Jornal Povo

Cedae levou 16 meses para enviar motor parado a conserto; problema no Lameirão já deixa 30 regiões sem água

RIO — A crise no abastecimento de água que atinge 30 bairros da capital e de municípios da Baixada Fluminense, segundo relatos enviados ao GLOBO por redes sociais, poderia ter sido evitada. Isso porque uma das sete bombas da Elevatória do Lameirão, que atualmente trabalha com 75% da capacidade, está quebrada desde dezembro de 2018, e só foi enviada para manutenção em abril de 2020. Caso ela estivesse em funcionamento, a queima de outras duas bombas, em outubro e novembro deste ano, não teria afetado o abastecimento. Somente na capital, cerca de um milhão de pessoas foram prejudicadas.

A denúncia foi feita ao GLOBO por um ex-funcionário da Cedae, que criticou a falta de prioridade dada à manutenção da bomba, que opera na unidade desde sua inauguração, em 1965. Em nota, a atual gestão da companhia, que assumiu no início de novembro, informou que “está realizando apuração de responsabilidade sobre o fato de o reparo ter sido iniciado em abril de 2020”. Segundo a empresa, o processo para reparo dos outros dois motores que pararam recentemente já foi iniciado. Procurado, o ex-presidente da Cedae Hélio Cabral negou que tenha atrasado a manutenção do motor e afirmou que deu início ao processo de reparo. Ele declarou que apresentou um dossiê sobre os problemas da empresa à Comissão de Saneamento da Alerj no início desde ano, em que apontava problemas encontrados na empresa.

Morador se refresca em cascata formada em instalação desativada da Cedade, entre Santa Teresa e o Silvestre Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Morador se refresca em cascata formada em instalação desativada da Cedade, entre Santa Teresa e o Silvestre Foto: Gabriel de Paiva

Bairros afetados serão 22 hoje

Enquanto o problema não é resolvido — a previsão é que o conserto seja feito só daqui a 20 dias—, os consumidores sofrem. Para tentar amenizar o problema, a Cedae instituiu uma espécie de “rodízio”, escolhendo que bairros ficarão sem água, ou com o abastecimento irregular, a cada dia. Hoje, será a vez de 22 regiões do Rio. São elas: Botafogo, Leme e Urca, na Zona Sul, além de Tijuca, Vicente de Carvalho, Vila Cosmos, Colégio, Coelho Neto, Cordovil, Parque Columbia, Costa Barros, Pavuna, Anchieta, Guadalupe, Bangu, Campo Grande, Inhoaíba, Cosmos, Paciência, Santa Cruz, Sepetiba e Pedra de Guaratiba, nas zonas Norte e Oeste. As cidades de Nilópolis, Mesquita e São João de Meriti, na Baixada Fluminense, também devem ter pontos afetados.

A divulgação das áreas prejudicadas foi feita pela primeira vez na noite de ontem. Os locais que serão alvo do rodízio serão divulgados diariamente no endereço https://www.cedae.com.br/economizeagua.

O problema na principal elevatória do Rio acontece às vésperas do lançamento do edital de concessão dos serviços de distribuição de água e coleta de esgoto, previsto para o próximo dia 17. Ontem, entidades empresariais, entre elas a Firjan e a Associação de Empresas de Saneamento, lançaram um manifesto em que defendem a urgência da operação, apontada como a melhor solução para a solução dos problemas do saneamento no Rio.

Para o especialista Raul Pinho, fundador do Instituto Trata Brasil, o problema atual no Lameirão só reforça a necessidade de concessão dos serviços da Cedae, que tem apresentado problemas recorrentes:

— Nem estado nem a Cedae têm dinheiro para investir. O Lameirão está provando isso. Não dá para a gente ficar refém de uma empresa ineficiente, que cobra caro e não entrega.

Atualmente, há um impasse sobre o valor que as futuras concessionárias vão pagar à Cedae, que continuará responsável pelo tratamento da água. A proposta inicial do BNDES, responsável pela operação, estabeleceu o valor de R$ 1,40 por metro cúbico, e a companhia quer R$ 2,20. O governador Cláudio Castro acredita que será possível chegar a um consenso:

— Abri discussão paralela porque se a água fica a R$ 1,40, todo mês eu teria que tirar dinheiro da educação, da saúde, da segurança para botar na Cedae. — afirmou Castro — Não dá para ser R$1,40 , mas também não dá para ser R$ 2,20. Então estamos negociando. Números que o governo tem é de valor entre R$1,70 e R$ 1,80. Nem o que BNDES quer, nem o que a Cedae quer.

Foto: Reprodução

Fonte: O Globo