Jornal Povo

Prefeito da Baixada que busca o apoio do PT e de Bolsonaro revoltou a esquerda

RIO – Eleito em 2016 numa aliança com 12 partidos, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB), virou o pivô da mais recente divisão interna de uma dessas siglas – o PT – ao tentar repetir a dose na eleição municipal deste ano. Pré-candidato à reeleição, Waguinho teve um primeiro mandato marcado por investigações do Ministério Público do Rio (MP-RJ) por fraude a licitação e desvio de dinheiro público, além de ser alvo de pedido de cassação na Justiça Eleitoral. A tentativa de formar uma ampla aliança em 2020, que vinha imune às denúncias, acabou esbarrando na rivalidade entre petistas e bolsonaristas. que não querem dividir o mesmo palanque.

Um abaixo-assinado divulgado por lideranças nacionais do PT desde a última terça, e apoiado por seis ex-presidentes do partido, critica a manutenção da aliança com o prefeito de Belford Roxo, descrito como “notório aliado do bolsonarismo”. O ápice da contrariedade com Waguinho veio na última semana, após o prefeito receber o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, para inaugurar obras de saneamento concluídas com recursos federais. Um vídeo, gravado na visita, em que Flávio elogia a “competência do prefeito” passou a ser compartilhado por correligionários de Waguinho, que já pediu votos para Bolsonaro no segundo turno em 2018, disputado contra Fernando Haddad (PT).

Publicado após a direção nacional do PT ter se recusado, por 40 a votos a 36, a cancelar a aliança com Waguinho, o abaixo-assinado petista reunia cerca de 2,3 mil assinaturas até a manhã desta quinta-feira. Entre os signatários estão o ex-senador Lindbergh Farias e membros da bancada federal do partido, como Arlindo Chinaglia (PT-SP), Maria do Rosário (PT-RS) e Paulo Pimenta (PT-RS).

Waguinho esteve no lado oposto ao do PT na disputa municipal de 2012, mas foi apoiado pela sigla ao se lançar candidato novamente em Belford Roxo nas eleições municipais de 2016, após um mandato como deputado estadual pelo MDB. Há quatro anos, Waguinho reuniu em sua coligação siglas de diferentes matizes ideológicos, como Republicanos, PDT, PRTB, PSC, PPS (atual Cidadania), PR (atual PL), além do PT e até mesmo o PSL, que ainda não contava com a família Bolsonaro.

O PSL figura entre o principal doador da campanha de Waguinho em 2016: de acordo com a Justiça Eleitoral, foram R$ 200 mil repassados ao então candidato, eleito em segundo turno com 117 mil votos.

Irregularidades em campanha e gestão

Em março de 2018, a juiza Elizabeth Saad, da 152ª Zona Eleitoral, decidiu cassar os diplomas do prefeito Waguinho e de seu vice, Márcio Canella (MDB), por irregularidades na captação de recursos e nos gastos da campanha eleitoral de 2016. Segundo a investigação do Ministério Público Eleitoral (MPE), Waguinho teve despesas com material de campanha, via caixa dois, antes do período autorizado, ultrapassando o teto de gastos daquela eleição. Meses depois, porém, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) anulou a sentença.

Em 2019, em outra ação, o MP obteve o afastamento de Waguinho do cargo, por suspeitas de que o prefeito liderava uma organização criminosa que já havia desviado ao menos R$ 14 milhões em contratos públicos no município. Segundo a denúncia, houve irregularidades na contratação de empresas para coleta e destinação de lixo em Belford Roxo. Em junho do ano passado, dois meses após ser afastado, Waguinho retornou ao cargo graças a uma liminar concedida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli.

Em agosto de 2019, o desembargador do TRE-RJ Claudio Brandão de Oliveira – que assumiu a presidência do tribunal neste ano -, se manifestou pela absolvição de Waguinho em outra ação por abuso de poder político e econômico, desta vez relacionada às eleições de 2018. Embora não tenha concorrido, o prefeito de Belford Roxo apoiou as candidaturas de sua mulher, Daniela do Waguinho (MDB), eleita deputada federal, e de seu vice, Márcio Canella, a deputado estadual. O MP Eleitoral acusou o prefeito de obrigar funcionários do município a fazerem campanha pela mulher e pelo aliado.

Na decisão, embora tenha absolvido o prefeito citando a falta de “provas robustas e concretas”, o desembargador escreveu que havia “algo de muito errado” no tratamento dado por Waguinho a servidores municipais: “Na realidade, a dinâmica dos fatos permite entrever que havia algo de muito errado nas expressivas movimentações do quadro funcional em Belford Roxo, justamente no ápice das eleições gerais de 2018, (…) o que bem poderia motivar a espúria utilização da máquina pública em benefício das campanhas em questão”.

Cargos para membros do PT

Antes de incomodar dirigentes petistas, Waguinho nomeou na sua administração membros filiados ao diretório local do PT, como Tayná Sena, que se apresenta como pré-candidata à prefeitura neste ano. Em entrevista na última semana ao canal “TV Antivírus”, de uma corrente interna do PT, Tayná admitiu ter sido “secretária do gabinete” de Waguinho após o apoio do partido nas eleições de 2016, mas afirmou ter pedido exoneração, “apesar do bom salário”, por conta de posicionamentos do prefeito associados ao bolsonarismo.

Em 2018, quando foi candidata a deputada federal, Tayná afirmou ter sido agredida por seguranças de Waguinho durante um evento de campanha. Ela também reclama que correligionários do PT local apoiaram a campanha de Daniela do Waguinho há dois anos, ignorando outros nomes do partido.

— O PT hoje nao tem nenhuma justificativa política para manter essa aliança em Belford Roxo. Pode ter justificativa de interesses, mas política, não tem – afirmou Tayná.

Fonte: Jornal Extra