A primeira audiência de julgamento do processo em que a deputada federal Flordelis dos Santos é acusada de mandar matar o marido, o pastor Anderson do Carmo, foi marcada nesta sexta-feira, na 3ª Vara Criminal de Niterói, por declarações dos delegados que comandaram as investigações do homicídio, ocorrido em junho de 2019, e da própria parlamentar. A delegada Bárbara Lomba, ex-titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo e primeira responsável pelo caso, disse que a conquista do mandato parlamentar por Flordelis traçou o destino de Anderson.
— O mandato foi um divisor de águas para determinar que ele tinha que morrer mesmo. A autoconfiança dele era tão grande que ele não acreditava (do plano para matá-lo). Ele se achava inatingível — disse ela.
A delegada também afirmou que vários moradores da casa de Flordelis — que ficou conhecida por adotar 55 filhos — mantinham relações sexuais entre si. Bárbara Lomba afirmou que as relações ocorriam entre os primeiros integrantes da casa, na época em que residiam na favela do Jacarezinho, Zona Norte do Rio.
— Havia relações entre todos ali. Flordelis não se relacionava só com o Anderson e o Anderson não se relacionava só com ela (Flordelis) — disse a delegada, ao descrever aspectos sobre a família que lhe chamaram atenção ao apurar o assassinato.
A delegada complementou ainda que as relações dentro da família de Flordelis “causavam espanto”:
— As relações eram baseadas na mentira. Estabeleceu -se uma lógica de relação familiar baseada em estratégia e fachadas tinham de ser montadas. Muitas coisas que aconteciam na casa não poderiam aparecer.
‘Ela é a mais perigosa’
Bárbara foi a segunda testemunha de acusação a ser ouvida na audiência do processo no qual Flordelis é acusada de ser mandante da morte do marido. Antes dela, prestou depoimento o delegado Allan Duarte, responsável pela segunda fase das investigações. Numa entrevista ao G1, após a audiência, ele foi enfático ao classificar a deputada: “De todos os sentados ali respondendo por esse crime, ela é a mais perigosa”.
Duarte também afirmou, durante o depoimento, que “não há dúvidas de que ela (Flordelis) foi a mandante do crime”:
— A motivação foi financeira. Com relação a forma como pastor geria a casa. Pela forma diferenciada que tratava os filhos (…) Ela (Flordelis) foi responsável por arquitetar o plano e convencer as pessoas pra que o crime fosse cometido.
Flordelis chegou atrasada na audiência e levou uma “bronca” da juíza. Além disso, ao entrar no tribunal, a deputada chorou e negou participação no crime: “Eu não mandei matar meu marido. Jamais faria isso”. Ela é ré ao lado de sete filhos e um neto, além de um PM e da mulher dele.
Flordelis é a única que não está presa. Em razão de sua imunidade parlamentar, ela só poderia ser presa em flagrante delito por crime inafiançável. Há pouco mais de um mês, está usando uma tornozeleira eletrônica.
Fonte: Jornal Extra