A missa em homenagem ao Dia da Consciência Negra da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, Zona Sul do Rio, foi cancelada. Frequentadores dizem que foram comunicados após uma reunião de bispos e o pároco, Padre Vanderson Guedes.
No ano passado, a missa do dia 20 de novembro foi atrapalhada por membros do Centro Dom Bosco — um grupo de fieis conservadores. Houve uma confusão e a polícia chegou a ser chamada. O padre conseguiu celebrar a missa afro, mas os integrantes permaneceram no local e fizeram orações em voz alta, com o objetivo de atrapalhar.
Por causa do episódio, cinco pessoas foram indiciadas por intolerância religiosa. A celebração em comemoração à data segue o ritual católico, mas também reúne elementos da cultura afro-brasileira.
Neste ano, membros do Centro Dom Bosco publicaram um vídeo na internet em que pediam para que os fieis fizessem jejum para impedir a missa. Caso ocorresse, que fossem até a frente da Igreja para mostrar a insatisfação.
Os paroquianos da Igreja Sagrado Coração de Jesus enviaram um posicionamento sobre o cancelamento. Eles dizem que obedecem Dom Orani, o arcebispo do Rio, mas querem saber porque a Arquidiocese atendeu a decisão do grupo conservador.
O que dizem os envolvidos
A Arquidiocese foi procurada, mas não respondeu até a última atualização desta reportagem.
Nota dos paroquianos
“Diante da proibição da Missa em ação de graças pelo Dia da Consciência Negra, os paroquianos da igreja Sagrado Coração de Jesus, na Glória, Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, se colocam em postura de obediência ao seu pastor dom Orani.
A obediência, porém, não nos impede de buscar respostas.
Assim, gostaríamos de saber por que a Arquidiocese atendeu às palavras de ordem do Centro Dom Bosco e proibiu a celebração da missa pelo dia da Consciência Negra APENAS no bairro da Glória, mesmo tendo sido os líderes do Centro Dom Bosco indiciados por crimes de Racismo e Intolerância em decorrência da invasão à paróquia Sagrado Coração de Jesus promovida pelo Centro Dom Bosco em 20/11/19?
Por que não se tem referências de proibições de missas com instrumentos musicais como guitarra e bateria, mas houve proibição da missa com atabaques.
Enfim, gostaríamos de saber se a Arquidiocese não acha necessária uma reparação aos negros e negras por 400 anos de escravidão, da qual a própria igreja se beneficiou.
Aguardamos, fraternalmente, as respostas para que nosso coração fique em paz”.
Que São Benedito e N S da Conceição Aparecida interceda por nós, para que sejamos um.
Delegada de Polícia Márcia Noeli:
A Polícia Civil ouviu testemunhas, o padre e as pessoas que formavam o grupo. Felipe Machado Botelho, Alexandre Guimarães Botelho, Jonatas Santana da Silva, Bruno Farias Mendes e Álvaro Alberto Ferreira Mendes Júnior foram indiciados por intolerância religiosa e alguns por racismo.
“Após as investigações, ouvidas tanto as vítimas como as testemunhas e o autor, decidimos indiciar os autores desses crimes, que é ultraje ao culto, bem como a intolerância tanto racial como a intolerância religiosa, porque temos que dar um basta a questão da intolerância e a questão do preconceito racial”, afirmou a delegada Márcia Noeli.
Ela reforçou a importância de denunciar crimes como esse na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro do Rio.
Fonte: G1