A paralisação dos motoristas do BRT na manhã desta segunda-feira gerou inúmeros transtornos para os usuários do sistema de transporte público. Nas redes sociais e nas ruas, as reclamações sobre o serviço se multiplicam. Muitos passageiros apoiam a decisão dos funcionários, protestam contra àqueles que usam o serviço sem pagar e reiteram que a circulação dos modais precisa ser reestruturada.
Vanessa Santos, que trabalhou por três anos na bilheteria do BRT, conta que a pandemia de Covid-19 piorou muito o funcionamento do consórcio.
— Foi uma das melhores empresas em que tive a oportunidade de trabalhar. Não precisávamos nos preocupar se o pagamento iria estar na conta no dia 5 ou no dia 20, chegava até antes. Trabalhávamos em paz, pois sabíamos que nossas contas seriam pagas, nossos compromissos seriam honrados. Hoje fico muito triste pela situação que alguns colegas se encontram, sem perspectiva de melhorias, sem condições de ir trabalhar, indignados pela atual situação. Fomos demitidos em meio a uma pandemia, e os que ficaram, se encontram sem esperança — conta.
O auxiliar de serviços gerais Romário Goulart, de 32 anos, perdeu o dia de trabalho. Ele conta que sua chefe ainda tentou enviar um carro para buscá-lo na estação Mato Alto, mas voltou atrás por conta do trânsito na região e o autorizou a ficar em casa.
— Eu soube da paralisação quando cheguei na estação, por volta de 6h30. Já havia um grande tumulto. Moro em Guratiba e o único jeito de chegar no Rio 2, onde trabalho, é com o BRT ou frescão. Todo dia a estação vive lotada e a região quase não tem ônibus. É uma luta diária — lamentou.
Moradora de Paracambi, a empregada doméstica Ana Paula Nascimento, de 45 anos, só descobriu sobre a greve ao chegar a Madureira, de trem. A parada era a primeira baldeação, num destino que terminaria na Barra da Tijuca. Mas, sem dinheiro para nova passagem — as opções eram pegar mais dois ônibus ou um frescão (ônibus executivo) de R$ 17 — optou em aguardar o retorno do BRT, mesmo sem indicação de um final feliz.
— Estou sem dinheiro, meu riocard só da para mais uma passagem. A gente conta com um serviço , mas eles deixam a gente na mão — lamentou Ana Paula, enquanto tentava contato com sua patroa — Vim de Paracambi, em mais de uma hora de viagem. Quando saí de casa, não sabia o que estava acontecebdo. Até a Barra seria mais meia hora. Agora não sei o que vou fazer.
Por volta das 9h, os pontos de ônibus de Madureira continuavam cheios. Além dos ônibus convencionais, as pessoas também aguardavam vans, ônibus executivos ou moto-taxis. Quem podia, recorria às viagens por aplicativo.
Morador de Nilópolis, Arthur Cruz, de 45 anos, precisava estar na Freguesia até as 10h e não tinha total conhecimento das rotas possíveis como alternativa ao BRT.
— Tem uma outra linha, que me deixa onde preciso, mas não sei exatamente onde passa. Talvez eu tenha que pegar Uber, mas como tem tanta gente aqui, o preço está dinâmico. Eu não sabia que o BRT estava paralisado até eu chegar — explicou o corretor imobiliário, que no final pegou uma linha (562), que lhe deixaria num ponto distante do desejado , na Pau-Ferro.
A empregada doméstica Lucia Helena Costa, de 48 anos, precisava trabalhar mesmo com o pé imobilizado, em função de uma fratura no tornozelo. Atrasada, pois precisava chegar ao trabalho, no Recreio, às 9h30, não sabia o que fazer. Uma viagem por Uber estava custando cerca de R$50, e não havia ônibus direto.
— Eu sei que eles estão sem salário, então é certo reclamar. Mas não é justo a gente pagar pelo erro dos outros — afirmou Lucia, que confirmou piora do serviço do BRT recentemente. — Há muito menos ônibus, e nenhum com ar-condicionado.
A auxiliar de escritório Roberta Barbosa, de 33 anos, pegou um ônibus de Marechal Hermes até Madureira, quando então descobriu sobre a paralisação do BRT. Para chegar no seu trabalho, na Gardênia Azul, conseguiu Uber por R$14,90, mas o que mais lhe preocupava era a volta.
— Ano passado, quando teve greve também, para voltar foi horrível. Fiquei duas horas esperando Uber e estava tudo parado no trânsito — disse Roberta, que ainda destacou o calor para “abençoar” o caos. — O BRT já estava um inferno, lotado sempre. Eu precisava chegar 10h no trabalho, mas passei uma hora procurando alguma alternativa de ônibus ou van.
Moradora de Austin, a empregada doméstica Marta Inês, de 57 anos, viu as notícias sobre a greve ainda em casa. Mas resolveu arriscar a ida até o Recreio assim mesmo. Como não conseguiu ônibus em Madureira, ligou para o patrão, que chamou um Uber para ela.
— Acho que não conseguirei voltar para casa hoje e vou ter que dormir lá — explicou Marta, que reclamou das condições dos ônibus do BRT. — Estava mais lotado que o normal. Como vai ter distanciamento assim?
Nas redes, usuários dos modais também se manifestaram. Para Caio Gomes, a situação é resultado da falta de planejamento do poder público. Morador da Zona Oeste, ele conta que faltam opções de transporte para a população da região.
“Quem mora em Campo Grande e Santa Cruz, por exemplo, sofre mais. Não há articulado em direção à Barra da Tijuca, apenas o frescão, que custa R$ 14. Penso que a prefeitura deveria criar um plano quanto a isso. Já que o BRT parou, deviam colocar os outros ônibus para rodarem nas áreas limitadas onde eles não podem mais chegar”, disse ele no Twitter.
Isabella Silva é uma das passageiras que apoia a paralisação, mas também reclama da falta de transporte nos locais por onde passa o BRT.
“Já que não tem pagamento, tem que parar mesmo. Ninguém trabalha de graça. Eles “ralam” todo dia com esses BRTs lotados, muitos carros precários. Além disso, parte da população tem que se conscientizar e pagar a passagem. A empresa precisa arcar com toda uma manutenção dos carros e pagar funcionários. Deviam voltar com as outras linhas que existiam antes do BRT. Não há condições do sistema ser a única opção pra se movimentar o Rio”, ressaltou.
A passageira Dayane Rosa foi uma das que sofreu para voltar do trabalho nesta manhã. Ao invés de usar apenas uma opção de transporte, preciso recorrer a dois ônibus e o metrô:
“Hoje foi horrível. Trabalho na Barra da Tijuca e moro em Madureira. Hoje tive que pegar um ônibus até o metrô Jardim Oceânico, descer na estação Colégio, e pegar outro ônibus para chegar até a minha casa. Foi bem complicado”, afirmou.