RIO – A Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) informou neste domingo (3) que busca a importação de 5 milhões de doses do imunizante Covaxin, aprovado para uso emergencial na Índia contra a Covid-19.
A ABCVAC, cujas associadas representam 70% do mercado nacional, está negociando a compra com o laboratório indiano Bharat Biotech. A entrada do produto no mercado brasileiro dependeria de autorização da Agência Brasileira de Vigilância Sanitária.
A aprovação emergencial da vacina na Índia, que ocorreu este domingo, foi criticada por especialistas, já que ela se encontra na fase 3 de pesquisas e sua taxa de eficácia não é conhecida. Até agora, porém, os estudos não demonstraram danos colaterais significativos.
Em entrevista à Globo News, Geraldo Barbosa, presidente da ABCVAC, afirmou esperar que os testes da vacina sejam concluídos na Índia ainda em janeiro. Se isso ocorrer, o laboratório deve entrar com pedido de registro definitivo na Anvisa em fevereiro, e a vacina pode estar disponível nas clínicas particulares brasileiras a partir da segunda quinzena de março.
Segundo Barbosa, ainda não há previsão do custo do imunizante, já que não há detalhes sobre a logística e distribuição do imunizante para o Brasil e as clínicas associadas. O presidente da ABCVAC destaca que a tecnologia do vírus inativo permite que o acondicionamento da vacina seja realizado entre 2 a 8 °C.
O presidente da ABCVAC destaca que a compra de vacinas por clínicas particulares não vai interferir na aquisição de imunizantes pelo poder público, ressaltando que a prioridade é o cumprimento do Plano Nacional de Imunização apresentado pelo governo federal.
— A gente já vem buscando saídas para o mercado privado e surgiu a possibilidade dessa vacina indiana, que é muito promissora. Como o mercado todo já estava comprometido com as demandas do governo – corretamente, porque eu acho que tem que ser prioridade –, a gente tentou uma saída alternativa — explicou Barbosa a Globo News. — E essa indústria indiana se disponibilizou a oferecer parte da produção para o mercado privado brasileiro. Então, é uma venda adicional que não vai interferir no quantitativo que o governo pediu.
Mellanie Fontes-Dutra, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, destaca que, em todo o mundo, a administração das vacinas tem sido realizada pelos governos — portanto, a entrada do setor privado neste processo pode ser “complicada”. Outro fator potencialmente crítico é a falta de informações sobre a eficácia da Covaxin.
— Em breve conheceremos dados sobre a fase 3 da vacina, o número de eventos e o perfil dos pacientes: de que idade são, como é o seu fundo genético — explica.
De acordo com Barbosa, os dados sobre a Covaxin estão há cerca de 40 dias em processo de submissão continuada na Anvisa. A agência, então, está recebendo dados de cada etapa do estudo à medida em que elas são concluídas. O procedimento foi criado pelo governo federal para agilizar a análise de potenciais imunizantes contra a Covid-19.
Fontes-Dutra concorda que a submissão continuada é o modelo é o mais adequado para instruir a Anvisa sobre a viabilidade da Covaxin, considerando a avançada evolução da pandemia no país:
— Dada a situação que nos encontramos e nos encontraremos, a submissão da aprovação por uso emergencial é muito benéfica. Assim teremos o número suficiente de dados para já colocar uma vacina à disposição da população.
Procurada, a Anvisa informou que não recebeu informações das clínicas sobre a Covaxin.
Fonte: O Globo