Jornal Povo

Enfermeiros e técnicos terceirizados da Saúde do RJ entram em greve; funcionários fazem manifestação

Enfermeiros e técnicos de enfermagem entraram em greve nesta quinta-feira (23) no Rio após acumularem meses de salários atrasados. Pela manhã, houve protesto dos funcionários de unidades de saúde administradas por organizações sociais.

“O governador não é sensível com a luta dos trabalhadores, o secretario de Saúde também não, a Secretaria de Saúde não tem se empenhado para resolver a questão do salário, do pagamento desses trabalhadores, então não chega a alternativa a não ser decretar uma greve, foi o último recurso que se arrumou”, disse a enfermeira Mônica Armada.

“A gente está iniciando uma greve com 50% dos trabalhadores trabalhando. Outros 50% na greve, com escala de revezamento e essa greve é por tempo indeterminado, a gente só volta quando os salários de todos os trabalhadores forem pagos”, completou a representante do sindicato dos enfermeiros Mônica Armada.

Eles contam que, em alguns casos, a demora para sair o pagamento é de quatro meses.

Veja as unidades em que os grevistas prestam serviço

  • Hospital da Mulher;
  • Hospital da Mãe, em Saracuruna;
  • Hospital de Anchieta (HTO);
  • Hospital Carlos Chagas;
  • UPA São Pedro da Aldeia;
  • Samu;
  • Hospitais de Campanha;
  • Hospitais Estaduais de Traumatologia e Ortopedia (HTO) da Baixada;
  • Hospitais Estaduais de Traumatologia e Ortopedia (HTO) Dona Lindu, em Paraíba do Sul;
  • Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (HEAPN)

Posição do Governo do RJ

Em nota enviada ao Jornal Povo no final da tarde desta quinta-feira (23), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que as OSs são as responsáveis pelo pagamento dos funcionários e das empresas subcontratadas. Segundo a pasta, o governo vem trabalhando pela regularização dos contratos com as Organizações Sociais (OSs).

O estado disse que, das 41 unidades de saúde administradas por OSs, 37 já tiveram a situação regularizada e estão com os pagamentos totalmente em dia. A SES atualizou a situação de cada uma das unidades que estão com funcionários sem salários.

Hospital da Mulher e Hospital da Mãe:

Segundo o governo, a OS Gnosis já recebeu a verba relativa aos hospitais da Mãe, efetuado no último dia 3, e da Mulher, no dia 17 de julho.

Hospital Carlos Chagas:

A SES informa que o pagamento de R$ 3,6 milhões para a Lagos Rio foi realizado no dia 3 de julho.

UPA São Pedro da Aldeia:

Segundo a secretaria, o pagamento foi feito no dia 8 de julho. “Devido à falta de contrato, o pagamento de junho não pode ser repassado, mas já está sendo feito um novo contrato com a Lagos Rio para resolver essa situação. O adiantamento da primeira parcela será pago ainda na semana que vem”, informou.

Samu:

Sobre os funcionários que atuam no serviço de resgate do Samu, a SES lembrou que os contratados pela OS OZZ, também receberão um repasse direto, efetuado em juízo, de R$ 10 milhões.

Hospitais de Campanha:

O governo liberou R$ 6 milhões para quitar a folha salarial de junho dos trabalhadores dos hospitais de campanha. Os pagamentos serão feitos diretamente para os funcionários, sem que o dinheiro passe pela Organização Social Iabas, antiga responsável pela gestão das unidades.

HTO Baixada e Lindu:

Os Hospitais Estaduais de Traumatologia e Ortopedia da Baixada e de Paraíba do Sul deverão receber os valores em atraso nos próximos dias. Segundo a secretaria, as transferências serão feitas até está sexta-feira (24). “Os contratos estavam vencidos. Assim, está sendo celebrado um novo contrato com a mesma OS, Mahatma Gandhi”.

Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (HEAPN):

A SES informou que a unidade está sem contrato desde 22 de maio, mas que está buscando obter autorização do TRT para pagar os funcionários diretamente em conta.

Operação

Também nesta quinta-feira (23), a polícia e Ministério Público prenderam 4 empresários em investigação sobre contratos do Iabas com a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Segundo a força-tarefa, a antiga gestão do Iabas recebeu, entre os anos de 2009 e início de 2019 — nas gestões de Eduardo Paes e Marcelo Crivella –, R$ 4,3 bilhões em recursos públicos, dos quais os R$ 6,5 milhões teriam sido desviados. O prefeito Marcelo Crivella afirmou que desqualificou e multou a OS.

Entre os presos estão Luis Eduardo Cruz, ex-controlador do Iabas, e a mulher dele, Simone Amaral da Silva Cruz. Eles foram pegos em Campinas (SP). O casal já havia sido preso em 2018.

A Iabas informou tratar-se de contratos antigos e que não tem mais vínculo com o município. A suspeita é que R$ 6,5 milhões tenham sido desviados em favor de ex-controlador da organização social que administra serviços de saúde.

Os dois sindicatos dizem que já tiveram várias reuniões com o antigo e com o novo secretário de saúde, mas não viram resultados.

“Nós tentamos a todo momento mediação tanto na esfera administrativa e judiciária. Tendo em vista que não fomos exitosos em nenhum dos lados, decidimos em assembleia conjunta declararmos a greve”, disse Luciano Pinheiro, presidente do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem.

“Trabalhadores não podem pagar por erro admirativos do governo, os trabalhadores trabalharam e tem todo o direito de receber, isso fere a dignidade dos trabalhadores, isso não está certo”, completou Pinheiro.

A Tatiana Firmino é enfermeira do Samu, administrado pela empresa OZZ, e não recebeu o último salário. Ela contou que a situação para ela, que tem dois filhos pequenos, está muito difícil.

“Pelos meus filhos, eu queria muito que meu salário saísse, que os governantes tomassem providencia porque eu mesma tive Covid. Quase morri arriscando minha vida para salvar a do outro que eu nem conheço por amor ao que escolhi e eu não tive pagamento”, disse Tatiane.

O que dizem os citados

A secretaria de estado de Saúde disse que estava impedida pela Justiça de fazer novos repasses à OZZ, que administra os serviços do Samu, mas vai depositar em juízo R$ 10 milhões até esta sexta-feira (24) para quitar um mês da folha salarial.

A pasta também informou que o salário de junho dos funcionários dos hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo vai ser pago diretamente na conta corrente deles. Para os funcionários dos outros hospitais de campanha, a secretaria diz que o Iabas deve comprovar o cumprimento de carga horária para que o pagamento seja possível.

Sobre os salários dos funcionários do Hospital de Saracuruna, a secretaria disse que está tentando, na Justiça, uma forma de depositar os salários diretamente na conta dos trabalhadores, sem passar pelo Iabas.

A secretaria disse ainda que o pagamento de atrasados do HTO será feito ainda essa semana, que os salários do Hospital Anchieta contratados pela Fundação Saúde estão em dia.

A O.S., que administra os hospitais da Mãe e da Mulher, já recebeu a verba. Além disso, está sendo produzido um novo contrato para a UPA de São Pedro da Aldeia.

Fonte: G1