O general do Exército Eduardo Pazuello assumiu o Ministério da Saúde em 15 de maio, após o pedido de demissão do médico Nelson Teich. O militar ficou no posto interinamente até setembro, quando foi efetivado pelo presidente Jair Bolsonaro. Nestes primeiros cinco meses de gestão, os dois pareciam viver uma “lua de mel” e falar a mesma língua. Tanto que, dias depois de assumir o cargo, Pazuello mudou o protocolo da pasta sobre a prescrição de hidroxicloroquina a pacientes com Covid-19: o remédio, sem comprovação científica no combate ao novo coronavírus, passou a ser recomendado para ser utilizado mesmo em casos leves da doença. Mas nesta quarta-feira (21), ao desautorizar publicamente o subordinado, Bolsonaro deu os primeiros sinais de desgaste na relação com o seu terceiro ministro da Saúde.
Menos de 24 horas após o Ministério da Saúde anunciar a intenção de adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, vacina candidata contra a Covid-19 do laboratório chinês Sinovac Biotech testada no Brasil pelo Instituto Butantan (SP), o presidente afirmou que o imunizante não será comprado pelo governo federal. A assinatura de um protocolo de intenções para adquirir as doses foi anunciada na terça-feira pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), após uma reunião de todos os chefes de executivos estaduais com Pazuello. Em sua fala aos governadores, divulgada pela equipe de Doria, o ministro chamou o imunizante de “vacina brasileira” e ressaltou que o Instituto Butantan já é o principal fornecedor de vacinas para a pasta.
O acordo, porém, repercutiu mal entre a ala mais conservadora dos apoiadores do presidente, que o pressionaram nas redes sociais principalmente por se tratar de uma empresa chinesa. Ao responder a um internauta que criticava a negociação para a compra de doses da Coronavac, Bolsonaro postou: “Não será comprada”.
À tarde, em visita ao Centro Tecnológico da Marinha, em Iperó (SP), Bolsonaro foi taxativo sobre a compra de doses da Coronavac:
— Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade.
Pazuello, que testou positivo para a Covid-19 nesta quarta-feira e está em isolamento, teria ter demonstrado a interlocutores que não gostou da forma como foi desautorizado, mas que colocaria “panos quentes” no assunto. Segundo o colunista de O Globo Lauro Jardim, Bolsonaro afirmou a auxiliares que o ministro estava “querendo aparecer demais, está gostando dos holofotes, como o Mandetta”, referindo-se a Luiz Henrique Mandetta, titular da Saúde até 16 de abril, quando foi demitido depois de uma longa queda de braço com o presidente sobre o uso da cloroquina. No lugar dele, assumiu Nelson Teich, que entregou o cargo menos de um mês depois, também por discordar da insistência de Bolsonaro em recomendar a cloroquina para o tratamento da Covid-19.
Fonte: Jornal Extra