Jornal Povo

Fiocruz lança projeto de combate à Covid-19 em comunidades do Rio em parceria com conselhos comunitários e ONGs

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou na manhã desta quarta-feira (19) um projeto de combate à pandemia do coronavírus nas comunidades do Rio. O projeto “Conexão Saúde: de olho na Covid-19” será iniciado na Maré e em Manguinhos.

O projeto foi lançado em uma transmissão ao vivo em uma rede social da Fiocruz.

O modelo de vigilância inclui telemedicina, testagem e rastreamento. Os profissionais de saúde contarão com a ajuda de representantes das comunidades, que terão papel importante na articulação das ações.

O objetivo é prestar atenção em detalhes que fazem parte do cotidiano dos moradores, melhorando as condições dos atendimentos e cuidando das vulnerabilidades próprias de cada favela ou território popular.

Participam também do projeto o Conselho Comunitário de Manguinhos, Redes da Maré, Dados do Bem, SAS Brasil e União Rio.

Entre os objetivos do Conexão Saúde estão a necessidade de ampliar o acesso aos serviços de saúde de forma emergencial aos moradores durante a pandemia. A ideia é desenvolver um modelo integrado de combate ao coronavírus, incluindo ações sociais, educação e vigilância em saúde.

De acordo com a presidente da Fiocruz, Nísia Lima, a iniciativa se soma às estruturas de saúde que já existem.

“É impossível pensar qualquer projeto nesta área sem uma forte articulação com o Sistema Único de Saúde. Deve ser vista como uma iniciativa de dentro do sistema. Como uma articulação de contribuição da sociedade civil com iniciativas do setor privado e, sobretudo, com a presença dos articuladores, das lideranças comunitárias”, destacou Nísia.

O médico sanitarista Valcler Fernandes, também da Fiocruz, complementou e destacou a importância do trabalho dos agentes de saúde, que conhecem bem as comunidades e já trabalham na região, entendendo as suas particularidades.

“As sete unidades de saúde da família da Maré, a clínica da família e a UPA de Manguinhos, o CAPS de Manguinhos, estão integrados neste processo. Eu diria que tem um ator fundamental que é o agente comunitário de saúde”, ressaltou Valcler.

Conhecimento da região

Segundo o médico Dráuzio Varella, a participação da Fiocruz no projeto não apenas traz credibilidade, mas o conhecimento dos locais, já que a fundação atua nestas regiões há tempos.

“Eu estou interessado neste trabalho e na maneira como isso pode ser repetido no Brasil afora, não apenas durante esta pandemia, mas em outras situações de saúde que temos no país”, destacou o médico.

A pesquisadora Margareth Dalcomo, que é médica pneumologista e trabalha no estudo da tuberculose há anos, também acredita que este modelo possa ser exportado. Ela contou que sempre trabalhou nas comunidades e que a realização do seu trabalho só foi possível com a ajuda das lideranças locais.

“Este projeto traz, sobretudo, o reconhecimento de que as lideranças comunitárias são muito importantes, são fundamentais para que tenhamos acesso às comunidades. Elas são legítimas representantes das pessoas e dos problemas que são mais prevalentes nestas comunidades”, afirmou Margareth.

Segundo ela, é preciso dar continuidade às iniciativas para que elas surtam efeito e, com isso, os riscos possam ser reduzidos. Isto inclui a incidência de doenças crônicas que precisam receber tratamento e que podem se tornar agravantes no caso da Covid-19.

Populações vulneráveis

Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré, falou sobre a experiência de tentar combater a pandemia em uma frente de saúde dentro das 16 comunidades do conjunto de favelas. Para ela, é um reconhecimento do direito à saúde dos moradores.

Ela destacou que, muitas vezes, o cumprimento dos protocolos preconizados para a questão do coronavírus pode ser difícil para uma população em situação de vulnerabilidade. Por isso existe a necessidade de pensar em estratégias adequadas para cada território. Em uma semana, a frente de saúde chegou a identificar 75 casos de pessoas contaminadas na Maré.

“A testagem é muito importante para a gente tentar isolar as pessoas que precisam e criar as alternativas comunitárias para isso”, ressaltou Eliana.

Patrícia Evangelista, do Conselho Comunitário de Manguinhos, também ressaltou que o olhar em relação às favelas precisa ser direcionado. Segundo ela, a pandemia evidenciou velhos problemas nas favelas do Rio.

“A pandemia distribuiu de forma iníqua os riscos à saúde, onde boa parte das favelas conta com a deficiência de água. Vivemos aqui quase dez dias sem água em meio à pandemia. E isso era muito crucial para garantir o cuidado e a higiene para combater o risco de contaminação. E também a emergência sanitária, com a falta de saneamento e habitação adequada e saudável, trouxe riscos maiores ainda”, explicou Evangelista.

Impactos esperados

Entre os impactos esperados pelo projeto estão a ampliação da capacidade de testagem e o rastreamento de contatos e isolamento, com o objetivo de controlar o avanço da doença.

A ideia é também reduzir o tempo de encaminhamento dos pacientes com sintomas para o tratamento adequado. Assim, as mortes seriam reduzidas.

A ideia é diminuir gargalos que existam na atenção primária para a população, ampliando o serviço de telemedicina.

Maré e Manguinhos

As comunidades iniciais do projeto foram escolhidas com base em trabalhos anteriores e pela proximidade com a instituição. O conjunto de favelas da Maré conta com 140 mil moradores, de acordo com o mapeamento da Fiocruz.

Já Manguinhos tem 38 mil moradores. Ambos os locais contam com alguns dos menores índices de desenvolvimento social da cidade do Rio de Janeiro.

Próximo da marca de 200 mil casos

O Estado do Rio de Janeiro está próximo da marca dos 200 mil casos de Covid-19. Até esta terça (18), havia 199.480 casos confirmados, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Desde segunda-feira (17), foram 4.829 novos casos registrados. Na média móvel, os casos diários chegaram a 2.417, com aumento de 53% em relação a duas semanas atrás.

Com 162 novas mortes contabilizadas, o total de óbitos chegou a 14.728. Na média móvel, são 74 mortes diárias, com queda de 21% na comparação dos últimos 14 dias.

Fonte: G1