ATLANTA – O quarto dia consecutivo de protestos contra a morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos sufocado na última segunda-feira em Minnesota por um policial branco, recebeu uma fala pacificadora. Em um discurso, Bernice King, filha mais nova do ícone dos direitos civis Martin Luther King Jr., implorou para que as pessoas voltassem para casa depois que mais de mil manifestantes marcharam do Parque Olímpico do Centenário até o Capitólio estadual da Geórgia — sede do governo no estado —, bloqueando o tráfego e uma rodovia interestadual ao longo do caminho.
— A única maneira de conseguirmos o que realmente queremos é através da não-violência — disse Bernice King na cidade natal de seu pai. — Vamos fazer isso da maneira não violenta de lidar com o mal do nosso tempo.
As manifestações foram violentas em Atlanta. Pelo menos um carro da polícia estava entre vários veículos queimados. As janelas prédio da emissora CNN foram quebradas, junto com as fachadas das lojas. A polícia afastou a multidão, que atirou garrafas contra os policiais.
Família quer que policial seja acusado de homicídio doloso
A família de George Floyd, a quem o presidente Donald Trump relatou ter conversado, saudou a prisão do policial Derek Chauvin como um primeiro passo “no caminho da justiça”, mas a considerou “tardia e insuficiente”.
“Queremos uma acusação de homicídio doloso e queremos ver os outros policiais (implicados) presos”, disse a família em comunicado.
O policial que se ajoelhou no pescoço de Floyd foi preso e acusado de assassinato em terceiro grau, que ocorre quando um indivíduo não tem a intenção de matar, mas age com grande indiferença à vida humana, o que pode culminar na morte do outro. O crime é passível de até 25 anos de prisão.
— (O policial) Derek Chauvin foi acusado pelo Ministério Público (…) por assassinato e homicídio involuntário — disse o promotor Mike Freeman a repórteres.
Chauvin é um dos quatro policiais demitidos pela polícia após o vídeo que mostra a prisão de Floyd na segunda-feira por supostamente tentar pagar uma loja com uma nota falsa de US $ 20. O homem aparece, no vídeo, algemado e deitado na rua com o joelho do policial em seu pescoço por pelo menos cinco minutos.
Protestos se espalham pelo país
Centenas de pessoas se reuniram em várias partes do país, como em frente à Casa Branca, em Washington, mas também em Nova York, Dallas, Houston, Minneapolis, Las Vegas, Des Moines, Memphis e Portland.
Em Minneapolis, cidade de Minnesota, o toque de recolher das 20h às 6h entrou em vigor na noite de sexta-feira. A polícia lançou gás lacrimogêneo em centenas de manifestantes que desafiaram a ordem. A manifestação ocorreu ao redor de uma delegacia que havia sido queimada na noite anterior.
— Estamos aqui porque, como uma geração, percebemos que as coisas precisam mudar — disse um manifestante, Paul Selman, um negro de 25 anos que havia acabado de se formar em inglês pelo estado de Minnesota. — Precisamos de paz.
Peter McMahon, 26 anos, morador da área em torno da delegacia e dono de duas propriedades próximas, disse:
— Esta é a minha geração e essas são as pessoas com quem estudei no ensino médio. Isso não é uma surpresa. Eu perdi bons amigos.
Milhares de manifestantes invadiram o perímetro de segurança do Barclays Center em Nova York. A polícia fez dezenas de prisões na manifestação maciça de sexta-feira no Brooklyn, carregando manifestantes algemados em ônibus da cidade alinhados na Atlantic Avenue, fechando uma importante via.
Em Detroit, centenas de manifestantes aderiram à “marcha contra a brutalidade policial” no final da tarde de sexta-feira, em frente à sede da segurança pública da cidade. Algumas pessoas carregavam cartazes que diziam “Acabem com a brutalidade policial” e “Não pararei de gritar até que todos possam respirar”.
Um homem de 19 anos que protestava na cidade foi morto a tiros na noite de sexta-feira por um suspeito que chegou à manifestação em um veículo utilitário esportivo e disparou tiros contra a multidão, depois fugiu, informou a Detroit Free Press e outra mídia local. A polícia ainda não comentou sobre o caso.
Em Houston, centenas de pessoas se reuniram na sexta-feira em um protesto organizado pelo grupo Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) na prefeitura. A multidão se espalhou pela rampa de entrada da Interstate 45, perto do centro, gritando “Não consigo respirar” e “Sem justiça, sem paz”.
Fonte: O Globo