O início da primeira fase da campanha de vacinação contra Covid-19 no país foi marcado por flagrantes de pessoas fora do grupo de risco furando a fila de imunização. Há casos que estão sendo investigados pelo Ministério Público em Pernambuco e Sergipe. O Ministério Público do estado do Amazonas (MP-AM) abriu uma investigação para apurar suspeita de desvio de vacinas em Manaus. A medida foi tomada após fotos circularem na internet mostrando duas irmãs, da família que comanda uma das maiores universidades privadas da cidade, comemorando o fato de terem sido vacinadas. As duas são médicas, mas foram nomeadas em cargos comissionados na Prefeitura de Manaus na véspera e no dia do início da vacinação na cidade.
As médicas são Isabelle Kirk Maddy Lins e Gabrielle Kirk Maddy Lins. As duas são filhas de Andrea Kirk Maddy Lima, que é casada com Nilton da Costa Lins Júnior, presidente da mantenedora da Universidade Nilton Lins, uma das maiores de Manaus.
Na terça-feira, as duas fizeram postagens no Instagram mostrando o momento em que foram vacinadas. Em Manaus, a vacinação começou na terça-feira e foi destinada para profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à Covid-19. Nas redes sociais, as imagens geraram revolta e questionamentos em relação à suspeita de que as duas poderiam ter “furado a fila” da vacinação.
As críticas ficaram ainda mais intensas porque as duas foram nomeadas horas antes de a imunização ser iniciada em Manaus. Segundo o Diário Oficial do Município (DOM), Gabrielle foi nomeada em cargo comissionado na Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) no dia 18 de janeiro, um dia antes do início da vacinação. A irmã foi nomeada no dia seguinte. Além disso, o Amazonas vive, desde a semana passada, uma crise no sistema de saúde causado pelo aumento acelerado nos casos de Covid-19 e pela escassez de oxigênio hospitalar em algumas unidades de saúde da capital e do interior.
— Ontem à noite os órgãos de controle se reuniram com a Prefeitura, e aí já entrando pela madrugada, foi expedida a recomendação para que a Semsa observe, em razão da escassez da vacina as pessoas que serão vacinadas. Nós não podemos deixar que grupos prioritários e pessoas com comorbidades que estão à frente de todo esse trabalho com Covid sejam substituídos por outros grupos que tem condições de enfrentar esse trabalho contra a Covid com menos riscos — disse a Procuradora de Justiça Silvana Nobre Cabral, que coordenadora do Grupo de Covid-19 montado pelo MP-AM.
Em nota, a Prefeitura de Manaus negou irregularidades na vacinação das duas médicas. Segundo a nota, as duas foram nomeadas de forma regular e estão atuando “legitimamente”.
“Sobre o caso das médicas Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins, vacinadas neste primeiro dia de imunização, não há nenhuma irregularidade, uma vez que se encontram nomeadas e atuando legitimamente no plantão da unidade de saúde, para a qual foram designadas, em razão da urgência e exceção sanitárias, estabelecidas nos primeiros 15 dias da nova gestão”, diz um trecho da nota.
A reportagem não conseguiu localizar as duas médicas para comentar o assunto.
Prefeito imunizado
Em Sergipe, o prefeito do município de Itabi, Júnior de Amynthas, (DEM), de 46 anos, tomou a vacina no lançamento da campanha na cidade. Em rede social, ele justificou o ato como sendo “uma forma de incentivar a população”. O município recebeu 31 doses para a primeira fase de imunização.
“O prefeito Júnior de Amynthas foi imunizado, em um ato de demonstração de segurança, legitimidade e eficácia da vacina, para incentivar a população Itabiense a vacinar-se, tendo em vista os receios existentes a esse respeito – o que não configura um ato de caráter político”, diz o texto.
O Ministério Público Federal enviou ofício ao prefeito cobrando explicações.
Investigação em Pernambuco
Em Pernambuco, a promotoria de Justiça de Jupi, no interior do estado, recebeu a denúncia de que um cidadão, fora do grupo prioritário estabelecido pelo Plano Nacional de Imunização e diretrizes estaduais de vacinação contra a Covid-19, foi vacinado.
“Vamos oficiar a Secretaria Municipal de Saúde para prestar esclarecimentos, bem como os profissionais de saúde que realizaram o procedimento, além da delegacia local para apurar conduta penal acerca do caso”, disse a promotora de Justiça da cidade Adna Vasconcelos.
Foram vacinados, segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, a secretária municipal de Saúde de Jupi, Maria Nadir Ferro, e o fotógrafo oficial da prefeitura, conhecido como Guilherme JG. A informação foi confirmada pelo GLOBO. O vídeo foi postado nas redes sociais. “Aqui, olha, Jupi recebendo as primeiras doses. Aproveitando o embalo”, diz o fotógrafo.
Em nota divulgada em rede social, a prefeitura de Jupi informou que afastou a secretaria municipal de saúde. “Cabe esclarecer que a gestão repudia totalmente qualquer ilegalidade na não observação do plano estadual e municipal de imunização”, diz a nota.
O município de Jupi recebeu 136 doses da vacina contra a Covid-19 para aplicar em duas etapas nos profissionais de saúde.