Jornal Povo

Em delação, ex-secretário de saúde do Rio detalha divisão da propina no governo

Embora o governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), tenha negado o recebimento de qualquer valor ilícito em seu governo, em delação aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF), o ex-secretário de saúde, Edmar Santos, revelou como era o esquema da divisão de propinas no alto escalão do Governo. 

conteúdo da delação de Edmar está descrito em 433 páginas do relatório do MPF da operação Tris in Idem, deflagrada na sexta-feira (28).

De acordo com o MPF, “os valores obtidos de forma ilícita na Saúde iam para um caixa único da organização criminosa. O pagamento de propina ao primeiro escalão do governo e a operadores se dividia na seguinte proporção: “30% para o então secretário de Saúde, Edmar Santos, 20% para [Wilson] Witzel, 20% para o próprio Pastor Everaldo, 15% para Edson Torres, e 15% para Victor Hugo Barroso”. 

Segundo o que relatou o ex-secretário aos procuradores, apesar do percentual menor em relação à Edmar, “Witzel recebia pagamentos advindos de esquemas ilegais de todas as pastas do Estado”.

Com base nos dados levantados pelo MPF, se contabilizarmos apenas os valores ilícitos da Saúde, Witzel teria recebido em um ano R$ 20 milhões em propina. Em entrevista ao Jornal Povo na segunda-feira (31), Witzel negou as acusações e se referiu a Edmar como “ridículo” e “doente mental”.

Em delação, o ex-secretário também afirmou que os pagamentos de propinas aconteciam em todas as pastas e não apenas na secretaria de saúde e que pelo menos dois secretários de governo recebiam mesadas fixas.

Os procuradores afirmam que, para se ter uma ideia do tamanho da organização criminosa supostamente encabeçada por Wilson Witzel, “levando-se em conta apenas o esquema criminoso montado para a contratação de Organizações Sociais (OS) na área de Saúde, o grupo pretendia angariar, de forma ilícita, cerca de R$ 400 milhões durante os quatro anos do mandato de Witzel”.

De acordo com o que consta na denúncia do MPF, as contratações das OS na Saúde movimentam anualmente cerca de R$ 2 bilhões (ou R$ 8 bilhões em quatro anos de mandato).

Os procuradores destacam que a maioria dos administradores das OSs contratadas são mencionados por Edmar Santos, em sua delação, como integrantes do esquema criminoso de desvio de verbas na pasta. Ainda de acordo com o MPF, o grupo tinha como método cobrar 5% de propina de todos os contratos firmados na área da Saúde.