Jornal Povo

Prefeitura recua e diz que vai ‘reavaliar’ ideia de cercadinhos nas praias

RIO — Após o anúncio, no início da semana, de que faria um projeto para reserva de cercadinhos nas praias por aplicativo, a prefeitura recuou e informou que a a ideia ” gerou confusões e controvérsias”, e que “passa por uma reavaliação interna”. Fontes ligadas ao prefeito Marcelo Crivella dizem, porém, que ele desistiu de vez da proposta. Nesta quinta, O GLOBO mostrou que a intenção era criar até 1300 retângulos na Praia de Copacabana, cada uma com seis metros quadrados, para permanência dos banhistas. O modelo já estava pronto, e seria executado pelas empresas Rappi e Mude.

O projeto era questionado por especialistas, e vinha gerando desconfiança principalmente pela dificuldade da aplicação prática. De acordo com a própria prefeitura, em nota na tarde desta quinta, “a ideia da reserva por aplicativo gerou confusões e controvérsias”. Nesta quarta, em entrevista coletiva, o prefeito Marcelo Crivella chegou a dizer que consultaria a população sobre a proposta, mas nem essa consulta está mais garantida.

Segundo a prefeitura, a “ideia do quadrado e reserva de lugar por aplicativo passa por uma reavaliação interna na Prefeitura, e que pode também ter consulta popular, ainda a decidir”. Não foi esclarecido oficialmente, porém, a justificativa exata para o recuo, apenas que o prefeito está “atento às observações e críticas feitas”, e que estudos para evitar aglomerações vão seguir, “mas que tudo precisa ser tratado de forma a atender da melhor maneira o objetivo de evitar aglomerações e funcionar bem”, como diz a nota.

Já fontes próximas ao prefeito, ouvidas pelo GLOBO, dizem que a repercussão negativa nos últimos dias foi determinante para que o projeto fosse descartado de vez.

— A repercussão foi grande e negativa. Muita gente batendo. E havia dúvidas de como a medida seria implementada. O prefeito achou melhor convocar uma enquete, mas já temos pesquisas internas mostrando que a grande maioria da população é contra a demarcação de lugares na areia. E a voz do povo é a voz de Deus — disse um integrante do núcleo duro de Crivella, afirmando que os levantamentos mostraram que a maioria dos entrevistados prefere a reabertura total da praia. Segundo ele, a ideia do aplicativo, agora abortada, partiu de um vereador da base.

Outro interlocutor, assessor de Crivella, destacou a dificuldade técnica do projeto.

— Operacionalmente era inviável.

Ainda que não tenha iniciado a consulta à população sobre o projeto, a prefeitura admitiu que considerou a repercussão negativa diante das notícias veiculadas pela imprensa. Em resposta ao GLOBO, a prefeitura afirmou que “as avaliações da própria imprensa e das matérias já são observações levadas em conta nos estudos e análises”.

Praia de Copacabana teria 1300 cercadinhos

Segundo pessoas que vinham companhando o desenvolvimento do projeto, a minuta do decreto que autorizaria os cercadinhos já estava redigida, sendo analisada pela Procuradoria Geral do Município (PGM). O projeto seria executado pelas empresas Rappi, aplicativo de serviço de entrega, e pela Mude, especialista em oferta de aulas online de ginástica e yoga. Ambas já vêm realizando eventos e atividades ao ar livre, com pessoas ocupando espaços delimitados, o que fez a prefeitura procurá-las para o desenvolvimento de um modelo para as praias.

Pela proposta inicial, a Praia de Copacabana teria 1300 cercadinhos, que seriam retângulos de 6 metros quadrados, para abrigar até cinco pessoas ao mesmo tempo. Cada grupo de cinco cercadinhos formaria uma quadra, e a praia teria 260 quadras. A ideia era que 30% dos cercadinhos fossem reservados por meio de aplicativo, e os restantes ocupados por ordem de chegada. Se o sistema funcionasse, ele seria estendido posteriormente para toda orla.

Procurada, a Rappi informou que não sabe sobre desistência do aplicativo e, nesta quinta, apenas confirmou que um projeto estava sendo desenvolvido pela prefeitura. Já a Mude disse que seu modelo de aulas ao ar livre “inspirou” a prefeitura, e que ela foi procurada para prestar consultoria sobre um possível sistema para praias.

Recuos de Crivella

Na última segunda-feira (10), o prefeito falou objetivamente sobre a ideia do aplicativo para reserva de lugar nas praias, durante uma entrevista coletiva.

— As pessoas vão poder ocupar essas demarcações pelo horário que chegarem e também reservando no aplicativo. A ideia é que assim a gente consiga organizar melhor o que hoje não está bom — explicou o prefeito na ocasião.

O anúncio já era uma contradição em relação ao que ele mesmo havia anunciado um mês antes, quando disse que a areia da praia só seria liberada após a descoberta de uma vacina. Nesta quinta, porém, ele afirmou que foi uma “utopia” pensar dessa forma. Atualmente, estão liberado o banho de mar e as atividades físicas na areia.

Fonte: Jornal Extra