Jornal Povo

Homem humilha entregador com ofensas racistas no interior de SP: ‘Seu lixo, você tem inveja disso aqui’

Um vídeo com ofensas racistas a um entregador de aplicativo viralizou nas redes sociais nesta sexta-feira. Nas imagens, um homem branco, morador de um condomínio de casas em Valinhos, no interior de São Paulo, chama o trabalhador de “lixo”, diz que ele é semi-analfabeto, não tem onde morar e pergunta várias vezes quanto ele ganha por mês. Além de afirmar que o rapaz tem inveja dele e de seus vizinhos por suas posses, ele diz “você tem inveja disso aqui”, apontando para a própria pele, de cor branca.

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De acordo com a Secretaria de Seguraça Pública de São Paulo, o caso ocorreu no último dia 31. A Guarda Municipal de Valinhos encaminhou os envolvidos à delegacia da região, onde o entregador registrou boletim de ocorrência por injúria.

“As partes foram ouvidas e a vítima orientada quanto ao prazo de seis meses para representação criminal contra o autor”, informou a pasta, em nota.

Ao Jornal Povo, a vítima, o entregador Matheus Pires, de 19 anos, contou que esta foi a segunda vez que ele foi fazer uma entrega na casa. Na primeira, segundo ele, o morador já tinha sido grosseiro por ele não ter achado o endereço da residência. Na segunda, quando as imagens foram gravadas, a confusão teria começado por um problema no interfone do condomínio.

“Eu falei pra ele que ele não podia fazer mais isso porque ninguém gostava desse tipo de atitude. O que ele faz é pra se mostrar superior as pessoas. Teve um momento que ele cuspiu em mim, jogou a nota no chão e disse que eu era lixo. Na frente da polícia, ele continuou com as agressões, me chamou de favelado”, disse o entregador.

No início da gravação, o entregador reclama que poderia estar trabalhando enquanto a discussão ocorre. O homem retruca perguntando se o rapaz sabe o que aconteceria com seu futuro, garantindo que ali não aconteceria nada, nem com o funcionário do condomínio.

– Com você já não sei. Hein? Desempregado. Você trabalha como motoboy, filho. Você tinha que ser assim lá na favela, seu moleque – diz.

– E daí? Você sabe quanto eu tiro por semana? – retruca o entregador.

– Quanto você tira por mês?

– Não importa.

– Quanto você tira por mês? Dois mil, três mil ‘real’?

– O senhor quer ver aqui no celular?

– Dois mil, três mil real? Você não tem nem onde morar, moleque. Você tá com inveja.

– Claro que tenho onde morar. Só porque o senhor mora em condomínio? Eu tenho uma vida fora daqui.

– Você tá com inveja – diz, abrindo os braços, mostrando o lugar. – Você tem inveja disso daqui.

Neste momento, o terceiro homem interrompe e pergunta por que eles estão discutindo. O morador que responde que é porque pediu que o entregador saísse do local e ele não saiu. O homem pergunta o motivo, e o trabalhador responde que está esperando o transporte, e que já o solicitou pelo celular. Mas o morador interrompe e continua as ofensas.

– Moleque, escuta aqui, ó, você tem inveja disso aqui. Você tem inveja dessas famílias aqui, você tem inveja disso aqui, ó – diz, apontando para o braço, de pele branca.

– Eu posso ter as mesmas coisas que o senhor.

– Você nunca vai ter! – retruca.

– O senhor tem essas coisas porque o seu pai te deu ou porque você trabalhou? – questiona o motoboy.

– Eu já nasci rico. Trabalhei, muito tempo. Meu nome tá na Bíblia, rapá – diz ele, fazendo sinal de silêncio.

– O meu também tá. É Mateus. Tá na Bíblia – responde.

– Você se chama Matheus agora? Você vai mentir aí. Você é semianalfabeto – diz o homem.

– O senhor não chegou nem a ver o aplicativo para ver o nome da pessoa que está vindo na sua casa, de tanto que o senhor se preocupa – responde o rapaz.

As imagens foram publicadas por outro entregador, identificado como Matheus MS, em seu Instagram na madrugada desta sexta. Em 14h, o post original já tem mais de cem mil visualizações, mas o vídeo foi replicado por lideranças da categoria, famosos e internautas em várias redes, tornando o alcance muito maior. No Twitter, no post de Galo, líder do grupo Entregadores Antifascistas, as imagens já foram vistas quase 800 mil vezes. O do youtuber Felipe Castanhari tem 5,4 milhões de visualizações e, o de Gregório Duvivier, certa de 7 milhões.

O iFood informou que descadastrou o usuário da plataforma e garantiu que a empresa não compactua com qualquer tipo de discriminação.

Fonte: Jornal Extra