Jornal Povo

Rio tem mais operações em áreas do tráfico do que nas dominadas pela milícia, indica estudo

Embora milicianos tenham o controle de 57% da área do Rio, as operações policiais na cidade são mais frequentes nas regiões dominadas por traficantes do que nos territórios onde prevalece a milícia.

A constatação está em um relatório parcial do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), e do Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ).

O estudo aponta o valor percentual das operações policiais segundo o tipo de grupo armado predominante em em cada bairro (veja gráfico abaixo).

Gráfico mostra valores percentuais referentes a áreas de operação da polícia no Rio em 2019 — Foto: Editoria de Arte/G1
Gráfico mostra valores percentuais referentes a áreas de operação da polícia no Rio em 2019 — Foto: Editoria de Arte/G1

Em números absolutos, o Geni analisou um total de 569 operações em 2019:

  • 259 operações (45,5%): área “em disputa” (inclui disputa entre traficantes, milícias ou os dois)
  • 233 operações (40,9%): área do Comando Vermelho (tráfico)
  • 39 operações (6,9%): área do Terceiro Comando Puro (tráfico)
  • 37 operações (6,5%): área de milícia
  • 1 operação (0,2%): área do Amigos dos Amigos (tráfico)

Ao cruzar mapas localizando os domínios de grupos armados com a base de dados sobre operações do Geni, os pesquisadores identificaram que em bairros na Zona Oeste onde quem manda é a milícia houve menos operações policiais. É o caso de Guaratiba, Barra da Tijuca e Campo Grande.

Por outro lado, em Bangu (também na Zona Oeste), Méier e Pavuna (Zona Norte), o cruzamento das informações mostrou que houve mais ações da polícia. Nesses bairros, segundo a pesquisa, “há porções territoriais em disputa e importante presença de ‘comandos’ do tráfico de drogas”.

Gráfico mostra número de operações policias — Foto: Reprodução/Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro e Geni-UFF
Gráfico mostra número de operações policias — Foto: Reprodução/Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro e Geni-UFF

Área sob domínio do CV com 6 vezes mais operações que as de milícias

De acordo com os dados, no ano passado o número de operações em áreas sob domínio do Comando Vermelho foi seis vezes maior do que a quantidade de ações em territórios controlados por milicianos.

O gráfico também mostra que o percentual de ações policiais em regiões chefiadas por bandidos do Terceiro Comando Puro equivale ao de combate a grupos milicianos. E em áreas comandadas por traficantes da facção Amigo dos Amigos houve 0,2% das operações policiais.

O estudo sustenta, ainda, que a maioria das incursões da polícia ocorre em áreas sinalizadas pelos pesquisadores como “em disputa” pelos criminosos.

Favorecimento por agentes públicos

Os pesquisadores do Geni também oferecem uma explicação para o resultado do levantamento. Segundo a análise, o favorecimento de grupos milicianos pode ter relação com a “ativa participação de agentes públicos”, sejam eles policiais civis, militares, parlamentares e outros.

O relatório refuta a versão de que as operações são, de fato, efetivas no combate ao crime. Para os pesquisadores, o resultado do estudo serve de alerta para o “uso das operações policiais como um instrumento de favorecimento de alguns grupos armados em relação aos seus rivais”.

3,7 milhões de pessoas em áreas dominadas pelo crime

Mapa detalha controle de grupos armados no Rio de Janeiro — Foto: Disque-Denúncia (Elaboração Fogo Cruzado, GENI-UFF, NEV-USP, Pista News)
Mapa detalha controle de grupos armados no Rio de Janeiro — Foto: Disque-Denúncia (Elaboração Fogo Cruzado, GENI-UFF, NEV-USP, Pista News)

No dia 19 deste mês, uma outra pesquisa também sobre a expansão de organizações criminosas no Rio revelou que milícia e tráfico estão presentes em 96 dos 163 bairros da cidade.

Nessas áreas subjugadas, os pesquisadores estimaram que vivem cerca de 3,76 milhões de pessoas do total de 6.747.815 habitantes do Rio — segundo dados o IBGE.

Batizado de Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, o estudo identificou que milicianos controlam área maior do que traficantes de drogas na capital fluminense.

Fonte: G1