RIO — Quinta-feira, 10h30. Uma família chega ao Trem do Corcovado e segue em direção à fila para a compra dos bilhetes. Sem respeitar as marcações, de dois metros de distância, todos se aglomeram ao lado de outro grupo que aguardava a vez. Na hora da tradicional foto no painel da entrada, as máscaras passam do rosto para as mãos, apesar dos alertas de uma funcionária. As cenas se repetem próximo à estátua do Cristo. Durante dois dias, O GLOBO testou as regras de ouro da Prefeitura do Rio para a reabertura de pontos turísticos da cidade e percebeu vários desrespeitos — apesar de os locais darem condições para que as normas sejam cumpridas.
No Santuário do Cristo Redentor, deitar no chão para conseguir o melhor ângulo da foto está entre as proibições. Contudo, a regra é frequentemente burlada, assim como o uso de máscaras e o distanciamento — a maior aglomeração acontece nos pontos de observação mais disputados, como a vista para o Pão de Açúcar.
A oferta de álcool em gel também estava limitada, na última quinta-feira, à saída dos elevadores, aos banheiros e às roletas de entrada e saída. Os três totens com sensor eletrônico para dispenser do produto instalados no platô do santuário não estavam funcionando.
— Ainda bem que eu trouxe o meu álcool de casa — comentou uma turista mineira . Um único funcionário tentava, em vão, conscientizar crianças, adultos e idosos.
No AquaRio, na Zona Portuária, logo na entrada, tapete para limpar os pés, medição de temperatura e álcool em gel. O público atendeu ao alerta do uso de máscaras, no ambiente fechado. Mas em uma das atrações mais aguardadas, o túnel principal provoca uma aglomeração quase que inevitável: o fluxo não flui, já que todos querem registrar uma foto ao lado de tubarões e arraias.
Nas praias, mais regras descumpridas: presença de banhistas na areia, pessoas sem máscara, ambulantes com bebidas alcoólicas, venda de alimentos não industrializados, prática da altinha à beira-mar e uso de cangas, cadeiras e toalhas. Nem a presença de carros da Guarda Municipal inibiu as irregularidades. Situação semelhante vive a Mureta da Urca, outro point dos jovens na Zona Sul. No Parque Lage, no Jardim Botânico, o sistema de fila com marcação para fotos na piscina do palacete tem funcionado.
O que dizem os pontos turísticos e a Prefeitura do Rio
A assessoria do Santuário Cristo Redentor alega que a fiscalização do local deve ser feita pela Guarda Municipal e afirma que testa, desde o último sábado, alertas sonoros orientando sobre a importância de cumprimento das regras. Já sobre a ausência do álcool em gel, explica que os totens quebraram e novos dispenseres serão entregues por outra empresa em breve. Por enquanto, o produto será oferecido em cestas colocadas pelo platô.
Já o Trem do Corcovado reconhece, em nota, o desafio de fazer com que os frequentadores cumpram os protocolos vigentes. “Em várias áreas de lazer, essa lei é ignorada pelo simples fato de que muitos ignoram o estado de pandemia em que vivemos”. A empresa decidiu então aumentar o número de colaboradores com informes constantes e também implantar um aviso sonoro informando da necessidade do uso das máscaras e do distanciamento.
O AquaRio, em nota, esclarece que a regra de entradas separadas continua valendo e que todo o circuito está ostensivamente sinalizado, com aumento de efetivo de funcionários para manter a fluidez do fluxo. “Continuamos seguindo à risca as regras de ouro da prefeitura e realizando pequenos ajustes operacionais sempre que necessário. O sistema de ar condicionado do AquaRio é aberto, ou seja, o ar captado pelos exaustores do circuito é 100% descartado e o ar gelado que entra é 100% novo. Desta forma, não há reaproveitamento do ar de exaustão. Também vale ressaltar que seguimos um procedimento amplo de limpeza do circuito de visitação em três horários fixos ao dia, além de limpeza permanente durante horário de funcionamento.”
Por sua vez, a Prefeitura do Rio destaca que a Guarda Municipal mantém ações diárias de patrulhamento e fiscalização com 7.501 multas aplicadas, incluindo em pontos turísticos, entre 5 de junho e 16 de setembro — 80% por falta do uso de máscaras. Só na orla, segundo a prefeitura, foram 1.673 autuações por permanência irregular na areia. “Equipes bilíngues do Grupamento de Apoio ao Turista (GAT) atuaram para orientar turistas nacionais e estrangeiros quanto ao cumprimento do decreto que determina o uso obrigatório da máscara facial no entorno do Corcovado e do Pão de Açúcar”.
A Guarda Municipal aponta ainda que mantém a fiscalização nos micropolos gastronômicos da cidade, incluindo a Mureta da Urca, com agentes da 9ª Inspetoria da Guarda Municipal (Botafogo) e apoio de militares do 2º BPM (Botafogo). “O patrulhamento ocorre nos períodos da tarde, da noite e da madrugada. Eles fiscalizam o horário de fechamento dos bares e restaurantes e o uso de máscaras de proteção, além de evitarem aglomerações. Entre julho e agosto foram aplicadas 317 multas sanitárias na Urca a cidadãos flagrados sem máscaras e a estabelecimentos por aglomeração em via pública.”
Fonte: O Globo