Jornal Povo

Na base do portunhol, Domènec chega ao Flamengo e revela dica de Guardiola: “Não deixe passar”

Portunhol afiado, muita simpatia e otimismo para o maior desafio da carreira. Domènec Torrent deu a largada para sua trajetória no Flamengo. Em poucas horas no Brasil, o treinador já sentiu o calor humano do torcedor no aeroporto, deu entrevista e comandará na tarde desta segunda-feira o elenco pela primeira vez.

Simpático, Dome se desculpou por não ser fluente no português e agradeceu a Pep Guardiola pela parceria ao longo dos anos:

– Não falo português. Agora falo portunhol e vou tentar falar com vocês. Estou muito agradecido ao Carlos Leite, Marcos Braz, Bruno Spindel… Pessoas que foram muito importante para que eu estivesse aqui. E quero agradecer a Pep Guardiola. Para mim, foi muito importante passar esses dez anos de trabalho com amizade e conhecimento. Quando você está com o melhor do mundo, aprende muito.

O espanhol revelou até um conselho de Guardiola no início das negociações:

– Quando ele soube do interesse do Flamengo, só me disse: “Não deixe passar”. Se tiver confiança, é um dos maiores clubes do mundo. Foi algo que me incentivou muito.

– Estou muito feliz por fazer parte desta grande nação. Quando se fala de Flamengo na Europa, todo mundo sabe que é um dos grandes clubes do mundo. É muito importante seguir ganhando. É assim no Flamengo, no Barcelona, em clubes top.

Domènec foi apresentado ao lado do presidente Rodolfo Landim, do vice de futebol, Marcos Braz e do diretor executivo Bruno Spindel. Landim foi o primeiro a pedir a palavra e disse:

– Estamos todos muito felizes e estamos satisfeitos com esse processo. Foi um trabalho que teve início com o nosso grupo de scout na busca pela manutenção do futebol ofensivo e agressivo. O nome do Dome sempre esteve presente. Queríamos alguém com uma história vencedora. Estamos muito feliz por contar com ele pelos próximos 18 meses.

Dome e Landim no Ninho do Urubu — Foto: Alexandre Vidal / CRF
Dome e Landim no Ninho do Urubu — Foto: Alexandre Vidal / CRF

Ao chegar ao CT, todos que viajaram da Espanha para o Brasil realizaram exames de Covid-19, que fazem parte do protocolo para início de trabalho no Brasil. Ladim agradeceu ao consulado da Espanha no Brasil por facilitar os trâmites tanto para que Spindel e Braz negociassem na Europa, quanto para a vinda do quarteto espanhol para o Brasil.

Responsável pela condução da negociação, Marcos Braz ressaltou o histórico de uma década de Dome como auxiliar de Guardiola. O dirigente ainda falou do hábito de comemorar títulos.

– Não posso deixar de falar da história do nosso atual técnico nos últimos dez anos. Ele figurou nos grandes trabalhos do futebol mundial, no Bayern de Munique, no Barcelona… Sempre com grande atuação dentro de um processo. Quando entendeu que deveria tomar outro rumo em sua carreira, entendemos que está mais do que super qualificado para estar aqui. Está acostumado a estourar champanhe, fumar charuto no vestiário.

Dome, como já disse que prefere ser chamado, chega ao Flamengo acompanhado de três auxiliares: o assistente de campo Jordi Guerrón, o analista de desempenho Jordi Gris e o preparador físico Julián Jimenez. Será uma semana de treinos até a estreia contra o Atlético-MG, domingo, às 16h (de Brasília), no Maracanã, pela primeira rodada do Brasileirão.

Marcos Braz, Domènec Torrent e Bruno Spindel, Flamengo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Marcos Braz, Domènec Torrent e Bruno Spindel, Flamengo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Confira trechos da coletiva

Acompanhou a final da Libertadores?

– Vi a final da Libertadores, vi o jogo com o Liverpool, vi alguns jogos do Brasileiro…Acompanho os melhores clubes do mundo. Nos últimos meses, vi uns nove, dez jogos do Flamengo. Vi o jogo contra o Fluminense ainda com Jorge Jesus. Não só eu, mas muita gente na Espanha viu os jogos contra River Plate e Liverpool.

Entusiasmo

– Tenho uma filosofia muito parecida ao treinador que trabalhei junto nos últimos dez anos. Gosto do jogo ofensivo. Prefiro ganhar por 4 a 3 e não por 1 a 0. É importante também para o torcedor. O Flamengo é ganhar, ganhar, ganhar, mas é importante como ganhar, não somente ganhar. Tenho em mente como é importante que o torcedor seja feliz no estádio. Quero criar um estilo para que o Flamengo jogue igual, de maneira bonita e ganhadora, no Maracanã ou em outro estádio. Gosto de ter a bola, de ser protagonista.

