Um grupo de manifestantes se reuniu em uma unidade da rede de supermercados Carrefour, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, para protestar contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, espancado em uma loja da empresa em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na noite de quinta-feira (19). O ato começou por volta das 16h desta sexta-feira e teve duas horas e meia de duração. Entre os participantes estavam artistas como Pretinho da Serrinha, Nego do Borel, Tico Santa Cruz e Patrícia Pillar.
O ato foi convocado pelas redes sociais. Um dos participantes, o comunicador Raull Santiago, é líder comunitário do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Segundo ele, ao menos 200 manifestantes marcaram presença no supermercado.
— No dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, quando deveríamos estar reunidos para refletir sobre a importância da história do nosso povo, estamos aqui mais uma vez lutando por um caso de violência brutal contra um dos nosso irmãos. Esse Brasil não pode continuar — lamentou.
O grupo entrou no estabelecimento e encheu carrinhos de compras como forma de protesto, bloqueando o atendimento no local. Todos pediram o fechamento da unidade e percorreram os corredores proferindo palavras de ordem como “Vidas negras importam”, “racistas não passarão” e “Carrefour assassino”.
— Vários movimentos se reuniram aqui hoje pela memória não só desse homem negro brutalmente assassinado, mas por todas as vítimas do racismo estrutural no Brasil. Faço questão de estar presente e acho importante que a classe artística se mobilize e saia de suas casas para demonstrar empatia, força e solidariedade nessa luta — disse Tico Santa Cruz.
Durante o ato, houve discussões com alguns clientes que não concordavam com a realização do protesto e o fechamento da loja. Ao final, o grupo saiu em direção a um shopping na Avenida das Américas, onde se dispersou. Segundo a Polícia Militar, equipes do do 31ºBPM (Recreio dos Bandeirantes) foram deslocadas para o local e não foram registradas ocorrências.
Manifestações contra a morte de João Alberto também foram realizadas em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre.
Manifestações em outras partes do Brasil
Em São Paulo, também após um início pacífico, manifestantes começaram a atirar objetos e a destruir vidraças da fachada da loja na Rua Pamplona, uma das áreas mais nobres da cidade. Em seguida, invadiram o local, quebraram produtos e chegaram a atear fogo no interior do supermercado. O GLOBO acompanhava a manifestação quando começoiu a confusão.
Carros no estacionamento também foram depredados. Clientes que realizavam compras no momento do protesto tiveram de se refugiar no fundo do estabelecimento. Depois do pedido dos organizadores para os manifestantes interromperem a depredação do supermercado, a manifestação foi encerrada. A Tropa de Choque chegou quando a multidão dispersava.
Em São Paulo, a manifestação teve início na Avenida Paulista, em frente ao Masp, e tinha por objetivo protestar contra a morte de Freitas e pedir justiça racial no país. O ato foi organizado pela Movimento Negro Unificado (MNU), Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) e outros coletivos do movimento negro.
Houve tensão também em Belo Horizonte. Um grupo de manifestantes protestava desde às 15h desta sexta-feira (20), no centro da cidade, e Belo Horizonte, contra a morte de João Alberto Freitas, o João Beto, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. De acordo com a Polícia Militar (PM) o homem foi espancado até a morte por funcionários de uma empresa terceirizada, que cuida da segurança da rede de supermercados. As agressões começaram após o cliente, que estava fazendo compras com a esposa, discutir com uma funcionária do supermercado.
Dez minutos após o início do protesto, as portas do Carrefour da avenida Afonso Pena esquina com rua Guajajaras, que estavam abertas, foram fechadas. Por volta de 15h30, já havia cerca de 100 pessoas no ato. A polícia acompanhou o ato, organizado pelo Núcleo Rosa Egípciaca Negros, Negras e Indígenas, ganhou adesão de pelo menos 14 movimentos sociais de Belo Horizonte e partidos políticos. O rapper Djonga está entre os manifestantes.
Um grupo de pessoas tambpem protestou em frente à loja onde aconteceu o crime, em Porto Alegre. Depois de duas horas de ato pacífico, alguns jovens conseguiram derrubar o portão de acesso ao estacionamento do Carrefour. Alguns quebraram janelas de vidro e tiveram acesso ao primeiro andar do estabelecimento.
A polícia conteu a manifestação lançando bombas de gás lacrimogêneo. Ao final do protesto, uma pichacão era vista na parede externa do Carrefour: “Polícia genocida”. Um dos agentes envolvidos na morte de Freitas é policial militar temporário.
‘Ele pediu ajuda’
De acordo com a cuidadora de idosos Milena Borges Alves, ela fazia compras com o marido, João Alberto, quando o viu sendo abordado por cinco pessoas que trabalhavam no estabelecimento em Porto Alegre. Segundo a esposa, a vítima chegou a pedir ajuda antes de morrer, mas continuou sendo imobilizado pelos seguranças.
Em entrevista à “Rádio Gaúcha”, Milena afirmou que Jõão não fez nenhum gesto agressivo para a funcionária do mercado. Ela contou ainda que estava pagando as compras e, quando chegou ao estacionamento, seu marido já estava imobilizado e pedindo ajuda.
“Eu estava pagando no caixa. Ele desceu na minha frente. Quando cheguei, ele já estava imobilizado. Ele pediu ajuda, quando fui, os seguranças me empurraram. Ele disse: ‘Milena me ajuda’, mas os seguranças não deixaram me aproximar. Seguiram com o pé em cima dele, e quando desmaiou, continuaram com o pé em cima dele. Um pé nas costas eu vi”, contou.
Leia a nota completa do Carrefour:
“Sobre a brutal morte do senhor João Alberto Silveira Freitas na loja em Porto Alegre, no bairro Passo D’Areia: O Carrefour informa que entrará com uma queixa-crime contra os responsáveis. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família para dar o suporte necessário.
O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente.
Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais.”
Fonte: Jornal Extra