em uma rede social.

O parlamentar, que teve participação ativa na campanha de Bolsonaro para a presidência em 2018 e foi um dos fortes nomes ligados a ele naquela época, falava do racha que se deu na cúpula da direita brasileira quando o presidente decidiu sair do PSL. Rodrigo Amorim diz que, embora o projeto do Partido Aliança pelo Brasil não tenha saído do papel, Bolsonaro é livre para seguir o caminho no partido que bem entender.

“A vida é como ela é. O presidente optou por uma ruptura com o partido que é muito legítima.  Agora, optei por um caminho. A partir do momento que nós vencemos a eleição defendendo certas bandeiras, era absolutamente necessário que em 2020 a gente apresentasse essa possibilidade [sua pré-candidatura a prefeito do Rio], continuasse com a defesa dessas pautas e dessas bandeiras. Então, foi fundamental a opção que eu fiz de permanecer no PSL, que foi o partido que nós fizemos o maior partido do Brasil”, disse.

Mas apesar da separação política, Rodrigo Amorim não guarda ressentimentos e diz que continua sendo um grande entusiasta de Bolsonaro e do restante da família. Ele diz ter uma ‘grande relação de amizade’ com senador Flávio Bolsonaro, que em 2016 veio como prefeito do Rio com Rodrigo Amorim e ajudou a levantar seu nome para ser um dos deputados mais votados do Rio de Janeiro. Só que a amizade com a família do presidente também não o impede de ser um entusiasta  do governador Wilson Witzel. Amorim foi um dos nomes mais ligados ao governador na época da campanha. Os dois chegaram a ter um distanciamento, mas ao que parece a relação entre os dois parece estar ajustada. 

“Eu sou um entusiasta de ambos os governos. Ganhamos essa eleição juntos. Tanto a bancada federal, quanto a bancada estadual. Em que pese problemas que aconteceram nessa relação, em que pese os eventuais equívocos por parte de qualquer das esferas de poder. É necessário que a gente mantenha um foco ali, bem sinalizado, no que diz respeito as pautas que nós defendemos e que foi justamente a pauta que a população brasileira quis”, disse ele.

E mesmo com o apoio da família Bolsonaro ao prefeito Crivella, Rodrigo Amorim é bem direto em dizer que não concorda com a união dele com a família do presidente e não deixou de fazer críticas a atual gestão municipal. Ele disse que Crivella é um prefeito omisso e que ele está indo contra aquilo que foi pregado em 2018, quando os governantes de direita ganhavam cada vez mais espaço naquele cenário político. Mas Amorim deixa bem claro que as críticas não são ao Crivella como pessoa, mas sim como gestor.

“Uma crítica não a pessoa, mas contra a gestão. Estamos vivendo em uma cidade absolutamente abandonada, um prefeito omisso, um prefeito leniente, que fez acordos políticos que ao meu ver foi tudo contrário a tudo que a gente disse em 2018. O que ele fez para se salvar dos Impeachments, por exemplo, loteando as secretarias em troca de apoio político, é totalmente contrário ao que a gente pensa. Uma cidade de serviços de péssima qualidade. E aí, ele está até agora, há quatro anos de governo, botando na conta de gestões passadas. Serviços públicos de péssima qualidade, economia aos frangalhos, vê uma austeridade de postura para a retomada do crescimento do Rio de Janeiro, inclusive nas suas vocações naturais. A gente vê uma falta de respeito com a tradição do Rio de Janeiro. Um prefeito tem que respeitar o sol, o mar e o carnaval. Esse prefeito não respeita as tradições da nossa cidade. Não estou fazendo uma ofensa no campo pessoal. Só que que o prefeito Crivella, ou melhor, o desprefeito Crivella, é o pior prefeito da história do Rio de Janeiro”, disse.

Essa discordância também se dá  pelo ponto de vista ideológico, segundo ele. Crivella foi ministro no governo Dilma, a quem foi principal alvo do PSL.

“O fato curioso, sob o ponto de vista ideológico que é algo que a gente tanto preza, o prefeito Marcelo Crivella, foi aquele ex-ministro da Dilma, do Lula, e que fez por exemplo um exemplo de exaltação Dilma Roussef, figura que foi amplamente combatida por nós. Eu não posso admitir hoje estar ao lado e de braços dados, não só pelo aspecto de gestão de ter sido o pior prefeito dessa cidade, mas por ser alguém que até dias atrás, anos atrás, estava ali como fiel escudeiro de Dilma Roussef. É totalmente antagônico com aquilo que representamos sobre o viés ideológico”, disse ele.

