Jornal Povo

Quiosques são removidos por risco de desabamento e donos reclamam de falta de conservação na Praia da Barra

Donos de quiosques da praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, estão sofrendo para conseguir trabalhar. Após a pandemia obrigar os estabelecimentos a fecharem por meses, agora há uma nova dor de cabeça: o risco de desabamento por conta da alta das marés. Por conta do desgaste da estrutura, o proprietário Rafael Tostes teve seu quiosque removido pela concessionária Orla Rio nesta quarta-feira. Ele diz que há pelo menos outros quatro estabelecimentos caindo, além dos postos de salva-vidas, e considera que a medida poderia ter sido evitada se a Prefeitura se empenhasse na manutenção do local.

— Meu quiosque foi retirado ontem por risco de desabamento. Ao longo de uns 10, 15 dias, a maré vem subindo e levando o terreno pouco a pouco, mas a equipe de conservação da Prefeitura nada fez. Com o passar do tempo, foi degradando o terreno até chegar à estrutura da calçada, perdendo a sustentação do quiosque. Hoje, mais um quiosque está sendo retirado na altura do número 53, há outros três que já foram retirados há mais de um mês e, até agora, a Secretaria não fez nada — reclama.

Tostes gerencia o quiosque há 10 anos, contando com uma equipe de cinco funcionários contratados via CLT. Eles não sabem como ficará sua renda após a remoção.

Imagem mostra desgaste da estrutura do calçadão
Imagem mostra desgaste da estrutura do calçadão Foto: Fabio Rossi

— Nós estamos sem ter como trabalhar e não sei ainda o que vou fazer. A gente sustenta cinco famílias com o quiosque, eu pago aluguel, foi suspenso durante a pandemia mas em 10 de setembro veio a cobrança, que foi paga. Estou com várias dívidas devido à pandemia, porque o estabelecimento ficou fechado. E agora, sem o quiosque, quando vai começar primavera é verão, com tempo melhor e alta temporada… não sei o que fazer — lamenta.

O proprietário lembra que a situação atinge outros estabelecimentos e até mesmo os postos de salva-vidas. De acordo com ele, em alguns os bombeiros ficam na areia, fora da estrutura.

— Mais quiosques estão cedendo. O 49 vai ser deslocado para frente, porque tem uma parte maior de calçadão; o 46 também caiu. Tem outro que está fechado há cinco meses e a secretaria de conservação não fez nada. Ele não tinha funcionário porque o negócio é familiar, mas está esse tempo todo com prejuízo. Já são cinco caindo no posto 8 da Praia da Barra, além do posto dos salva-vidas. Se eu não me engano, os postos 6 e 7 estão interditados. Total descaso da prefeitura em fazer a manutenção de um dos pontos turísticos do carioca — diz.

Segundo o dono de um quiosque removido, o Posto 8 de salvamento dos Guarda-Vidas está condenado e interditado pela Defesa Civil e os salva-vidas estão na areia
Segundo o dono de um quiosque removido, o Posto 8 de salvamento dos Guarda-Vidas está condenado e interditado pela Defesa Civil e os salva-vidas estão na areia Foto: Fabio Rossi

Tostes espera receber algum tipo de apoio da Orla Rio para pagar os salários de sua equipe. Segundo ele, a concessionária diz que a responsabilidade pelo caso é da equipe de conservação da prefeitura. Mas o empresário reclama que nenhum funcionário da pasta esteve por lá.

— Eu assinei um contrato com a Orla Rio, eu pago aluguel e espero que haja algum seguro por parte deles. Eu não quero nada para mim, só desejo que, pelo menos, seis meses de salário dos meus funcionários sejam garantidos. Eles não têm onde trabalhar, e eu não tenho como recorrer hoje, rescindir o contrato deles, porque não tenho linha de crédito no banco em decorrência das dívidas da pandemia. Eu também aderi à MP 936 [de redução de carga horária e salários], que garante a eles um período de estabilidade. Até agora, o presidente da Orla nem entrou em contato, mandou um diretor falar aqui comigo mas não se posicionou em nada, não me disse nada de que seria resolvido, de que eles se empenhariam, para que eu ficasse mais calmo — diz.

O que dizem Prefeitura e Orla Rio

Em nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação afirmou que não pode relizar intervenção na orla durante o período de ressaca.

“Qualquer intervenção na Orla só pode ser feita após o fim do período de ressaca. Qualquer serviço realizado durante os meses de ressaca, mesmo que haja períodos em que o fenômeno não esteja ocorrendo, poderá colocar a perder todo o investimento feito. As obras são complexas e têm período longo de execução. Ações referentes a retiradas de quiosques são da Orla Rio, que possui a concessão”, diz o texto.

Já a Orla Rio lembrou que esta é a sétima ressaca do ano e afirmou que, em todas, “a concessionária cumpriu com muito mais do que suas responsabilidades e obrigações. Também destacou que o presidente João Marcello Barreto não esteve ontem na praia porque está isolado em casa, se recuperando da Covid-19. Garantiu, ainda, que está atuando junto à Prefeitura para solucionar a situação dos quiosqueiros o mais rápido possível. Confira na íntegra:

“Foi com surpresa e perplexidade que recebemos a reclamação do operador do quiosque do Posto 8, na Barra da Tijuca, já que na próxima semana vamos nos reunir para avaliar sua situação e propor soluções alternativas. Além disso, o quiosque em questão vem recebendo apoio e acompanhamento das áreas de operações e manutenção desde que passou a sofrer risco de desabamento. Ontem (17 de setembro), inclusive, nosso diretor institucional esteve em contato o dia inteiro e nossos técnicos saíram do local às 3h levando material do quiosque para ser guardado em nossa sede.

‘Em nenhum momento fugimos da nossa responsabilidade com os operadores ou os deixamos na mão. Eu mesmo, pessoalmente, tenho participado de todas as retiradas, limpeza e manutenção de quiosques durante as ressacas’, afirma o presidente da Orla Rio, João Marcello Barreto, que não esteve presente na operação de ontem por estar isolado em casa se recuperando da Covid-19. ‘Durante esta pandemia, respaldamos nossos quiosqueiros com inúmeras condições comerciais mais favoráveis, fizemos doações de produtos para que retomassem as atividades, montamos um projeto completo de treinamento dos mais de três mil trabalhadores de quiosques e entregamos vários outros materiais para que pudessem trabalhar de acordo com as novas regras e normas de higiene e segurança. Estas ações nos custaram cerca de R$ 1 milhão’, completa João Marcello Barreto, ressaltando que o seguro para os 309 quiosques administrados pela concessionária não cobre catástrofes naturais, cobertura inexistente no mercado.

A Orla Rio ainda está atuando junto à Prefeitura para que tome as devidas providências para a rápida recuperação do calçadão e das consequências da erosão, possibilitando a reinstalação deste e de outros quiosques atingidos e a retomada das atividades com segurança.”

Fonte: Jornal Extra