Jornal Povo

Apesar de queda no número de atendimentos no Rio, contágio por Covid-19 ainda é alto e pico não chegou

A despeito de o percentual de contaminação ainda estar acima de dois (uma pessoa pode transmitir a doença para mais de duas), números sinalizam uma desaceleração da epidemia no estado do Rio. O presidente do sindicato que representa os hospitais privados da capital, Guilherme Jaccoud, cita redução média de cerca de dez pontos pontos percentuais na ocupação dos leitos de UTI nas unidades particulares do município. A Prefeitura do Rio fala em diminuição nos atendimentos em sua rede. E o responsável pelo sistema InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz, Marcelo Gomes, nota uma provável estabilidade dos casos da chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave, um parâmetro para monitorar o avanço da pandemia.

Mas o novo cenário não pode significar descuido em relação ao distanciamento social, alertam especialistas, sob pena de haver retrocesso. As estimativas sobre quando o estado alcançará o pico da epidemia variam, mas os médicos ouvidos pelo EXTRA são unânimes em afirmar que ele ainda não chegou na cidade como um todo. Chefe do laboratório de pesquisa do Instituto Carlos Chagas e coordenador de pesquisa em medicina intensiva do Instituto D’Or, Fernando Bozza acredita que esse patamar só foi atingido nas áreas de maior poder aquisitivo:

— Precisamos de mais informações sobre as regiões mais pobres, uma vez que temos evidências de que é onde a doença está bem prevalente, e a subnotificação é maior.

O Copa Star confirma que houve redução do número de casos de coronavírus no hospital. Uma funcionária do Hospital Vitória, na Barra, festejou no Facebook, na semana passada, o fechamento da primeira ala Covid-19. “Foram dias difíceis, mas, hoje, mediante a estabilização da curva, tivemos condições de fechar o nosso primeiro setor Covid para começarmos a voltar a realidade”, escreveu. O hospital informa que o local entrou em manutenção para receber pacientes com outras doenças.

Rede pública: fila longe de zerar

Número de profissionais contaminados preocupa - Teste de funcionário da rede municipal de saúde
Número de profissionais contaminados preocupa – Teste de funcionário da rede municipal de saúde Foto: Leo Martins

Segundo a Secretaria municipal de Saúde, a média diária de atendimentos na rede chegou a 932 na 17ª semana epidemiológica (19 a 25 de abril). De lá para cá, a pasta fala em queda para 806, 640 e 496 doentes diariamente nas semanas seguintes, a última de 10 a 16 de maio (20ª).

Quanto a leitos públicos, as filas estão longe de zerar. No estado, hospitais de campanha não foram entregues ou operam com poucos leitos. No município, o prefeito Marcelo Crivella chegou a anunciar que, até fim da semana passada, todos os 881 leitos previstos para o Ronaldo Gazolla (referência para Covid-19), em Acari, e o hospital de campanha do Riocentro estariam abertos, mas só 469 estão disponíveis. No total, a rede tem 944 leitos (221 de CTI), quando a previsão era chegar a 1.356.

E a carência de leitos não poupa alguns hospitais particulares. Charles Symington, mesmo sem plano de saúde, levou o pai, Maurício Montenove, de 67 anos, para o Hospital-Clínica Grajaú em 12 de maio. O idoso ficou em isolamento numa maca:

— Colocaram meu pai numa maca apertada, e a gente gastou quase R$ 5 mil com o hospital. A situação dele foi piorando. Colocaram oxigênio, mas ele precisava de respirador. Conseguimos uma decisão judicial ordenando transferência para UTI, mas o hospital não tinha vaga. Bati de UPA em UPA até que consegui na do Engenho de Dentro. Aluguei uma ambulância por R$ 7 mil, e, na madrugada do dia 15, conseguiu interná-lo na UPA, mas ele morreu de manhã.

Defensoria: 4 ações por dia para pedir leito

Segundo a Defensoria Pública do estado, desde o início da pandemia, o plantão noturno do órgão tem entrado, em média, com quatro pedidos de leito para Covid-19 por dia na Justiça. De 23 de março a 28 de maio, foram 175 processos, a maioria contra a rede pública e alguns contra planos de saúde ambulatoriais, que negam a internação.

— Temos verificado um significativo aumento da procura por atendimento, diante da saturação das vagas — ressalta Michele Leite, que coordena o plantão noturno da Defensoria.

O pesquisador Gabriel Vasconcelos, que integra o rupo Covid-19 Analytics, da PUC-Rio e da FGV, chama atenção para a alta curva de contágio no Estado do Rio. Nas três última medições da taxa de contágio, elas eram de 2,67, 2,83 e 2,99, nos dias 25, 26 e 27 de maio, respectivamente. Estavam acima das do Brasil (1,9, 1,89 e 1,88). A taxa média de novos casos no Rio de Janeiro está em 6,10% por dia (5,73% no Brasil). A expectativa de Vasconcelos é que chegue a 5,5%, com um total de 83.335 casos em 10 de junho:

— Estamos caminhando mas ainda não exergo o pico da pandemia.

Niterói: salões de beleza abrem com normas rígidas

A Prefeitura do Rio, que, por decreto, autorizou igrejas a realizarem cultos e missas, suspenso na sexta-feira por decisão judicial, pretende deflagrar, no início de junho, um programa de abertura em seis fases, cada uma de 15 dias, a começar por estabelecimentos comerciais com maior peso econômico e menor risco de contaminação.

— Todos os setores do comércio varejista deveriam ser autorizados a abrir, mediante regras. A venda pela internet é pouca. O que precisa ser feito é controlar o transporte coletivo. É nele que os comerciários se contraminam e não nas lojas— diz Aldo Gonçalves, presidente do SindLojas e do Clube dos Diretores Lojistas do Rio.

Em Niterói, com taxa de letalidade bem abaixo do Rio (4,3% contra 10,8%, na última quinta-feira), o programa de abertura iniciou, semana passada, a fase laranja (a terceira de cinco). Entre as novidades está a abertura de salões de beleza, obedecendo normas rígidas. Os restaurantes continuam só podendo fazer delivery, e as igrejas permanecem fechadas.

Fonte: Jornal Extra

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