A tenente-coronel Gabryela Dantas, exonerada nesta quarta-feira, dia 9, do cargo de coordenadora de comunicação da Polícia Militar do Rio, vai assumir o comando do 23º BPM (Leblon). A movimentação foi publicada no Boletim da PM da noite desta quarta-feira. A oficial foi transferida após ataques pessoais ao repórter Rafael Soares, do EXTRA e O Globo, num vídeo publicado em rede social da corporação nesta terça-feira, dia 8. O batalhão que passa a ser comandado pela tenente-coronel Gabryela é responsável pelo policiamento de bairros da Zona Sul do Rio como Leblon, Ipanema, Gávea e Jardim Botânico. Para o cargo de coordenador de comunicação da PM, o comando da corporação nomeou o major Ivan Blaz.
O ataque da então porta-voz ao repórter ocorreu após a publicação de uma reportagem sobre o aumento do número de descarte de munição usada por policiais do 15º BPM (Caxias). A oficial afirmava, no vídeo, que o jornalista agiu de “forma maldosa” e que se aproveitou “da comoção nacional (uma referência à morte de duas meninas em Caxias, por bala perdida) para colocar a população contra a Polícia Militar”.
O vídeo foi apagado na tarde desta quarta-feira pelo perfil oficial da PM. Em nota, a Editora Globo, que publica os dois jornais, repudiou o vídeo em que a porta-voz classifica o jornalista como inimigo da corporação e ainda incentiva a população a divulgar a gravação. Afirma que “faz parte da prática jornalística diária lidar com críticas, contestações e pedidos de reparação de alguma informação”. Acrescentou, no entanto, que “não é papel de uma instituição de Estado atacar pessoalmente um profissional nem incitar a população contra ele”.
‘Linchamento virtual’, diz Abraji em nota
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou o vídeo. “Incitar a população contra o jornalista mostra não só falta de respeito à liberdade de imprensa, mas claro objetivo de intimidar o repórter”. A Abraji também questionou afirmações feitas pela tenente-coronel no vídeo, e relatou um “linchamento virtual” ao repórter nesta quarta-feira:
“Nos últimos segundos do vídeo, a tenente-coronel dá a entender que o trabalho do repórter – que “ao longo dos anos” teria tentado rotular as tropas da corporação – poderia ter evitado a morte do cabo Derinaldo Cardoso dos Santos, baleado em Mesquita, também na Baixada Fluminense. Mas a oficial não detalha como o trabalho crítico da imprensa poderia interferir na morte de policiais durante um assalto.
A convocação para divulgar de forma massiva o vídeo teve efeito imediato. Em menos de uma hora, Rafael Soares foi obrigado a fechar suas redes sociais devido a centenas de notificações de ofensas, inclusive pedindo a prisão dele.
Investigação sobre a morte das primas na Baixada
Policiais do 15º BPM são investigados pelas mortes das meninas Emilly, de 4 anos; e Rebecca Santos, de 7, atingidas por um tiro de fuzil quando brincavam na porta de casa, na última sexta-feira, em Caxias. A PM nega que os cinco policiais que estavam de plantão no dia do crime tenham feito disparos, mas os fuzis e as pistolas que eles usavam foram apreendidos e enviados para perícia.
Fonte: Jornal Extra