Jornal Povo

Expulso da PM, Gabriel Monteiro nega deserção: ‘Fui dispensado por questão médica’

Expulso na Polícia Militar do Rio de Janeiro por deserção, o youtuber Gabriel Monteiro considera sua exoneração ilegal. Em entrevista ao Jornal Povo nesta quarta-feira, dia 5, um dia após a decisão ser publicada no Boletim da PM, o policial disse que foi dispensado por questões médicas todos os dias que estaria de plantão na corporação, entre 22 e 31 de julho. O youtuber era lotado no 34º BPM (Magé). Na decisão publicada na noite de terça-feira, obtida pelo Jornal Povo, consta que Monteiro faltou o serviço para o qual foi escalado no dia 22 de julho deste ano. Segundo a polícia, o youtuber teria permanecido até o dia 31 sem dar qualquer satisfação sobre seu paradeiro à corporação e completou mais de oito dias de ausência, o que configura o crime de deserção previsto no artigo 187 do Código Penal Militar.

Ainda segundo informações do processo de deserção de Monteiro, houve tentativas de encontrá-lo no endereço fornecido por ele à corporação, mas o atual morador do imóvel informou que o PM não residia naquele local. A decisão de expulsar Gabriel foi do secretário da PM, coronel Rogério Figueredo.

Monteiro enviou ao EXTRA cópias dos documentos das inspeções médicas realizadas nos dias 23, 27 e 29 do mês passado, assinados por três oficiais da corporação, entre eles o tenente-coronel Luiz André.

— Essa decisão é ilegal. A própria polícia falou que desertei, mas tenho documentos que comprovam que oficiais me dispensaram por questão de saúde. Estou com crises de ansiedade, dores fortes de cabeça, e a pressão aumentando. Fui dispensado do serviço por estresse na polícia. Isso é perseguição — afirma o PM, antes de justificar e dar a versão de que esteve no Batalhão para informar o motivo das ausências.

— Me ausentei porque tinha licença, não deixei de ir ao trabalho. Fui três ou quatro vezes ao meu batalhão para informar. Quero que reconheçam esse absurdo. Se os documentos que estou apresentando forem fake ou manipulados no Photoshop, eles podem me denunciar no MP. Mas são oficiais. Até mesmo me orientaram a tirar férias. Estou com três férias vencidas. Me disseram para tentar trabalhar perto de casa para tentar aliviar a carga de estresse que estou recebendo. Mas nada foi atendido.

Documento do dia 23 de julho com a segunda perícia médica
Documento do dia 23 de julho com a segunda perícia médica
Documento do dia 27 de julho com a segunda perícia médica
Documento do dia 27 de julho com a segunda perícia médica
Documento do dia 29 de julho com a segunda perícia médica
Documento do dia 29 de julho com a segunda perícia médica

Nesta manhã, Monteiro esteve no Hospital da PM e disse que conversou com o tenente-coronel que assinou uma das perícias que ele foi submetido e que autorizou a dispensa médica. Ele fez imagens do consultório e publicou um vídeo em seu canal nas redes sociais. Veja o diálogo entre eles:

Médico tenente-coronel: “O que você quer?”

Gabriel Monteiro: “Quero saber se você reconhece a sua assinatura. Então, estou dispensado, está correto?”

Médico tenente-coronel: “Está correto.”

Gabriel Monteiro: “Então por que dizem que foi deserção?”

Médico tenente-coronel: “Eu não sei. A minha parte eu fiz. Você tem que resolver com eles.”

Gabriel Monteiro: “A assinatura é do senhor. Estou dispensado ou não estou, quero saber!”

Médico tenente-coronel: “Eu dispensei.”

Gabriel Monteiro: ‘Mas por que da deserção?”

Médico tenente-coronel: “Não sei. Vai perguntar a quem de direito.”

Gabriel Monteiro: “Estou sendo tratado na mídia como bandido. Não sou desertor.”

Médico tenente-coronel: “O problema não é meu, vai perguntar a quem de direito.”

Gabriel Monteiro: “Mas você me dispensou. Você pode dar um relato ao comandante geral?”

Médico tenente-coronel: “Não vou dar relato para ninguém.”

Gabriel Monteiro: “Mas é a sua assinatura!”

Médico tenente-coronel: “É a minha assinatura e carimbo. A minha parte está feita. Não vou falar com ninguém.”

