Jornal Povo

“Quando um não quer, dois não brigam”, diz Ramos em passeio de moto com Bolsonaro

Brasília — O presidente Jair Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada na manhã deste domingo de moto, ao lado dos ministros da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e da Casa Civil, Braga Netto, entre outros acompanhantes. O passeio ocorre em meio às tensões no governo entre a ala militar, da qual Ramos faz parte, e o núcleo mais ideológico do governo, que tem entre seus representantes o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente.

Salles dirigiu críticas públicas a Ramos nas redes sociais, agitando a militância bolsonarista, que acusa os militares de tentarem sabotar o governo. Ontem, os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, respectivamente, manifestaram apoio a Ramos. Maia chegou a dizer que Salles “destrói” o meio ambiente e, agora, o governo.

Bolsonaro passou por uma padaria, onde provocou aglomerações de apoiadores. Sem máscara, apertou a mãos das pessoas, fez fotos. Depois, seguiu para uma feira da cidade, que fica no Cruzeiro, região administrativa do Distrito Federal.

Perguntando pelo GLOBO se a situação estava pacificada, Luiz Eduardo Ramos respondeu:

— Quando um um não quer, dois não brigam.

O embate foi deflagrado publicamente na quinta-feira, quando Salles teceu críticas contra o colega da Secretaria de Governo chamando-o de #mariafofoca em uma publicação no Twitter. Na ocasião, Salles comentava sobre uma nota da colunista do GLOBO Bela Megale a respeito da disputa entre as alas ideológica e militar do governo.

Na mesma semana, Bolsonaro agiu para colocar panos quentes em outra crise, desta vez causada por ele próprio, quando desautorizou publicamente o ministro da Saúde, que é general da ativa, Eduardo Pazuello, a comprar 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, feita em parceria entre uma empresa chinesa e o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, do rival político João Doria.

Bolsonaro foi apoiado pela militância radical, que rechaça a vacina por vir da China, país chamado por eles de “comunista “, e que passou a atacar Pazuello, mas desagradou a outros grupos dentro e fora do governo. Um dia após desautorizar Pazuello, o presidente fez uma visita surpresa a ele, que está com Covid-19, e gravou uma transmissão ao vivo nas redes sociais para mostrar um clima amistoso.

Presidente se irrita com pergunta sobre arroz

Na feira do Cruzeiro, segunda parada do tour de Bolsonaro, o presidente resolveu perguntar a uma vendedora se ela estaria disposta a tomar uma vacina contra o vírus.  Sem nomeá-la, o presidente estava se referindo à Coronavac, que vem sendo testada para, caso demonstre eficácia, ser produzida pelo Instituto Butantan em parceria com um laboratório chinês.

—  O que vocês acham da vacina que querem empurrar goela abaixo? — perguntou o presidente.

— Não tomo de jeito nenhum. Ainda mais vindo de onde vem — respondeu a comerciante.

Bolsonaro, então, disse que não queria ver “nenhum escândalo” envolvendo a produção do imunizante.

— Já tivemos alguns escândalos com a verba para respirador. Não podemos ter escândalo com a vacina. Nós estamos atrás da vacina brasileira, com muita tranquilidade e responsabilidade. Não é de uma hora para a outra, ‘ah, tal dia vai ter a vacinação’.

Após falar sobre o assunto, a vendedora reafirmou que não teria coragem de tomar qualquer vacina. Bolsonaro, então, não se mostrou disposto a convencê-la do contrário.

— A gente vai ter que conviver com o vírus a vida toda. Agora, não é só o vírus. Tem o desemprego também que mata. Suicídio. Brigas dentro de casa. Tem que ter responsabilidade sem covardia. Ok, imprensa, sem covardia — disse o presidente.

Antes, Bolsonaro disse à mesma mulher que estava “certo” em “tudo” o que falou sobre a pandemia. Ele aproveitou para atacar a imprensa.

— Agradecemos à imprensa esse pânico.

Quando estava de saída da feira, antes de subir em uma moto, Bolsonaro ficou irritado com uma pessoa que o questionou sobre o preço do arroz.

— Quer que eu tabele? Se quiser eu tabelo, mas vai ter que comprar lá na Venezuela! — disse Bolsonaro, em tom de voz exaltado.

Fonte: O Globo