Jornal Povo

Projeto eterniza personalidades negras nos muros do Rio

Um projeto usa a arte para eternizar os rostos de personalidades negras nos muros da cidade do Rio. O Projeto Negro Muro tornou-se uma homenagem e uma forma de lembrar a história de pessoas que foram importantes em suas áreas de atuação.

Cada uma das figuras retratadas é uma inspiração para as novas gerações na luta por um mundo melhor e sem racismo. Desde 2018, dez obras já foram feitas.

“A luta contra o racismo, pela valorização da negritude, é uma luta eterna. A arte pode fazer com que a gente se espelho, se inspire para o nosso dia a dia”, contou Pedro Rajão, criador do projeto.

A última figura retratada foi o maestro pernambucano Moacir Santos em um muro na Glória, na Zona Sul da cidade. Enquanto o retrato do músico internacionalmente conhecido ganhava forma, quem passava pela rua parava para observar o trabalho do artista.

“O Moacir Santos, maestro, um grande baobá da nossa música, foi morador aqui do bairro”, completou Pedro.

Maestro pernambucano Moacir Santos foi o último retratado pelo projeto — Foto: Reprodução/ TV Globo
Maestro pernambucano Moacir Santos foi o último retratado pelo projeto — Foto: Reprodução/ TV Globo

Para o artista, atender cada um que faz uma pergunta sobre a obra é um prazer.

“Aí você vem explicando o projeto, como funciona, tenta instruir aquela pessoa que desconhece este universo, a importância do Moacir. Então o nosso papel acaba sendo como arte educador”, explicou o artista urbano Cazé.

Na Rua dos Inválidos, na Lapa, chama a atenção a imagem de Cartola, também pintada dentro do projeto.

“Cartola foi um dos principais compositores não só da Mangueira, mais da nossa música popular brasileira”, destacou Pedro.

A pintura, com quatro metros de altura, é de abril do ano passado. Na época, Cazé precisou pegar uma escada emprestada, com prazo de devolução.

“Ele falou eu eu tinha meia hora para usar. Eu falei: ‘Caramba, irmão. Eu tenho meia hora para pintar’. Eu me concentrei e comecei a pintar ali cabelo, rosto, sobrancelha, ou olhar foi uma loucura. Incorporei e fui”, disse Cazé.

A pintura de Marielle Franco, na Rua André Cavalcanti, na Lapa, foi feita no dia seguinte ao assassinato da vereadora, em março de 2018. Atualmente existe uma versão do retrato que foi atualizada pelos artistas em 2019. O desenho tem mais de três metros de altura.

“Ela está olhando pra cima. A gente conseguiu trazer uma memória dela muito mais imponente, viva, com um olhar mágico. A pintura pra mim é de arrepiar”, afirmou Cazé.

Pintura de Marielle Franco foi feita no dia seguinte ao assassinato da vereadora — Foto: Reprodução/ TV Globo
Pintura de Marielle Franco foi feita no dia seguinte ao assassinato da vereadora — Foto: Reprodução/ TV Globo

No mesmo bairro é possível ver o rosto de Mãe Beata de Iemanjá na Rua do Riachuelo.

“Uma grande babalorixá que viveu em Nova Iguaçu. Já nos deixou. mas deixou um grande ensinamento sobre a cultura iorubá, sobre o povo de candomblé, sobre ancestralidade, e é uma referência para todos os afrodescendentes do Rio de Janeiro e do país”, disse o professor Edson Ferreira Soares.

A pintura tem cinco metros de altura

“Ela combateu o racismo, o sexismo, a fome e é uma senhora que é uma entidade”, completou o professor.

O projeto transforma muros em pontes de reconhecimento.

“Isso é motivo de orgulho. Não só no mês da Consciência Negra, mas durante todo o ano, durante todos os dias. Porque é uma obra de arte que está ali eternizada”, ressaltou Soares.

retrato de Mãe Beata de Iemanjá tem cinco metros de altura — Foto: Reprodução/ TV Globo
retrato de Mãe Beata de Iemanjá tem cinco metros de altura — Foto: Reprodução/ TV Globo

Fonte: G1