Jornal Povo

Operação da Polícia Civil e do MP mira empresário suspeito de tentar matar filha de bicheiro

A Polícia Civil e o Ministério Público do Estado do Rio fazem, na manhã desta terça-feira, uma megaoperação contra o jogo do bicho e a tentativa de homicídio da empresária Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Valdomiro Paes Garcia, o Maninho. Entre os alvos da operação – ao todo são 22 mandados de busca e apreensão a serem cumpridos em endereços ligados a 11 pessoas – está o empresário Bernardo Bello, ex-cunhado de Shanna e ex-presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Além de Bello, policiais militares, ex-PMs, um ex-policial civil e a irmã de Shanna estão entre os alvos da ação. A disputa pelo espólio de Maninho, segundo os investigadores, teria causado a morte de várias pessoas desde 2004.

Segundo as investigações, um ex-policial civil também é alvo das buscas. A Polícia Civil informou que Bello não foi encontrado em casa. De acordo com os investigadores, parentes do empresário disseram que ele viajou para São Paulo, no último domingo. Não se sabe se a operação desta terça-feira vazou e, por isso, os policiais requisitaram imagens do condômino para saber o dia e a hora que Bello deixou o local. Na mansão, os investigadores encontraram um carregador de pistola. Eles querem saber agora se ele tem ou não porte de armas e se o carregador de pistola é registrado.

Shanna Garcia é filha do bicheiro Maninho
Shanna Garcia é filha do bicheiro Maninho Foto: Guito Moreto / Agência O Globo / Arquivo

Os policiais fizeram uma busca e apreensão em um carro utilitário blindado da mãe de Bello avaliado em R$ 170 mil. Segundo a Polícia Civil, caso o empresário não apareça para explicar a procedência do carregador de pistola, a atual esposa dele será autuada por posse ilegal de acessório de arma de fogo.

Às 6h50 um dos advogados do empresário chegou à residência. A esposa, a mãe, a avó e duas crianças, filhos de Bello, estão na casa.

Nestor Maganinho é o ex-policial Civi da ação. Ele mora na Barra da Tijuca e é presidente de uma empresa de segurança. Na casa de Maganinho foram encontrados dinheiro, celulares e armas. Os agentes estão analisando a possibilidade de prenderem o ex-policial civil.

O material encontrado na casa do ex-policial civil Nestor Maganinho
O material encontrado na casa do ex-policial civil Nestor Maganinho Foto: Polícia Civil / Divulgação

Dois policiais militares foram levados para prestarem esclarecimentos na Delegacia de Homicidios da Capital (DHC), além de Maganinho.

Corregedoria da PM acompanha ação

A Corregedoria da Polícia Militar acompanha a ação, que mobiliza 200 policiais civis. As buscas e apreensões na casa de Bello serão gravadas. Chamada de “Sucessão”, a ação desta terça visa a descobrir também detalhes do atentado que Shanna sofreu em outubro de 2019 em um shopping do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Segundo a investigação, ela foi seguida por um carro branco que tinha a placa clonada. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento do ataque.

A todo o momento Shanna acusou o ex-cunhado como o responsável pelo ataque. mas nunca apresentou provas da acusação. À ocasião, a empresária se feriu e precisou ser socorrida e encaminhada para o Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, também na Zona Oeste.

No ano passado, ao jornal EXTRA, Shanna afirmou que não queria ser ouvida na delegacia da Barra da Tijuca por entender que havia “um monte de gente vendida” na unidade.

A família de Shanna já esteve envolvida em outros quatro assassinatos nos últimos anos. O pai, Waldomiro Paes Garcia, foi morto a tiros em 2004. Em 2011, o ex-marido, José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, foi assassinado. Já o irmão, Myro Garcia, morreu em 2017. Em fevereiro deste ano Alcebíades Paes Garcia, conhecido como Bid e que estava em uma van voltando da Sapucaí, onde ocorriam os desfiles das escolas de samba, foi executado a tiros quando chegava em casa, na Barra. Todos os crimes estão sem solução até hoje.

Filha de bicheiro diz que herança de R$ 25 milhões está por trás de guerra na família

Em entrevista, Shanna disse que Bernardo hoje controla os pontos do jogo do bicho e máquinas caça-níqueis herdados do seu pai.

Em novembro de 2018, o miliciano Orlando de Curicica já havia acusado a polícia fluminense de “acobertar assassinatos de contraventores”. Procurada, a Polícia Civil informou que não vai comentar as declarações de Shanna.

Em meio à guerra dentro da família Garcia, a própria Shanna já chegou a ser acusada de ordenar um homicídio no passado. Em 2011, ela teve a prisão decretada após ser acusada da morte do tio, o pecuarista Rogério Mesquita, assassinado dois anos antes. Na mesma época, um relatório da Subsecretaria de Inteligência (da extinta Secretaria de Segurança) e da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) apontou o ex-capitão da PM Adriano Magalhães como envolvido no crime. O ex-militar, morto em fevereiro deste ano, era acusado de chefiar o “Escritório do Crime”, braço da milícia formada por assassino de aluguel.

Embora a polícia do Rio investigue a participação de Shanna na contravenção, ela nega que receba recursos oriundos do bicho. De acordo com a filha de Maninho, todos os pontos do império do jogo construído pelo avô, o bicheiro Miro, em bairros do Rio como Vila Isabel, Tijuca, Largo do Machado e Ipanema, estão com o ex-cunhado Bernardo, que também controlaria cerca de duas mil máquinas caça-níqueis. Shanna, que diz viver do aluguel de espaços comerciais que seu pai tinha, afirma que deixou de receber em 2013 dinheiro das atividades da contravenção por ordem de Bernardo.

Fonte: Jornal Extra