Jornal Povo

Ônibus convencionais só poderão levar 12 passageiros em pé e BRT até 30

Com base nas marcações já feitas pelas empresas, e pelas novas regras da prefeitura, a partir desta quinta-feira, cada ônibus convencional só poderá transportar, em média, 12 passageiros em pé. Em situações normais, cabem até 45 pessoas nos corredores desses coletivos. Os articulados do BRT, que em situação de normalidade têm espaço para até 120 pessoas em pé, devevão levar entre 24 e 30. A variação, nos dois casos, pode ocorrer em função do modelo e tamanho do veículo.

Pelas regras da prefeitura os coletivos deverão respeitar o limite de duas pessoas em pé, por metro quadrado. Para isso, tiveram de pintar no piso a marcação indicando o espaço destinado a esses passageiros. O prazo para fazer a pintura ou colcar um selo termina nesta quarta-feira. A partir daí, as que não cumpriram a medida estão sujeitas a multa no valor de R$ 924, 38. A prefeitura diz que fará fiscalização, mas motoristas e passageiros não acreditam que a norma será respeitada. E mais: os rodoviários temem que a atribuição de manter o controle recaia sobre eles.

— Vão botar adesivo mas ninguém vai obedecer. Vai ser uma atribuição a mais para o motorista que pode ser aborrecer e até mesmo ser agredido. O que precisamos é de fiscalização — cobrou José Carlos Sacramento, vice-presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores do Rio.

O subsecretário municipal de Transportes, Allan Borges, garante que os motoristas não terão essa atribuição. A Secretaria municipal de Transportes recomendou, por meio de nota, que os rodoviários que se sintam ameaçados por passageiros que descrumprirem os protocolos sanitários peçam ajuda à Guarda Municipal e à Polícia Militar.

— Quero deixar registrado que não é papel do motorista e a secretaria sob hipótese alguma orienta que ele tenha o papel de polícia. Muito pelo contrário. Por isso, nossos fiscais estão de maneira itinerante e permanente em algumas estações mais tensas do BRT e pontos de transbordo de modal para orientar a população, fiscalizar os ônibus e, os que não tiverem a partir de amanhã as marcações para que a população tenha sua posição marcada e não se confunda sobre como se posicionar dentro do ônibus, serão realmente passíveis de multa —disse o subsecretário em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo.

O despachante Jorge Fernandes Bernardo, da 220 (Usina-Candelária) disse que todos os ônibus da linha já ganharam a pintura, em forma de pegadas, no piso. Ele contou que nos últimos dias houve uma mobilização na garagem com essa finalidade. O motorista Gil Santos, de 44, acredita que a única forma de evitar aborrecimentos com os passageiros será passar direto nos pontos assim que o coletivo atingir a capacidade máxima permitida de pessoas em pé.

— O passageiro vai ter que respeitar (o limite) ou vamos passar direto (nos pontos). Caso contrário, vai ser um peso a mais nas costas do motorista — alegou.

Um motorista da linha 309 (Alvorada-Central), que não quis se identificar acredita que a marcação não vai funcionar. Ele contou que no horário de pico está acostumado a transportar dezenas de passageiros em pé no coletivo. O gerente de loja Alexandre Ribeiro, de 48, usuário da 348 (Taquara-Candelária) não acredita que os usuários dos coletivos vão respeitar as marcações, a exemplo do que já ocorre com as existentes na porta dos bancos e nas filas dos supermercados, para indicar distanciamento mínimo.

— Vai ser difícil, até porque as pessoas querem chegar ao trabalho ou em casa e não vão ter paciência de ficar no ponto esperando ate o próximo ônibus vir vazio. Eu com certeza vou respeitar, porque já tive um caso de Covid na família e sei que com essa doença não se brinca —disse o passageiro.

Usuária do 433 (Vila Isabel- Leblon), a diarista Rosimeire da Conceição Silva, de 46 anos, também não acredita que a marcação será respeitada. Aliás, ela sequer viu, até hoje, a marca no chão dos coletivos que a levam diariamente para o serviço e sim muito desrespeito ao distanciamento.

— Peguei o ônibus hoje, às sete e meia da manhã, e não vi nada de distanciamento. Pelo contrário, está sempre tudo muito aglomerado. Nada mudou. Continua tudo a mesma coisa e, pelo visto, nada mai mudar. O que vejo são os ônibus ainda mais cheios e as pessoas aglomeradas —reclamou.

O decreto do prefeito Marcelo Crivella permitindo ônibus convencionais e BRTs a transportar passageiros em pé foi publicado no último dia 22, o que estava proibido desde março, por conta da pandemia. A medida foi regulamentada três dias depois, com uma série de obrigações tanto para os passageiros como para as concessionárias. Ao entrar no coletivo, o usuário terá de ocupar o espaço onde haverá uma sinalização gráfica, de modo a garantir o distanciamento entre passageiros.

O consórcio BRT informou que até a manhã desta quarta-feira, 80% de sua frota já estava adesivada, devendo atingir a totalidade até o fim do dia. O consórcio garantiu que conta com com atuação diária de agentes, com poder de polícia, para fazer com que o limite de passageiro nos articulados seja respeitado. O Rio Ônibus, que representa os consórcios que operam as linhas convencionais também foi procurado, mas ainda não informou como está se adequando às novas regras.

A Secretaria municipal de Transportes informou que as ações de fiscalização seguirão reforçadas nas estações e terminais de maior demanda do BRT, como os de Santa Cruz, Pingo D’Água, Mato Alto, Madureira e Alvorada, e em outras áreas estratégicas da cidade, como pontos de transbordo entre modais, para verificar a devida indicação no piso dos ônibus e as demais determinações da Prefeitura no combate à Covid-19. O órgão destacou que, conforme Resolução Conjunta entre as secretarias municipais de Transportes e de Saúde, publicada em 25 de junho de 2020, o motorista deve acionar as forças de segurança pública, como a Guarda Municipal e a Polícia Militar, caso se sinta ameaçado por passageiros que descumprirem os protocolos sanitários.

Fonte: Jornal Extra