Advertência no início da carreira

O soldado Gabriel Luiz Monteiro de Oliveira, de 25 anos. Ele ingressou no Curso de Formação de Soldados em dezembro de 2015. Segundo o “Blog do Berta”, seus primeiros atos de indisciplina foram entre agosto e setembro de 2016. Na época, o youtuber não participou de um treinamento para formatura, descobrindo uma ordem de um major, comandante do Corpo de Alunos. Monteiro, aliás, era observado como “fora de forma”. Logo depois, ele não se apresentou para formatura no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, e foi punido, ao todo com quatro dias de detenção.

Como soldado, ele recebia um salário de pouco de mais de R$ 2,7 mil líquidos do estado. No entanto, como tem uma rede de mais de 3 milhões de seguidores no Twitter, Instagram e Youtube, ele pode estar ganhando muito mais como influencer e seus vídeos na internet. Além disso, ele tem uma equipe que comanda seus vídeos e suas redes sociais, além de fazerem assessoria de imprensa. Dois deles são o advogado Rick Dantas e Vinicius Hayden Witeze, que já foi candidato a vereador em 2002.

Ao EXTRA, ele negou que esteja pensando nesse momento em concorrer como vereador nas eleições de 2020.

— No momento, só quero mostrar que não estou errado e recuperar o meu cargo. Não estou pensando nisso agora — afirma.

Gabriel Monteiro tem 25 anos e ingressou na PM em 2015, no Curso de Formação de Soldados
Gabriel Monteiro tem 25 anos e ingressou na PM em 2015, no Curso de Formação de Soldados Foto: Reprodução/Instagram

Processo e porte de arma suspenso

Gabriel afirmou que está sendo perseguido na corporação e disse que, no passado, já teve uma primeira expulsão pedida, mas que foi reconsiderada.

— É uma perseguição clara. Fiz concurso público e não sou criminoso. Se precisar, vou entrar na Justiça para ser reincorporado. Vou provar que eles estão errados, que o secretário está errado. Ele já me colocou no conselho no ano passado. Fiz um vídeo no qual mostrei que seguranças de um coronel tentavam bater em jovens, mulheres e até deficientes em frente à Câmara Municipal do Rio. O secretário me levou ao conselho e pediu a minha expulsão. Em menos de 24 horas, ele reverteu a decisão — conta.

O youtuber já respondia a um processo administrativo disciplinar desde março deste ano, ocasião em que teve o porte de arma suspenso. Um deles é justamente um caso que envolve o ex-comandante geral da PM coronel Ibis Silva Pereira, na situação citada pelo próprio Monteiro. O processo administrativo também poderia levar à expulsão de Gabriel.

Segundo relatório da comissão de revisão disciplinar, o soldado desrespeitou o coronel em pelo menos duas ocasiões. Em uma delas, o PM gravou um vídeo na presença do oficial e publicou na internet, sem autorização, afirmando que Ibis foi visto entrando em uma área dominada por uma facção criminosa.

O documento narra que no dia 23 de outubro do ano passado o soldado se passou por estudante universitário para marcar uma conversa com o coronel Ibis no gabinete da deputada Renata Souza (PSOL/RJ), na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), onde o oficial trabalhava como assessor parlamentar.

Youtuber Gabriel Monteiro: Expulso da PM do Rio
Youtuber Gabriel Monteiro: Expulso da PM do Rio Foto: Reprodução

Na hora marcada, o soldado ligou para o gabinete e disse que não conseguia entrar no edifício da Alerj pois estava de bermuda, então pediu que o coronel descesse para conversar com ele do lado de fora. Ao encontrá-lo, o oficial reconheceu Monteiro. Sem aviso prévio, o soldado começou a filmar uma entrevista com o coronel e posteriormente publicou o vídeo na internet sem permissão.

Ao longo do vídeo, Gabriel Monteiro acusa o ex-comandante de ter relações com uma facção criminosa do Rio e pergunta se há ligação entre o PSOL e criminosos. Após a gravação das imagens, o ex-comandante entrou na Justiça com uma ação contra o soldado, que voltou a procurá-lo no dia 3 de dezembro, desta vez dentro da Alerj. O relatório conta que o coronel foi abordado na porta do gabinete por Gabriel Monteiro e outro homem, munido de uma filmadora portátil, e foi submetido a um novo vídeo. novo vídeo também foi divulgado na internet, mesmo sem permissão do oficial.

Fonte: Jornal Extra