Diferenças com Jorge Jesus

Jorge Jesus, campeão carioca com o Flamengo — Foto: André Durão / GloboEsporte.com
Jorge Jesus, campeão carioca com o Flamengo — Foto: André Durão / GloboEsporte.com

Respeito muito Jorge Jesus, que ganhou tudo com o Flamengo. Temos nosso próprio estilo e vamos implementar neste grande clube pouco a pouco. Preciso respeitar o trabalho do Jesus e dos jogadores em um projeto ganhador. Aos poucos, vamos implantar o estilo que é similar no ponto de ser ofensivo. Conheço Jorge Jesus desde o Benfica, Sporting… É um grande técnico. Estamos aqui para continuar ganhando títulos com nosso próprio estilo.

Contato com comissão de Jesus

Não tive contato com o técnico anterior, mas tive contato com todos que ainda estão trabalhando no Flamengo. Vi muitos jogos, tenho muito claro como jogava Jorge Jesus e como vou jogar. O mais difícil no futebol não é ganhar, é voltar a ganhar. Vencer e vencer novamente. Queremos fazer do Flamengo vencedor por muitos anos. Ter um projeto ganhador que dure muito tempo é o mais importante.

Por que o Flamengo?

Quando o Flamengo te chama, você não pode dizer não. Não sei se o Brasil sabe o quanto que o Flamengo é respeitado fora da América. Na Europa e na Espanha, quando se pergunta de um clube brasileiro, o primeiro nome é o Flamengo. Quando me falaram do Flamengo, eu disse: “Para tudo. Essa é minha primeira opção 100%”. Só há dez equipes no mundo que podemos comparar.

Maratona de jogos

Somos capazes 100%. No Bayern, Barcelona, City, também jogávamos três jogos por semana. Estamos acostumados. Essas primeiras semanas serão as mais importantes. Não há um problema (a maratona de jogos). Nos meus últimos dez anos foi assim. Não vim ao Brasil de férias, vim para trabalhar muito muito duro.

Gerson e Diego durante o treino de quinta-feira no Ninho — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
Gerson e Diego durante o treino de quinta-feira no Ninho — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Mudanças na equipe

Precisamos de tempo. Mas para mim o estilo não é a formação, o estilo é querer ter a bola, querer ser ofensivo, querer ser ganhador. É impossível estar no Flamengo e não ser ganhador. Levamos isso na alma, no sangue. Vamos respeitar muito o trabalho feito pelos jogadores e mudar pouco a pouco. Não vamos ser como um elefante entrando em um quarto pequeno. O trabalho de Jorge Jesus foi fantástico e temos que aproveitá-lo.

Rafinha

Ele é muito generoso. Foi muito importante no Bayern, muito importante na Bundesliga. Faz uns quatro anos que não falo com ele, mas mostrou na Alemanha que é um vencedor. É muito respeitado na Europa e estou feliz por voltar a trabalhar com ele.

Desconfiança com técnicos estrangeiros

Não é fácil para as pessoas entenderem o motivo de técnicos estrangeiros chegarem a um país. Respeito muito os técnicos brasileiros. Acho que os europeus podem agregar muitas coisas ao futebol do Brasil. Lembro de Felipão, de Luxemburgo no Real Madrid… Não é uma questão de ser estrangeiro ou brasileiro. Na Europa se joga mais rápido que aqui, mas o técnico brasileiro é muito respeitado no mundo. O projeto ganhador de Jorge Jesus nos abriu muitas portas.

Comparação Brasil x Europa

Domènec Torrent em apresentação — Foto: Flamengo
Domènec Torrent em apresentação — Foto: Flamengo

Talvez o futebol europeu é jogado mais rápido do que no Brasil, que é muito técnico. Mas ultimamente acho que houve evolução nisso, o gramado em muitos estádios está melhor, o que é muito importante para jogadores. Acho que a grande diferença é a rapidez que se joga na Europa, o ritmo de treinamento em muito alto. O brasileiro está acostumado com isso. Tivemos brasileiros no Barcelona, no Bayern com Rafinha, Dante, no City com muitos. As pessoas enxergam o brasileiro como um jogador que toca a bola e joga mais lento, não acredito que seja o certo. O brasileiro tem muita qualidade, o que é o mais importante.

“Se você pode jogar com dois toques, não jogue com três. Se pode com três, não jogue com quatro. Tenha que dar velocidade ao jogo para ser ofensivo. A rapidez não é dos jogadores é do jogo. Passar a bola e atacar mais rápido. Pressionar quando você perder a bola para recuperá-la. Isso é o que se faz na Europa”

Comparação com títulos de Jesus

Quando isso acontece, mostra que são jogadores top, experientes, e que só querem voltar a ganhar. Isso é o mais importante e o mais difícil. Temos experiência nisso e os jogadores são muito bons. Isso é uma grande vantagem.

Conselhos de Guardiola

Pep me ajudou muito. Além da questão profissional, há uma amizade. Quando ele soube do interesse do Flamengo, só me disse: “Não deixe passar”. Se tiver confiança, é um dos maiores clubes do mundo. Foi algo que me incentivou muito.

Fonte: GloboEsporte