Jornal Povo

Ministro Ramos pretende passar para a reserva do Exército

BRASÍLIA – General quatro estrelas do Exército ainda na ativa, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, quer aposentar a farda, migrando para a reserva. Há cerca de um mês, Ramos vem conversando com o presidente Jair Bolsonaro sobre o desejo de passar para a reserva do Exército e se dedicar mais à articulação política do governo, pela qual negocia com partidos políticos.

A ideia de mudar o status no Exército se fortaleceu após as manifestações de 17 de maio, quando, ao lado de outros ministros, subiu a rampa do Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro. Naquele momento, Ramos sentiu o peso e a pressão de ainda representar a caserna, apesar de evitar usar fardas desde que assumiu a cadeira de ministro. A informação de que pretende passar para a reserva foi publicada pelo colunista Merval Pereira, O GLOBO, e também pela Revista “Veja”.    

Militarmente estratégico, Ramos tem dito a interlocutores que, quando aceitou o convite em meados do ano passado para substituir o também general Carlos Alberto dos Santos Cruz na Secretaria de Governo, planejava ficar no posto apenas até julho deste ano. Esperava então assumir o Comando Militar do Leste (CML), sediado no Rio de Janeiro, seu Estado natal. Esta seria, segundo aliados do ministro, a realização de um sonho antigo para encerrar sua carreira no Exército. 

O rearranjo se daria porque, em julho, vagaria o cargo do atual comandante Júlio Cesar de Arruda, que assumiu o CML no lugar do general Walter Braga Netto, hoje chefe da Casa Civil. Quando assumiu a Secretaria de Governo, Ramos deixou o Comando Militar do Sudeste, que fica em São Paulo, posto considerado um dos mais importantes no Exército. A aliados, o ministro descarta qualquer possibilidade de “furar a fila” para assumir o Comando do Exército, posto de Edson Pujol.  

Articulação política e centrão

Antes de cogitar a aposentadoria, Ramos sondou como estava o clima do Exército para uma eventual retomada para a ativa, caso deixasse de ser ministro de Bolsonaro, segundo o GLOBO apurou. A avaliação de ex-colegas ajudou a fortalecer a ideia de que é hora de pendurar a farda. Na caserna, segundo aliados de Ramos, há preocupação se os colegas da carreira militar teriam o mesmo respeito por um comandante que retornou às Forças Armadas após deixar o governo. 

Desde julho de 2019, Ramos comanda a articulação política do governo, conversando assiduamente com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e mais recentemente em linha direta com os presidentes dos partidos políticos. Em fevereiro, após uma apresentação que fez ao presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, Ramos conseguiu convencer Bolsonaro a negociar cargos diretamente com presidentes e líderes partidários. No início do governo, Bolsonaro tentou construir, sem sucesso, uma relação por bancadas temáticas. 

Onze meses no cargo e detentor de um sistema qual monitora o resultado de todas as votações do Congresso, o ministro conseguiu fazer um filtro para avaliar quem é merecedor de conquistar cargos no governo e há dois meses são redistribuídos postos estratégicos em presidências e diretorias de estatais. Segundo fontes, apenas as diretorias financeiras e jurídicas das estatais não serão comandadas por indicações políticas. Outros postos serão redistribuídos a aliados e ao centrão.   

Mais seguro à frente da Secretaria de Governo, Ramos, cujo cargo é cobiçado por aliados de Bolsonaro e também por políticos, tem repetido a pessoas próximas que pretende ficar no governo para enfrentar o momento de pandemia sanitária vivida pelo mundo. Se continuasse na ativa, ele ainda teria até 2021 para voltar ao Exército, mas ao se aposentar, abre mão de chegar ao topo da carreira militar.

Fonte: O Globo