Oito em cada dez operações policiais realizadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro em outubro resultaram em morte. O levantamento foi divulgado no relatório produzido pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O levantamento está em sincronia com os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP-Rio) na quarta-feira (25). Os números do ISP mostram que o RJ teve em outubro o maior número de mortes causadas por intervenção policial nos últimos seis meses.
“O relatório está apontando para um aumento das operações com mortes. No mês de setembro, 3 em cada 10 operações tinham mortes como resultado. Em outubro, esse número subiu e são 8 em cada 10 operações que resultam em mortes. Há um descontrole neste aumento”, disse o coordenador do Geni, sociólogo André Hirata.
“Apesar de ter o mandado do uso da força, é preciso que as policias usem estratégia. Mas o que a gente observa é que isso não tem acontecido. Isso é o mais estarrecedor. No mês de outubro, parece que foi assumido pelo Governo do Estado do Rio que as operações deveriam voltar de forma rotineira. Só que elas deveriam ser utilizadas em situações excepcionais”, completou o coordenador.
Segundo o relatório do Geni, foram realizadas 38 ações policiais no mês de outubro e em 30 destas ocasiões houve morte.
Operações policiais aumentam 100% em um mês no RJ
O levantamento aponta ainda que as ações dos agentes do estado dobraram no último mês. Se em setembro a Polícia Militar realizou 19 ações, no mês de outubro o índice atingiu o patamar de 38 incursões.
O aumento de 100% no número de operações realizadas também levantou dúvidas sobre se o estado do Rio está cumprindo a ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) de realizar operações apenas em casos de extrema necessidade.
Para o sociólogo Daniel Hirata, a segurança pública deveria garantir a preservação da vida e o excesso de ações da polícia pode causar o efeito reverso.
“O problema não é a existência das operações, mas as ‘rotinização’. A ‘rotinização’ é responsável pela letalidade policial. Em outros estados do Brasil, não existe uma ‘rotinização’ das operações. Não à toa o RJ é o lugar onde a polícia mais mata e mais é vitimada”.
Morto em operação
Entre as vítimas que morreram durante operações policiais em outubro, o estudante Caio Gomes Soares, de 23 anos, foi morto dentro de casa no Catumbi, Centro do Rio. Ele foi atingido por uma bala perdida após levantar da cama para pegar um suco, por volta das 7h.
O rapaz morreu na hora nos braços da irmã, de 24 anos. A mãe de Caio é doméstica e já estava no trabalho quando a filha ligou para avisar sobre um tiroteio no Morro da Coroa. “Minha família está destruída”, lamentou Maria José.
Formado em Educação Física pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Caio dava aulas para idosos e também realizava eventos.
O que dizem os citados
O Jornal Povo entrou em contato com as secretarias da Polícia Militar e Polícia Civil e foi informado que política de segurança do Governo do Estado do Rio de Janeiro “é baseada em inteligência, investigação e tecnologia das polícias Civil e Militar”.
O Governo do Rio afirmou ainda que as operações “seguem, rigorosamente, as determinações legais, priorizando sempre a preservação de vidas, tanto de policiais quanto dos cidadãos”.
Fonte: G1