Jornal Povo

Rio tem a maior média móvel de mortes por Covid-19 dos últimos 30 dias

Pelo quarto dia consecutivo o estado do Rio voltou a apresentar um crescimento da média móvel de mortes maior que 15% em comparação com duas semanas atrás, considerado por especialistas como uma têndencia de aumento nos óbitos. Nesta segunda-feira, a média móvel é de 118 óbtios diários — a maior desde 25 de julho, quando a taxa foi de 127 mortes. O número desta segunda-feira representa um aumento de 64%, em comparação há 14 dias, o maior crescimento percentual desde o dia 28 de maio.

Segundo a secretaria estadual de Saúde, o Rio já acumula 15.392 óbitos por Covid-19 desde o início da pandemia e mais de 211 mil pessoas infectadas pela doença. Nas últimas 24 horas foram confirmados 412 novos casos e 100 óbitos.

Na cidade do Rio, o aumento da média móvel de óbitos continua acima de 15% pelo sexto dia consecutivo. Dados da secretaria estadual de Saúde apontam que a média diária de mortes na capital é de 69 mortes por dia,a maior desde o dia nove de julho, quando a média foi de 70 óbitos. Nesta segunda-deira o número subiu 94% em relação há duas semanas atrás, o maior aumento percentual desde 24 de maio.

No município do Rio, nas últimas 24 horas foram confirmados 397 novos casos e 85 novos óbitos. Ao todo a capital acumula 9.316 vítimas fatais e 87.164 pessoas infectadas pelo coronavírus.

A prefeitura nega que o Rio esteja em um momento que chamou de “repique de casos da Covid”. Segundo Patrícia Gutman, coordenadora de Vigilância em Saúde da prefeitura do Rio, o aumento dos óbitos nos últimos dias é devido a uma mudança nos critérios da confirmação de mortes, feita pelo Ministério da Saúde no início do mês. Ela explica que grande parte dos óbitos confirmados nos últimos dias são de semanas anteriores.

— Ainda temos mortes de maio e junho que estão passando por revisão, que é mesmo demorada. Muitas vezes é preciso levantar o histórico e o prontuário do paciente. No momento temos 636 óbitos em investigação aqui na cidade e temos até 90 dias para rever.

Especialistas atribuem aumento à flexibilização

Os números altos registrados nos últimos dias acontecem após um período de tendência de queda e de estabilidade, que levou à flexibilização das atividades econômicas. O pesquisador Guilherme Travassos, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), comparou a situação da pandemia no Rio com o relevo da cidade. Ele diz estar preocupado com as novas infecções pelo novo coronavírus, que, em sua avaliação, não dão sinais de arrefecimento:

— Se analisarmos a distribuição da média móvel de casos ao longo do período, parece que estamos desenhando as montanhas do Rio. De um “morro”, temos uma descida suave, e logo passamos a outro. Isso indica uma persistência da propagação viral.

Tanto o estado como a prefeitura atribuem esse aumento à maior testagem da população e à inclusão de novos casos baseados apenas em diagnósticos clínicos, como estabelece uma nova regra do Ministério da Saúde.

Para o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ, no entanto, o aumento da média móvel — tanto na capital como no interior do estado — está associado à flexibilização do isolamento social:

— Estamos no pior dos mundos: não podemos fazer afrouxamento maior, nem estamos próximos do fim do isolamento social. A população flexibilizou por conta própria antes das decisões governamentais. Como não aderimos adequadamente às medidas de distanciamento, conseguimos achatar a curva, mas não na mesma intensidade de países como França, Espanha e Itália.

Os números, no entanto, não alarmam o médico Alexandre Campos, assessor da Secretaria municipal da Casa Civil e integrante do comitê científico da prefeitura. Ele reconhece que a taxa de transmissão da doença voltou a ficar acima de 1, indicando uma expansão dos contágios. Segundo ele, esse dado deve refletir na próxima decisão da equipe que, na semana passada, deliberou pelo adiamento da nova fase da flexibilização, quando seria permitida a reabertura de cinemas, teatros e casas de eventos. Na opinião de Campos, é provável que a medida se mantenha nas próximas reuniões:

— Tomamos a decisão de continuar observando por mais sete dias. No presente, não me parece haver condições de evoluir para a fase 6. Também há desrespeito às regras de ouro, e, para completar, estamos no inverno, quando são registrados mais casos de gripe e síndromes respiratórias.

Campos ressalta, porém, que um recuo nas medidas de flexibilização, no momento, está fora de pauta.

Os municípios com mais mortes no estado são:

  • Rio de Janeiro – 9.316
  • São Gonçalo – 639
  • Duque de Caxias – 633
  • Nova Iguaçu – 496
  • São Joao de Meriti – 370
  • Niterói – 347
  • Campos dos Goytacazes – 280
  • Belford Roxo – 246
  • Itaboraí – 193

As cidades com mais casos confirmados desde o início da pandemia são:

  • Rio de Janeiro – 87.164
  • Niterói – 10.432
  • São Gonçalo – 10.405
  • Duque de Caxias – 7.699
  • Belford Roxo – 6.819
  • Macaé – 6.775
  • Nova Iguaçu – 5.104
  • Volta Redonda 5.040
  • Angra dos Reis – 4.599

Fonte: Jornal Extra