Jornal Povo

Witzel ouviu deputados para preencher a vaga de Secretário de Polícia Civil

RIO — A cadeira vaga no mais alto cargo da  Secretaria de Polícia Civil, desde o último sábado, vem provocando uma movimentação na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) de grupos de olho na pasta. Uma comitiva de deputados chegou, inclusive, a agendar uma reunião com o governador Wilson Witzel (PSC), às 14h desta segunda-feira, no Palácio Guanabara, para discutir o assunto. O encontro foi marcado pelo deputado Delegado da Polícia Civil Carlos Augusto Nogueira (PSD), que irá acompanhado de colegas da Casa. O deputado chegou a ser convidado para ocupar o cargo, mas disse não ter aceitado a pretexto de que poderiam interpretar como troca por votos no provável processo de impeachment a que Witzel será submetido à Alerj. No entanto, nos bastidores, há informações de que o encontro no Palácio acontece justamente para levar o nome da delegada Patrícia Alemany, que comanda o Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD), para assumir a secretaria.

A nomeação de Alemany faria parte de um acordo para que Carlos Augusto — amigo pessoal do marido da delegada, o ex-chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro — busque votos a favor de Witzel , ou seja, contra o impeachment do governador. Acompanhando o deputado, estariam os colegas Rodrigo Amorim e Alexandre Knoploch , ambos do PSL. A notícia caiu como uma bomba em núcleos da Polícia Civil, que buscam manter independência da corporação. A gota d’água para a saída de Marcus Vinícius Braga da pasta foi justamente o fato de a Polícia Civil ter iniciado as investigações sobre a suposta fraude em licitações dos hospitais de campanha durante a pandemia, como O GLOBO publicou na semana passada.  A apuração deu origem à Operação Placebo, desencadeada pela Polícia Federal que cumpriu mandados de busca e apreensão na residência oficial do governo: Palácio Laranjeiras, mirando em Witzel. Houve um abalo na relação entre Marcus Vinícius e Witzel, que se ressentiu pelo delegado não tê-lo avisado sobre a ação.

Grupo de delegados já estão se movimentando para não aceitar a intervenção de deputados na Polícia Civil. Desde a época do ex-secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que havia um compromisso de não haver ingerência da Alerj na escolha tanto de postos-chaves da corporação, quanto de titulares para as delegacias.

Em entrevista ao GLOBO, a delegada Patrícia Alemany não negou e nem confirmou que seu nome está contado para a pasta. Segundo Alemany, ela ainda “não recebeu convite do governador”.

— Como vou dizer se vou ser secretária ou não, se não recebi um convite formal. O governador ainda não me ligou pra dizer se me chama para secretaria. Só após isso, e se isso acontecer, que teremos um posicionamento — destacou a delegada.

Como O GLOBO revelou nesse domingo, o governador convidou Carlos Augusto para assumir a pasta deixada pelo delegado Marcus Vinicius Braga, no último sábado. Entretanto, o político aceitou “participar da construção de um novo nome para a Secretaria da Polícia Civil”. Para aliados do governo e diversos delegados, essa situação é interpretada como troca de votos para o processo de impeachment, se houver. Atualmente, Carlos Augusto é líder do PSD na Alerj e a legenda conta com cinco deputados na Assembleia.

O clima na Polícia Civil é de apreensão. Um grupo de pelo menos 40 delegados se reuniu no final da tarde deste domingo e já cogita até entrar na Justiça com um mandado de segurança por desvio de finalidade, caso o deputado Carlos Augusto indique alguém para o cargo – atualmente comandado interinamente pelo delegado Flávio Marcos Amaral de Brito, que era subsecretário de Gestão da Polícia Civil.

Segundo fontes ligadas ao Palácio Guanabara, Witzel teria dito que gostaria que Flávio Brito ficasse à frente da Polícia Civil. No entanto, estaria sendo pressionado a ceder o cargo para parlamentares da Alerj em troca de votos contra a sua cassação. Já pessoas ligadas a Carlos Augusto dizem que ele vai indicar a delegada de sua estrita confiança – e que tem feito dezenas de operações nos últimos dias – para o lugar de Marcus Vinícius.

— A Polícia Civil não está à venda. Não adianta o governo ou deputados escolherem alguém para tentar limitar essa instituição bicentenária ou tentar barrar sua cassação porque isso não vai acontecer. É lamentável que a Polícia Civil seja usada como barganha nesse momento tão complicado para o estado — disse um delegado experiente ao GLOBO, que completou — Durante a gestão do secretário (Marcus Vinícius) Braga, tivemos isenção na nossa investigação e isso deve ser mantido. Não iremos aceitar ingerência na Polícia Civil. Acreditamos que o mais preparado para a vaga é o delegado Flávio Brito. Ele é técnico, sóbrio em suas decisões, ético e intelectualmente preparado para o cargo.  — pontuou o policial.

De acordo com diversos policiais, caso haja indicação de um delegado feito pela Alerj, todos os cargos de departamentos ficarão vazios. Segundo esses agentes, eles não aceitarão em represália.

Witzel tenta se aproximar da Alerj

A relação de Witzel com a Alerj também sofreu abalos em meio às denúncias: na sexta-feira, o líder do governo na Casa, deputado Márcio Pacheco (PSC), e o vice-líder, Rodrigo Bacelar (SDD), entregaram seus cargos. Nesta terça-feira, a Casa instalará a Comissão Estadual de Saúde para investigar e pedir documentos ao MP sobre a Operação Favorito, deflagrada pela Polícia Federal. A presidente deve ser a delegada Martha Rocha (PDT) e um dos sete titulares o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), que vem levantando dados sobre as compras na Saúde.

— Se isso acontecer (de Witzel dar a Polícia Civil em troca de votos), haverá uma crise institucional muito grande na polícia — afirmou outro delegado.

Fonte: O Globo

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