O caso da placa da vereadora Marielle Franco

Rodrigo Amorim protagonizou um dos episódios de maior repercussão na época das eleições de 2018. Ele quebrou a placa da rua Marielle Franco, nome que foi dado a uma rua no Rio em homenagem a vereadora do Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, assassinada em março daquele ano. Ele quebrou no meio a placa que foi colocada na rua Marechal Floriano, em frente à Câmara do Rio, e classificou na época o feito como ‘restauração a ordem’.

Deputado Estadual Rodrigo Amorim

“O episódio da placa da Marielle foi uma restauração da ordem. Eles acharam que tinham o direito em prol da causa que é absolutamente nobre, uma vereadora assassinada e o motorista Anderson assassinado, como deputado e cidadão eu exijo a elucidação deste caso, assim como exigimos saber quem mandou matar Jair Bolsonaro e a gente precisa saber quem foram os verdadeiros criminosos. Agora, não se pode em prol da causa   serem os detentores do monopólio das virtudes. Não é porque a causa é nobre que eles podem denegrir, que eles podem transgredir. Eles fizeram uma placa ao arrepio da lei, uma placa ilegal e ilegítima. Eles depredaram patrimônio público colando aquela placa por cima da placa original. Aquele gesto foi um ato de retomada da ordem contra a repressão da esquerda”, disse ele.

Mudando um pouco o teor da conversa, Rodrigo Amorim deixou de falar sobre alianças políticas e ideologia e falou sobre os principais setores no Rio que precisam de mudanças. Um desses setores é a segurança pública. Com uma visão armamentista, o pré-candidato é favorável ao porte de armas a agentes da guarda municipal enquanto atuam nas ruas. Esses agentes atualmente usam cassetetes e armas não-letais no combate à criminalidade nas ruas da cidade. Para Rodrigo, armá-los com arma de fogo seria mais eficiente.

“Eu sou favorável de transformar a guarda municipal numa polícia municipal, com autoridade e com respeito. A gente tem bravos homens e mulheres da guarda municipal que estão com moral baixa. A arma de fogo é essencial, porque é o poder de coerção e enfrentamento porque eles estão mais fortes. Eles podem ser alvejados a qualquer momento e não tem reação. Temos aqui no Rio de Janeiro as nossas polícias (militar e civil) elas usam armas de calibre quarenta. É a arma, ao meu ver, mais eficaz no enfrentamento urbano. Agora, de imediato, existem pistola 380, que é de calibre mais fraco, que para quem não tem nada, ter uma 380 hoje – e existe essa arma zerada na polícia militar fruto de um convênio entre as forças de segurança – a gente poderia imediatamente armar, que não seja na integralidade, mas boa parte dos guardas municipais. É fundamental uma guarda municipal armada”, defende o parlamentar.

Saindo da pauta segurança pública, Rodrigo Amorim também falou sobre o turismo, cultura e produção de eventos na cidade do Rio, setores que ele diz que foram abandonados pelo prefeito Marcelo Crivella e que contribuem para o giro da economia carioca.

“O Rio de Janeiro é por si só a porta da entrada do turismo no Brasil e na América Latina. A desburocratização é o principal papel. Não é possível que um produtor de eventos, ele precise de inúmeras autorizações para realizar seus eventos. A gente não pode ficar sujeito a burocracia dos órgãos públicos independente da esfera. Auto declaração é o caminho para isso. O produtor de eventos sabe a legislação que se aplica e sabe o que tem que ser feito, auto declara que está ciente da lei e vai cumprir as exigências. E der algum problema depois, tem que saber que aquilo vai cair na sua conta” , disse o parlamentar.
Deputado Estadual Rodrigo Amorim do Partido Social Liberal

“O que não faz sentido é você alimentar uma máquina burocrática, que muitas vezes se corrompe, para impedir as realizações de grandes eventos. Nós temos uma das legislações, tanto no âmbito municipal, quanto no estadual, mais modernas do mundo no sentido de obtenção de patrocínio […] Ficamos sujeitos a uma burocracia tão grande e interferência política tão grande para a obtenção desses patrocínios, que acabam inviabilizando esses eventos”, disse. 

“O Rio de Janeiro precisa de serviços públicos de qualidade. O Rio de Janeiro precisa respeitar as constituições e sobretudo dar a autoestima daqueles que são cariocas apaixonados”, disse.

A entrevista na íntegra está no Instagram do Tadeu Vieira: https://www.instagram.com/tadeuvieira.rio/