Jornal Povo

Eduardo fala em ruptura e Bolsonaro diz que há ‘algo muito grave com nossa democracia’

Brasília – O presidente Jair Bolsonaro criticou, em publicação no Twitter na noite desta quarta-feira, 27, a operação da Polícia Federal, realizada pela manhã, que fez busca e apreensão em endereços de 17 pessoas supostamente ligadas a um esquema de distribuição de notícias falsas. “Ver cidadãos de bem terem seus lares invadidos, por exercerem seu direito à liberdade de expressão, é um sinal que algo de muito grave está acontecendo com nossa democracia”, escreveu o presidente, sem citar diretamente a operação, que foi ordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito das fake news. Além das pessoas que tiveram celulares e computadores apreendidos, oito parlamentares do PSL foram convocados a depor.

Eduardo Bolsonaro diz que está chegando um ‘momento de ruptura’

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) criticou nesta quarta-feira a atuação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou mandados de busca e apreensão contra aliados do presidente Jair Bolsonaro, e Celso de Mello, responsável pela investigação da suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal (PF). O parlamentar afirmou não ter dúvida de que será alvo de uma investigação em breve e disse que participa de reuniões em que se discute “quando” acontecerá “momento de ruptura” no Brasil.

“Quando chegar ao ponto em que o presidente não tiver mais saída e for necessária uma medida enérgica, ele é que será taxado como ditador”, afirmou em uma transmissão ao vivo do blog Terça Livre, de Allan dos Santos.

Santos é um dos alvos da operação desta quarta-feira contra empresários, políticos e apoiadores de Bolsonaro investigados por divulgar notícias falsas e ameaças contra autoridades da República, como ministros do Supremo, e seus familiares. Além de Santos, a deputada Bia Kicis (PSL-SP), outra investigada pelo inquérito das fake news, também participou da transmissão, ao lado de Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, e do médico Ítalo Marsili.

Após criticar Moraes e Mello, Eduardo começa uma linha de raciocínio sobre por que pode haver uma ruptura institucional. Segundo ele, após a saída do ex-ministro Sérgio Moro do governo, o Supremo divulgou o vídeo de “uma reunião secreta” – a gravação foi citada por Moro como possível prova de que Bolsonaro interferiu na PF – e depois solicitou o “celular do presidente da República”. Ao contrário do que disse Eduardo, o Supremo não pediu o celular de Bolsonaro. PDT, PSB e PV pediram ao Supremo a apreensão dos aparelhos dentro das investigações sobre interferência política na PF. Mello, então, encaminhou a Aras os pedidos dos partidos para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) emita um parecer. O PGR deve, inclusive, se posicionar contra a apreensão dos celulares do presidente.

“Não tenho nem dúvida que amanhã vai ser na minha casa (que cumprirão mandado de busca), que se nós tivermos uma posição colaborativa (com o Supremo), vão entrar na nossa casa, dando risada. Até entendo quem tem uma postura moderada, vamos dizer, para não tentar chegar a momento de ruptura, a momento de cisão ainda maior, conflito ainda maior. Entendo essa pessoas que querem evitar esse momento de caos. Mas falando bem abertamente, opinião de Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opção de se, mas, sim, de quando isso vai ocorrer”, afirmou o parlamentar.

“E não se enganem, as pessoas discutem isso. Essas reuniões entre altas autoridades, até a própria reunião de dentro de setores políticos, eu, Bia, etc, a gente discute esse tipo de coisa porque a gente estuda história. A gente sabe que a história vai apenas se repetindo. Não foi de uma hora para outra que começou a ditadura na Venezuela, foi aos poucos.”

Eduardo repetiu o argumento usado por outros bolsonaristas, de que o inquérito das fake news é inconstitucional porque teve início por ato de ofício do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, e não contou com a participação da PGR Criminalistas ouvidos pelo Estadão, no entanto, dizem que embora não seja comum, não é ilegal que um ministro do Supremo dê início à investigação e lembraram que a prática já foi até defendida por bolsonaristas.

Em reunião com auxiliares na noite desta quarta-feira, Bolsonaro discutiu detalhes de um habeas corpus preventivo ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, para evitar que ele preste depoimento na Polícia Federal por dizer que ministros do Supremo deveriam ser presos na reunião de 22 de abril. Também está em discussão a possibilidade de se entrar com ações na Justiça contra os ministros Alexandre de Moraes e Celso de Mello por “abuso de autoridade”.

Fonte: O Dia