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Governador interino do Rio, Cláudio Castro quer critérios claros para usar helicóptero em operações

O governador interino do Rio, Cláudio Castro, já elegeu suas duas prioridades ao assumir o cargo após o afastamento de Wilson Witzel: saúde e segurança pública. Em duas reuniões entre sexta-feira e ontem com representantes das áreas, Castro determinou foco no combate à pandemia de coronavírus e uma ação para viabilizar um entendimento com o Supremo Tribunal Federal (STF) em relação às operações policiais em comunidades. O governador interino quer estabelecer critérios claros para o uso de helicópteros nas ações.

Na sexta-feira, horas após Wilson Witzel ser afastado do governo por determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, Castro sugeriu à Procuradoria Geral do (PGE-RJ) que peça, judicialmente, esclarecimentos ao STF sobre as restrições. O órgão deverá apresentar um embargo de declaração, medida jurídica usada para esse tipo de caso. Por sete votos a três, o plenário do Supremo decidiu, no último dia 18, que o uso de helicópteros deve acontecer “apenas nos casos de observância da estrita necessidade”.

Ainda em relação à área de segurança, Castro não quer que se repitam situações como a da última quinta-feira, em que representantes das polícias Civil e Militar deram declarações conflitantes sobre uma invasão do Complexo do São Carlos, no Estácio, por traficantes de dez comunidades. A comerciária Ana Cristina da Silva, de 25 anos, foi morta durante um confronto, enquanto protegia o filho de 3 anos. O porta-voz da PM, coronel Mauro Fliess, alegou que a corporação poderia ocupar as favelas da região se tivesse informações de setores de inteligência que indicassem a iminência do ataque. Já o delegado Felipe Curi, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, apresentou outro entendimento: para ele, “ações preventivas ficam fora desse conceito de excepcionalidade”.

Cláudio Castro durante a campanha de Witzel, em 2018
Cláudio Castro durante a campanha de Witzel, em 2018 Foto: Gabriel de Paiva

Duas semanas antes do ataque, a Inteligência da Polícia Civil detectou uma possibilidade de invasão do Morro da Mineira, mas nenhuma providência foi tomada. Na reunião com representantes das polícias, o governador em exercício disse que não quer mais ruídos entre as duas corporações. Integrantes do governo e das polícias avaliam que a omissão do governador Wilson Witzel colaborou para as sucessivas derrotas do estado no STF quanto à política de segurança do governo.

Na manhã de ontem, Castro se reuniu, no Palácio Guanabara, com o secretário de Saúde, Alex Bousquet. A pasta é especialmente sensível, já que, além de ter a responsabilidade de combater pandemia, foi a origem dos escândalos que acabaram por causar o afastamento de Wilson Witzel por 180 dias. Segundo a assessoria de imprensa do governo, a pauta do encontro foi o combate à Covid-19.

“Não podemos deixar que nada tire nosso foco da pandemia. Saúde é prioridade, por isso, o acompanhamento sistemático para manter nossas ações na capital e no interior. Vamos unir nossos esforços com outras esferas de poder e trabalhar com diálogo e parceria, além de reforçar os instrumentos de controle e transparência”, disse Castro, em nota.

O governador interino não fará nenhuma nomeação ou exoneração num primeiro momento. O perfil mais discreto deve ser manter pelo menos até quarta-feira, quando o afastamento de Witzel vai ser julgado pela Corte Especial do STJ. Ele também está na mira das investigações do Ministério Público Federal, e sua casa foi alvo de um mandado de busca e apreensão na sexta-feira.

Fonte: Jornal Extra