Jornal Povo

Organização criminosa atuava dentro da Secretaria Estadual de Saúde do Rio, diz promotor

Em uma nova etapa para desbaratar a quadrilha acusada de desviar dinheiro público destinado à compra de respiradores, necessários para pacientes com Covid-19, a operação Mercadores do Caos prendeu ontem preventivamente o atual superintendente de Orçamento e Finanças da Secretaria estadual de Saúde, Carlos Frederico Verçosa Duboc. Na mesma ação conjunta, do Ministério Público do Rio (MPRJ) e do Ministério Público de do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), também foram presos o empresário Anderson Gomes Bezerra, no Rio, além de Domingos Ayres da Fonseca e Paula Alessandra Rodrigues de Oliveira, em Brasília, que seriam sócios de empresas também envolvidas no esquema.

Segundo o promotor Carlos Bernardo Alves Arão Reis, sub-coordenador do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaec), novas ações estão sendo preparadas contra a quadrilha:

— Essa organização criminosa era dividida em quatro núcleos. O primeiro estava dentro da Secretaria de Saúde e era chefiado por Gabriell Neves (ex-subsecretário de Saúde, já detido). Existiam outros três núcleos empresariais, que receberam verbas públicas por respiradores que não foram entregues até o momento, passados mais de 70 dias.

Duboc foi preso em casa, em Pendotiba, Niterói. Foi contratado na gestão de Edmar Santos (exonerado) na Secretaria estadual de Saúde e continuou na equipe do atual titular da pasta, Fernando Ferry. O órgão informou ontem que ele seria exonerado.

Servidor da prefeitura do Rio, Duboc e estava cedido ao estado desde janeiro de 2019. Entrou para o município como analista de planejamento e orçamento da Secretaria municipal de Fazenda em setembro de 1999. Antes de ser cedido ao estado, estava lotado na Riotur. À disposição do estado, não perdeu os vencimentos da prefeitura, que somam R$ 39,4 mil brutos e incluem até produtividade por desempenho orçamentário (R$ 17 mil). O advogado de Duboc não foi localizado.

Empresa recebeu R$ 9,7 milhões

Anderson Gomes Bezerra também foi preso em casa, no Lins de Vasconcelos, na Zona Norte. Durante a operação de ontem foram cumpridos ainda nove mandados de busca e apreensão, no Rio e em Brasília, expedidos pelo juízo da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital.

De acordo com o Ministério Público, Anderson teria recebido R$ 678 mil da empresa Globaltec, da área de saúde, da qual seria representante. Pela denúncia, a A2A recebeu R$ 9,7 milhões da Secretaria de Saúde para entregar respiradores, que teria subcontratado a Globaltec.

Advogado de Anderson, Fernando Drummond confirmou que seu cliente é funcionário, mas não da Globaltec. Disse desconhecer sobre os R$ 678 mil e que considera uma ilegalidade o mandado de prisão não ser sido acompanhado da decisão. Ele vai pedir a liberdade de seu cliente, que é cardíaco e diabético.

Desde a primeira fase da Operação Mercadores do Caos, o MP já apreendeu 122 respiradores. Desse total, 25 não servem para serem utilizados para pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Aparelhos não foram entregues

A Operação Mercadores do Caos foi deflagrada no início de maio e tem como objetivo combater uma organização criminosa que desviou mais de R$ 18 milhões dos cofres públicos do Rio de Janeiro. O dinheiro era destinado à compra de ventiladores/respiradores pulmonares para tratamento de pacientes com coronavírus em estado grave. Após mais de dois meses da data de entrega dos aparelhos — comprados emergencialmente, sem licitação — nenhum deles foi entregue pelas empresas, nem o dinheiro devolvido.

Além de Duboc e Bezerra, seis pessoas já haviam sido presas nas primeiras duas etapas da operação. Os presos foram Gabriell Neves, subsecretário de Saúde do estado, exonerado antes da prisão; Gustavo Borges, que sucedeu Gabriell na pasta, exonerado depois da operação; Aurino Filho, dono da A2A, uma empresa de informática que ganhou contrato para fornecer 300 respiradores ao estado, que não foram entregues; Cinthya Silva Neumann, sócia da Arc Fontoura, outra firma contratada; Maurício Fontoura, controlador da Arc Fontoura e marido de Cinthya; e Glauco Guerra, representante da MHS, a terceira empresa contratada.

Fonte: Jornal Extra