Um dia após a paralisação de motoristas que interrompeu todo o sistema do BRT, pouco depois das 5h desta terça-feira já era possível notar a movimentação de articulados nos três corredores expressos do BRT (Transoeste, Transcarioca e Transolímpica). Ainda no fim da noite de segunda-feira, os motoristas do modal suspenderam o movimento e voltaram a rodar após uma reunião entre a Prefeitura do Rio e as empresas de ônibus. Diversas estações do BRT registram superlotação.
Na estação do modal no Mato Alto, em Barra da Guaratiba, na Zona Oeste, os articulados já saím superlotados desde cedo, já que os ônibus estavam com irregularidades de chegadas e partidas.
Moradora de Guaratiba, a empregada doméstica Eliete Maria de Jesus dos Santos, de 41 anos, lembra do tentativa frustrada de embarque na segunda. Como costuma fazer diariamente, ela chegou à estação pouco depois de 5h. No entanto, ela não conseguiu seguir viagem até o Recreio dos Bandeirantes porque não havia ônibus.
— Eu não fui trabalhar. Fiquei aqui até umas 8h40m, na expectativa de vim (ônibus) e nada. Como não tinha dinheiro para pagar R$ 17 em um frescão (ônibus executivo com ar-condicionado) ou R$ 10 nas vans, voltei para casa — conta Eliete, que ficou mais de três horas na estação.
Usuária do transporte, deste sua inauguração, ela lembra que a situação do sistema articulado de ônibus tem piorado a cada dia.
— É um absurdo tudo isso que está acontecendo. A gente trabalha, paga os impostos e passa por essa humilhação. Ônibus que quebram todos os dias, sem ar condicionado, superlotação, estação quebrada e por aí vai. É lamentável — crítica a empregada doméstica.
A Guarda Municipal e a Polícia Militar reforçaram o patrulhamento na estação do Mato Alto. Diversos agentes atuam no local. Equipe de O GLOBO contou pelo menos três viaturas da PMs e três da GM. Até as 6h não havia registro de nenhum tipo de incidente.
Muitas pessoas chegavam à estação do Mato Alto sem saber se iriam ou não embarcar. Era o caso da empregada doméstica Erlane dos Santos, de 61 anos, que iria para a Barra da Tijuca.
— Não tenho certeza se vou conseguir embarcar, espero que sim. É tudo muito difícil, muito sofrimento — conta.
Para o funcionário público Marcos Diniz, 40, “é preciso uma mudança urgente” no sistema de ônibus articulado.
— Está tudo muito complicado a situação. É preciso uma reestruturação urgente porque não está atendendo a demanda da população. É preciso uma mudança de comando, de direção… Não podemos ficar sofrendo diariamente — lamentou.
Motorista do BRT há cerca de oito anos, Ronaldo França, 36, lembra que o motivo da suspensão da greve foi a promessa dos empresários e da prefeitura em suspender aplicação do 5º. Termo Aditivo assinado com o Sindicato dos Rodoviários. O termo, que determina que os funcionários fiquem uma semana em casa por mês, com desconto de salário, era uma das reivindicações dos motoristas para o fim da paralisação.
— A princípio eles revogaram a ida pra casa. Por isso, estamos de volta — disse ele.
O retorno dos motoristas ocorreu horas depois de uma reunião entre os empresário e a prefeitura do Rio, em que Eduardo Paes fez um ultimato para os articulados voltarem a circular. Com a volta da operação, nas próximas semanas o município deve abrir uma mesa de negociação para discutir o equilíbrio econômico do contrato de concessão.
— A paralisação foi orquestrada pelos próprios motoristas, sendo assim, o sindicato só entrou em apoio à sua categoria. E por meio de grupos de Whatsapp decidiram pelo fim da mobilização — diz o motorista Ademir Francisco, que também é diretor do Sindicato dos Rodoviários.
Paes fala de ‘ação coordenada pelos empresários’
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, levantou a possibilidade de que a paralisação dos serviços do BRT tenha a participação dos empresários que controlam o sistema, movimento conhecido como “locaute”.
“Locaute” é um termo originado a partir da palavra em inglês lock out’— é o que acontece quando os patrões de um determinado setor se recusam a ceder aos trabalhadores os instrumentos para que eles desenvolvam seu trabalho, impedindo-os de exercer a atividade. Ou seja, agindo em razão dos próprios interesses, e não das reivindicações dos trabalhadores. A legislação brasileira impede essa prática.
Segundo o prefeito, o movimento começou a ser detectado durante o fim de semana, mas o próprio consórcio que opera o serviço negou que houvesse risco de paralisação dos serviços.
— A gente vive uma situação emergencial. Nós começamos a identificar esse movimento de greve no final de semana. Buscamos o consórcio BRT, que nos garantiu que não havia qualquer movimento, inclusive eles afirmam que têm um acordo com o sindicato, e eu quero crer, espero, que isso não seja o que a gente costuma chamar de locaute, que é uma combinação entre patrão e empregado para pressionar o Poder Público — afirmou.
A Guarda Municipal e a Polícia Militar reforçaram o patrulhamento na estação do Mato Alto. Diversos agentes atuam no local. Equipe de O GLOBO contou pelo menos três viaturas da PMs e três da GM. Até às 6h não havia registro de nenhum tipo de incidente.