Jornal Povo

‘Precisamos respeitar mais uns aos outros’, diz taxista que recolocou cruzes derrubadas por pedestre em Copacabana

A dor de um pai que perdeu o filho por Covid-19 há menos de dois meses fez o taxista Marcio Antônio do Nascimento Silva, de 55 anos, reagir ao ver um homem destruindo uma instalação feita pela ONG Rio de Paz, na areia de Copacabana, em protesto contra o avanço da pandemia no Brasil, na manhã de quinta-feira. Exigindo respeito ao luto de dezenas de milhares de famílias como a dele, Marcio reergueu as cruzes derrubadas, e sua atitude viralizou na intenret. Mais tarde, em entrevista ao EXTRA, o taxista fez um apelo pedindo que todos tenham mais empatia uns com os outros.

— Precisamos respeitar mais uns aos outros — pediu Marcio, que perdeu o filho Hugo Dutra do Nascimento Silva no dia 18 de abril, aos 25 anos. — Eu senti como se ele (o homem que derrubou as cruzes) tivesse desrespeitado meu filho. Eu não tinha nada a ver com o protesto, moro em Copacabana, só saí de casa um pouco para caminhar. De repente, vi aquele gesto de falta de respeito, falta de empatia. Eles não tinham o direito de impedir a manifestação.

Enquanto o homem não identificado derrubava as cruzes, no calçadão outros pedestres debochavam da iniciativa da ONG e diziam que as cruzes e as cem covas abertas na areia estavam “criando pânico”.

— Eles (os pedestres que criticavam o ato da ONG) ficaram envergonhados e foram embora — contou Márcio, sobre a reação das pessoas depois que ele protestou contra a atitude do homem não identificado.

Hugo e o pai: jovem morreu em abril, aos 25 anos
Hugo e o pai: jovem morreu em abril, aos 25 anos Foto: Álbum de família

Hugo trabalhava numa empresa de informática e foi liberado por conta das primeiras medidas de combate ao coronavírus. O jovem também era professor de dança de salão, paixão que herdou do pai, e DJ. No dia 3 de abril, ele teve febre e foi levado pelo pai para a UPA de Copacabana. O estado de saúde de Hugo piorou, e ele teve que ser transferido para o Hospital municipal Ronaldo Gazzolla, em Acari, unidade de referência no tratamento da Covid-19.

— Foi tudo muito rápido. Duas semanas depois, meu menino morreu. Era jovem, saudável. Nunca teve doença nenhuma. Até hoje, estou em choque com o que aconteceu. Foi por isso que coloquei as cruzes de volta na areia e falei o que tinha que falar — afirmou o taxista.

Fonte: Jornal Extra