As recentes goleadas tiveram maior peso, foram decisivas, mas a demissão de Ramon Menezes teve mais ingredientes do que apenas o campo e bola. Surpreendente para muitos, a saída começou a se desenhar antes mesmo da derrota para o Atlético-MG, no último domingo, e traz questões que envolvem o último mês do Vasco, desde a eliminação na Copa do Brasil até a queda na tabela do Brasileirão.
A sequência de seis jogos sem vitória e as duas últimas goleadas (sete gols sofridos), obviamente, tiveram um peso maior. No entanto, a política vascaína – a um mês das eleições -, questões de relacionamento e pressão da torcida aceleraram o processo de fritura, que vinha se desenhando aos poucos.
O Jornal Povo lista abaixo fatores e bastidores que levaram Ramon a ser demitido pouco mais de seis meses após ser efetivado, tendo comandado a equipe em 16 partidas (2 pelo Carioca, 2 pela Copa do Brasil e 12 pelo Brasileirão). Ao todo, foram oito vitórias, três empates e cinco derrotas. Além de Ramon, deixam o Vasco o auxiliar Thiago Kosloski, o preparador físico Léo Cupertino, o auxiliar permanente Júnior Lopes e o coordenador Antônio Lopes.
Queda na Copa do Brasil e goleadas no Brasileiro
Seis jogos, quatro derrotas, dois empates, nenhuma vitória, duas goleadas… Antes de qualquer bastidor, a demissão de Ramon se deu pelos resultados. Em um mês o “Ramonismo” deu lugar a frustrações e críticas.
Sem resultados, alguns problemas ganharam evidência:
- Dificuldade para encontrar o time: por conta de Covid-19, lesões e suspensões, não conseguiu repetir uma escalação e parecia não ter convicção nos substitutos
- Insistência com jogadores perseguidos pela torcida, casos de Pikachu, Henrique e Fellipe Bastos
- Poucas variações: não abriu mão do esquema com dois pontas, que não vinha funcionando
– Assumi a equipe em meio à pandemia e quarentena e mesmo assim colocamos nossa proposta de jogo. Os atletas, grandes parceiros do clube, entenderam, abraçaram a ideia e começamos criando expectativas antes esquecidas. Infelizmente, a sequência boa do início não se manteve e o trabalho foi encerrado – disse Ramon em comunicado após a demissão.
Política entra em campo
Se os resultados foram determinantes para a queda, o processo eleitoral do Vasco acelerou a demissão. Falta menos de um mês para o pleito (7/11), e o presidente Alexandre Campello busca a reeleição – por esse objetivo, não deixou de cumprir agenda e buscar apoio nem num dia de demissão e na data do próprio aniversário, nessa quinta. Tudo e, especialmente, o que acontece em campo, tem potencial de influenciar no resultado das urnas.
Portanto, a ideia de dispensar Ramon não surgiu do nada, após as duas goleadas. Na semana passada, antes mesmo da viagem para Belo Horizonte, Alexandre Campello ouviu de seus pares que, se fosse para demitir o treinador, a hora era agora. Quanto mais ele esperasse, maior seria o reflexo nas eleições.
Na noite de terça-feira, véspera da goleada para o Bahia, Campello participou de evento para anunciar a aliança com a Avante Gigante, grupo do agora ex-pré-candidato Fred Lopes. O vice de futebol José Luis Moreira esteve presente, e o trabalho de Ramon já era questionado por sócios, insatisfeitos com os últimos resultados e com críticas turbinadas após a goleada sofrida contra o Atlético-MG.
Problemas com staff
Ramon era querido pelo elenco desde os tempos de auxiliar e ainda contava com carinho de parte dos jogadores. Houve surpresa e até indignação de parte do grupo com a demissão – muitos ficaram sabendo pelo grupo de Whatsapp dos atletas -, embora, claro, houvesse focos de insatisfação com a comissão técnica.
A relação interna, porém, não era um mar de flores, principalmente com os funcionários. Alguns entendiam haver pouco diálogo com o técnico.
Ramon teve problemas com staff, especialmente em relação à questão física dos jogadores. Há quem coloque na conta da comissão técnica, por exemplo, as repetidas lesões de atletas com Andrey, Juninho, Ricardo e Vinícius. Com poucas opções, o treinador, no entender dessas pessoas, teria apressado o retorno dos jogadores antes do prazo ideal. O preparador físico Léo Cupertino, indicado por ele, também teve problemas internos e foi questionado sobre o fato de haver muitas lesões musculares.
– O clima estava insustentável – disse uma fonte ouvida sobre o relacionamento entre comissão técnica e funcionários.
A chapa esquentou, por exemplo, antes do jogo contra o Bragantino. Benítez e Andrey foram vetados pelo departamento médico, decisão que irritou o treinador. As divergências geraram um enorme mal-estar e minaram a relação interna. O vazamento de informações sobre treinos também foi algo que contrariou Ramon.
Pressão da torcida
Sem público nos estádios, as redes sociais ganharam ainda mais força e influenciam, especialmente, com a proximidade da eleição. A paciência com Ramon foi gradualmente acabando com os resultados, e a chave virou após as duas últimas goleadas, para Atlético-MG e Bahia. Desde quarta muita gente pedia a saída do treinador.
Houve também protesto no aeroporto. Duas organizadas, com diferentes visões políticas, brigaram no setor de desembarque do Galeão, um pouco antes do retorno da delegação ao Rio de Janeiro, após a derrota para o Bahia.
Cerca de quatro carros seguiram o ônibus do Vasco até São Januário. A delegação estava escoltada e não houve contato com os torcedores. A perseguição, no entanto, deixou o clima, que já era ruim, ainda mais tenso.
Fonte: Ge