Jornal Povo

Bolsonaro aprendeu a omitir dados de doença com a ditadura militar

Bolsonaro não existe. Depois de “é só uma gripezinha”, “isso é histeria da imprensa” e “E daí, quer que eu faça o que? Eu não sou coveiro”, ele agora ordenou ao seu subordinado do ministério da saúde a omitir os reais dados do coronavírus no Brasil. Mas esse tipo de atitude o país já viu antes, e adivinhem só? Na época da ditadura militar, quando o país enfrentou um terrível surto de meningite, em São Paulo. Bolsonaro resolveu reciclar esse método de omissão nos dias atuais para tentar passar à população justamente aquilo que ele tanto quer: Uma falsa sensação de que está tudo bem. Mas não está.

No início dos anos 70 os presidentes do golpe militar foram Emílio Médici e Ernesto Giesel. Nessa época, entre os anos de 1971 e 1975 nós enfrentamos uma epidemia de meningite com dois subtipos: A do tipo C (abril de 1971) e a do tipo A (maio de 1974). Escolas fechadas, eventos suspensos e a transferência dos Jogos Olimpicos de 1975 que seria no estado de São Paulo, mas foram transferidos para a cidade do México, foram acontecimentos marcantes daquele surto que assolava o Brasil. Para se ter uma ideia, em 1975, 411 morreram de meningite. E não parou por aí. No início daquele ano o número de casos foi seis vezes maior do que no início do ano anterior, 1974, de acordo com dados do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. O maior número de óbitos foi observado em 1975, quando foram registrados 411, média de 1,15 ao dia.

Mesmo com todo esse estrago que a meningite fez, os governantes quiseram deixar tudo por baixo dos panos. E mais uma vez caiu na conta dos mais pobres. A desculpa era que a imprensa não podia publicar notícias sobre o surto da doença porque “causaria pânico na população”. Por conta disso, reportagens que falavam sobre a meningite foram censuradas. Foram anos escondendo a doença e tentando fazer parecer que estava tudo bem. Os especialistas até tentavam atualizar e divulgar os dados com o número de casos, só que eram impedidos.

Só em 1974 que tudo veio a público de fato, mas já era tarde demais.  O número de casos já havia explodido. Quando a população ficou sabendo do que estava acontecendo entrou em desespero. Nada era dito para ninguém. Foi quando, aí sim, o governo Giesel se viu a tomar medidas mais austeras. Mas demorou um ano para o governo montar um plano para vacinar 10 milhões de pessoas em apenas quatro dias. Só depois da campanha, que aconteceu em 1975, as coisas voltaram ao normal. E mesmo assim demorou dois anos para isso acontecer, em 1977.

O surto de meningite começou na periferia de São Paulo, em Santo Amaro, e depois foi para a região metropolitana. Imagina se aquelas pessoas soubessem o quanto antes da doença? Acredito que tudo seria diferente.

Hoje vemos posturas não muito diferentes. O Ministério da Saúde divulga o balanço dos casos de Covid-19 no final da noite. No início da pandemia, quando Bolsonaro ainda não tinha cismado com o ex-ministro Mandetta, havia coletiva e por volta de 17h já tínhamos o balanço do dia. Mas Mandetta ofuscou a luz de Bolsonaro e o ego dele falou mais alto, fazendo com que Mandetta fosse demitido.   Aliás, o general Ernesto Geisel quando assumiu a presidência, em março de 1974 nomeou um sanitarista para o cargo de ministro da saúde. Era Paulo de Almeida Machado, que assim como Mandetta, alertou ele e todo o governo sobre a epidemia de meningite que o Brasil enfrentaria. Ele bem que tentou falar isso em entrevista a VEJA naquela época, mas a reportagem foi censurada.

Os casos de meningite tiveram aumento no governo de Giesel-foto reprodução-internet

Bolsonaro hoje tenta a todo custo minimizar a situação crítica que o país passa. A culpa é da imprensa, do papagaio, do cachorro e do periquito. Mas nunca daquele que a população confiou o voto para fazer algo de melhor por ela nesses quatro anos. Aparecer em manifestação abraçando as pessoas desrespeitando medidas de isolamento, Omitir dados sobre o coronavírus, tirar informações do site do ar na calada da madrugada e pressionar governadores e prefeitos a retomarem a normalidade nas cidades e estados é algo preocupante. Fora o fato de não ter uma pessoa que realmente entenda de saúde a frente do ministério da saúde. Mas, vendo tudo isso que aconteceu com o Brasil no surto de meningite no período militar, dá para entender o modelo de governo que Bolsonaro se inspira. Acho que foi por isso que ele homenageou Carlos Brilhante Ustra quando votou sim no impeachment de Dilma. Somos o espelho de quem admiramos.

Que Deus salve essa nação.