“Se a cidade está abandonada, Santa Cruz é o abandono do abandono”. A frase é de uma moradora de um dos mais populosos e extensos do Rio. Na extrema Zona Oeste, o transporte alternativo é o dono das ruas: uma fila de vans ocupa diariamente as baias de um ponto de ônibus na Rua Senador Camará, inclusive com a colocação de cones para impedir a parada dos coletivos. Quem tenta entrar no espaço é ameaçado, segundo relatos de moradores.
As vans ficam estacionadas até atingirem a capacidade total e, só então, começarem a rodar. Enquanto a fila se forma, passageiros dos ônibus precisam correr risco e ir até o meio da rua para tentar embarcar nos coletivos. “Isso é assim em toda parte de Santa Cruz, mas muito, também, por culpa das empresas de ônibus. Moramos em um bairro populoso e o atendimento dos ônibus não é nada suficiente. Aí, muitos recorrem ao transporte alternativo, que faz o que quer”, opina um morador da região que prefere não se identificar.
Quem mora na região convive há muito com o problema, mas tem medo de se queixar. O controle das vans irregulares é uma das atividades mais lucrativas das milícias, que cobram taxas aos motoristas e ameçam quem não paga. O bairro de Santa Cruz, aliás, é o QG de Wellington da Silva Braga, o Ecko, miliciano mais procurado do estado.
Secretaria de Ordem Pública faz fiscalização
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Ordem Pública (Seop) afirmou que fiscalizou a Rua Senador Camará no último sábado (21), com equipes da Coordenadoria Especial de Transporte Complementar (CETC), responsável pelo controle das vans da cidade. A secretaria informou que “nenhuma irregularidade foi constatada” na chegada das equipes ao local, mas já “incluiu o trecho nos roteiros de suas operações planejadas”. A Coordenadoria reforçou ainda “a importância da população utilizar o canal 1746, da Prefeitura, que agiliza esta e outras demandas, além de permitir o acompanhamento do processo por meio de protocolo”.
Zona Oeste tem 829 vans regulares; ônibus têm frota diminuída
A Secretaria Municipal de Transportes conta atualmente com 2.220 vans cadastradas em seu sistema, atendendo a população carioca em 143 linhas diferentes. Dessas, 829 vans regulares circulam em Campo Grande, Santa Cruz e Bangu, bairros onde o transporte alternativo é fundamental para o dia a dia da população. A região conta com 76 linhas regulares.
A grande quantidade de vans é reflexo da pouca oferta de ônibus na Zona Oeste, realidade antiga que piorou notadamente durante a pandemia. O relatório ‘De Olho nos Transportes’, divulgado pela Casa Fluminense a partir do monitoramento de GPS dos ônibus na cidade, constatou que a frota em circulação do Consórcio Santa Cruz diminuiu nos meses de setembro e outubro em relação a agosto. Segundo o estudo, a cada quatro ônibus que deveriam estar servindo a população da Zona Oeste, apenas um está nas ruas.
Em nota, a secretaria de Transportes informou que a “região será alvo de nova fiscalização para que os pontos de ônibus não sejam ocupados indevidamente, atrapalhando o embarque e desembarque dos usuários do sistema”.
Fonte: Meia Hora