Para se livrar dos três pedidos de impeachment que foram protocolados na mesa diretora da Assembleia Legislativa (Alerj) esta semana, o governador Wilson Witzel aposta numa reforma administrativa no seu secretariado e, com isso, na restruturação de sua base no parlamento. A avaliação é que, em meio à crise política, não é preciso barrar a votação da instauração do processo de impeachment, uma vez que a decisão de levar a denúncia ao plenário cabe exclusivamente ao presidente da Alerj, André Ceciliano (PT). O importante, argumentam, é obter os votos necessários para que o afastamento temporário não seja concretizado e que o processo de impeachment não seja instaurado.
No entanto, segundo aliados de Witzel, o governador tem atualmente 35 deputados na base. Essa quantidade representa o mínimo de votos necessários para afastar a possibilidade de impeachment.
Nas mudanças, Witzel também estaria levando em consideração a exoneração de nomes que podem vir a ter problemas com a Justiça, por conta das investigações em andamento.
— O Ceciliano não é o (ex-presidente) Jorge Picciani, que tinha influência sobre 90% dos deputados. Ele tem uma tropa de seis a oito deputados e é uma pessoa querida na Casa. Mas é isso — disse um conselheiro do núcleo do governador.
Witzel, que sonha chegar à presidência da República, vê-se agora obrigado a olhar para o próprio quintal. Com isso, deputados federais, que obviamente não votam na Alerj, deverão perder indicações para cargos no governo. A redistribuição tem objetivo de recompor a base, uma vez que, após as denúncias de corrupção, alguns partidos ameaçam abandonar o barco do Palácio Guanabara, como fez quinta-feira o Republicanos, que tem quatro deputados na Assembleia.
O deputado Márcio Pacheco, do mesmo PSC do governador, entregou nesta sexta-feira o posto de líder do governo na Alerj, após Witzel exonerar os secretários da Casa Civil, André Moura (PSC), e da Fazenda, Luiz Claudio Rodrigues de Carvalho. As nomeações do procurador do estado Raul Teixeira e do economista Guilherme Mercês desagradaram à boa parte do parlamento, que viu na iniciativa de Witzel uma forma de fortalecer o secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, acusado por deputados de formular dossiês contra parlamentares.
— Tenho que olhar mais para o meu próprio mandato e cuidar da minha família… — Pacheco limitou-se a dizer.
Nesta sexta-feira, Witzel sondou Jair Bittencourt (Progressistas), vice-presidente da Alerj, para assumir a liderança do governo. Em nota enviada pela assessoria do deputado na manhã deste sábado, afirma-se que Bittencourt “não foi convidado pelo governador para assumir a liderança do governo na Alerj” e que “qualquer entendimento, sempre ocorre em conjunto com a presidência” da casa.
Nesta sexta-feira, um dia após as mudanças no secretariado, o partido NOVO protocolou um pedido de impeachment que pleiteia não só o afastamento de Witzel, mas de Lucas Tristão.
— Entendemos que ambos cometeram crime de responsabilidade. Claramente, Tristão é objeto da investigação e tem relação com as empresas do (empresário preso) Mário Peixoto — diz Chicão Bulhões (NOVO).
Procurado, Tristão respondeu: “Confio no direito e na análise isenta, pelo parlamento, dos argumentos narrados pelos deputados do NOVO. Instrumentos jurídicos devem ser utilizados sem fins eleitoreiros e mediante apresentação de provas”.
O “RJTV” mostrou nesta sexta-feira que um assessor especial de André Moura na Casa Civil recebeu R$ 100 mil do advogado de uma empresa contratada sem licitação pelo estado para prestar serviços na secretaria que Moura comandava. Procurado, Moura afirmou que “a vida pessoal e profissional privada dos servidores comissionados da assessoria técnica da Casa Civil não é de conhecimento do órgão”.
Vice-governador, Cláudio Castro afirmou, em conversa com políticos, que não gostaria de assumir o Palácio Guanabara em decorrência de um impeachment, mas que, se virasse governador, iria procurar Bolsonaro para “pacificar” a relação.
Fonte: Jornal Extra