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Governador do AM decreta toque de recolher em meio a aumento de casos de Covid-19 e falta de oxigênio hospitalar

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), anunciou nesta quinta-feira um toque de recolher em todo o estado do Amazonas entre 19h e 6h como forma de reduzir a incidencia da Covid-19. A medida terá validade inicial de 10 dias a partir da publicação do decreto, que pode acontecer ainda hoje. O estado sofre com o aumento no número de casos, mortes e internações pela doença. Já há falta de oxigênio hospitalar para atender os pacientes. Diante da crise no abastecimento do produto, o Ministério da Saúde anunciou que irá começar a fazer a transferência de pacientes do Amazonas para hospitais de seis estados. O governador disse que o estado vive a fase mais crítica da epidemia até agora e disse que o Amazonas pede “socorro”.

— Hoje, o estado do Amazonas, que é referência para o mundo, e que todo o mundo volta seus olhares para cá quando há um problema relacionado à preservação ao meio ambiente, está clamando, pedindo por socorro. Considerado por muitos o pulmão do mundo, uma floresta que produz uma quantidade significativa de oxigênio, hoje o nosso povo está precisando desse oxigênio — disse o governador hoje em coletiva.

O decreto suspende o transporte coletivo de passageiros nas rodovias e rios do estado, exceto para o transporte de cargas. As atividades que envolvem a circulação de pessoas deverão ser fechadas entre 19h e 6h da manhã. Atividades e transprotes de produtos considerados essenciais à vida poderão funcionar. Profissionais da saúde ou de outras áreas essenciais como os de imprensa da segurança pública também poderão circular normalmente.

Segundo o governo do Amazonas, a demanda por oxigênio hospitalar nos últimos dias é mais do que o dobro da registrada durante o primeiro pico da Covid-19 em Manaus. Entre abril e maio, o consumo diário de oxigênio chegou a 30 mil metros cúbicos. Nos últimos dias, a demanda chegou a 70 mil metros cúbicos.

O cenário é ainda mais crítico porque, ainda de acordo com o governo, a capacidade da fábrica de oxigênio hospitalar instalada em Manaus é de 28 mil metros cúbicos, o que gera um deficit diário de 42 mil metros cúbicos do produto.

Nos últimos dias, o Ministério da Saúde encaminhou 386 cilindros de oxigênio para Manaus por via aérea como medida paliativa. Também estão sendo encaminhadas balsas com mais cilindros.

Manaus foi uma das cidades mais afetadas pela Covid-19 no início da pandemia, no primeiro semestre de 2020. Nos últimos dias, porém, o número de novos casos, mortes e internações estão pressionando as autoridades locais.

De acordo com a Prefeitura de Manaus, na quarta-feira foram registrados 198 enterros em um único dia. O maior número já registrado desde o início da pandemia. Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), nesta semana, o número de internações chegou a um pico diário de 250, quase o dobro do registrado no ápice da epidemia entre abril e maio de 2020.

Transferência de pacientes

Em meio a esse cenário, o secretário de atenção à saúde especializada do Ministério da Saúde, Franco Duarte, anunciou um plano para a transferência de pacientes do Amazonas para outros estados será operado, em parceria, pelo governo do Amazonas, Ministério da Saúde e Ministério da Defesa.

A Defesa ficará responsável pelo transporte dos pacientes de Manaus para os estados de Goiás, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Brasília e Paraíba. O retorno dos pacientes ao Amazonas deverá ser feito pela Gol Linhas Aéreas, a partir de contrato firmado com o Ministério da Saúde. O governo estadual ficará responsável pela triagem dos pacientes a serem transferidos. Em princípio, a transferência será feita apenas para pacientes em estágio moderado da doença.

— Abrimos um plano de cooperação que, inicialmente, era entre Amazonas e Goiás. Agora, abrimos para outros estados. São cinco ou seis estados participando desse plano de cooperação que nada mais é fazer o transporte aéreo desses pacientes, considerados na fase moderada — afirmou Franco Duarte.

Segundo Franco Duarte, o ministério fez uma análise das taxas de ocupação de leitos em diversos estados para que a transferência de pacientes não sobrecarregasse as redes de saúde de outros estados.

O pedido de “socorro” feito pelo governador do Amazonas acontece pouco mais de 20 dias depois de ele ter recuado e revogado um decreto assinado por ele no final de dezembro impondo medidas de restrição ao comércio e atividades consideradas não-essenciais. O recuo aconteceu após a pressão de empresários, políticos e entidades de classe.

O governador do Piauí, Wellington Dias, presidente do Consorcio Nordeste e coordenador da temática de vacina no Fórum Nacional de Governadores, informou que são cerca de 750 pacientes do Amazonas que devem ser transferidos para outros estados. Segundo Dias, serão realizadas transferências para o Piauí, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará, Distrito Federal, Goiás , Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Ele pediu o apoio da população para a medida.

— Aqui se trata de salvar vidas humanas. É esse o caminho. E, também outros estados e também hospitais da rede privada que possam abrir vagas fazer contato com Ministério da Saúde — afirmou.

Trinta pacientes já foram encaminhados de Manaus para Teresina (PI) nesta quinta-feira.