Jornal Povo

Belo é preso por show em escola pública do Rio durante a pandemia

Belo foi preso hoje pela Dcod (Delegacia de Combate às Drogas), da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O cantor é investigado pela realização de um show no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, durante a pandemia do novo coronavírus. O evento, que aconteceu no interior da Escola Estadual do Parque União na última sexta-feira (12), não foi autorizado pela Secretaria Municipal de Saúde e nem pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Por isso, a polícia também investiga uma suposta invasão ao local.

Procurada por Splash, a Sepol (Secretaria de Estado de Polícia Civil), informou que a operação recebeu o nome “É o que eu mereço”. A defesa de Belo também foi procurada, mas até a publicação desta reportagem não atendeu nem retornou os pedidos de entrevista.

A ação prendeu preventivamente outras três pessoas além de Belo: Célio Caetano e Henrique Marques, sócios da produtora Série Gold, responsável pela organização do evento; e Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, apontado como chefe do tráfico no Parque União.

“Como se tal situação, por si só, não fosse absurda e suficiente para uma resposta do estado, foi verificado junto à Seeduc que o evento ocorreu sem qualquer autorização, configurando verdadeiro esbulho/invasão de um prédio público para a realização de um evento privado, contrário ao interesse público e que serviu para propagar ainda mais a doença viral”, disse o delegado Gustavo de Mello de Castro, titular da Dcod.

A delegacia também cumpriu cinco mandados de busca e apreensão e confiscou equipamentos e veículos.

Além das prisões, a Justiça decretou a suspensão das atividades da sociedade empresária e bloqueio das contas bancárias dos investigados, até que se apure os prejuízos causados pela ação.

Eventos não autorizados

Em contato com a reportagem, a Seeduc reforçou que não houve qualquer pedido de liberação do pátio da escola no Complexo da Maré para a realização do evento.

“Desde o início da pandemia e a suspensão das aulas presenciais, a Seeduc não autorizou nenhum evento de qualquer natureza dentro de suas unidades escolares”, diz o comunicado.

Festas clandestinas marcaram o Carnaval do Rio de Janeiro. Ontem, dia que o estado registrou o maior número de casos de covid-19 desde o início da pandemia — 8.385 —, a capital fluminense teve mais uma noite de aglomerações, ruas cheias, festas lotadas e desrespeito às normas sanitárias da cidade. Endereços bem conhecidos dos cariocas voltaram a ser palco de irregularidades.

Desde a última sexta-feira (12), a Secretaria Municipal de Ordem Pública informou que foram contabilizadas 83 inspeções sanitárias, com 30 interdições e 63 infrações em estabelecimentos por aglomeração e descumprimento de outras medidas de proteção à vida, além da falta de licenciamento. Até o momento, de acordo com o último boletim da prefeitura do Rio, todas as 33 regiões da cidade estão com risco alto para a covid-19, segundo nível em uma escala de três.

Em situações como esta, segundo o município, as atividades de entretenimento em ambientes abertos só podem funcionar se forem cumpridas as medidas protetivas permanentes, como o uso da máscara, manter pelo menos 2 metros de distância de outras pessoas para não gerar aglomeração e também a limitação de público em 3/4 da capacidade interna do estabelecimento.

Tecido fino e tênis

Belo foi preso pela primeira vez em junho de 2002 acusado de associação com o tráfico de drogas. Após ficar cinco dias foragido, o cantor se apresentou à Justiça e teve a prisão preventiva decretada.

Na ocasião, a polícia descobriu, por meio de grampos em celular, autorizados pela Justiça, conversas entre Belo e Valdir Ferreira, o Vado, apontado pela polícia como gerente do tráfico na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio.

O traficante pedia na conversa R$ 11 mil para comprar um “tecido fino”, que, segundo os policiais, era um termo usado para se referir a cocaína. Em troca, daria um “tênis de marca AR”, que seria um fuzil AR-15.

Vado morreu em agosto de 2002, durante confronto com a polícia na favela do Jacarezinho.
Já o cantor ficou 37 dias preso na carceragem da Delegacia de Divisão Antisequestro, no Leblon, zona sul do Rio, onde dividiu uma cela com sete detentos, até conseguir um habeas corpus para responder em liberdade.

Ele deixou a carceragem no dia 12 de julho, mais magro, com os cabelos pretos, acompanhado de Viviane Araújo, sua noiva na ocasião.

Em dezembro de 2002, o cantor foi condenado a seis anos de prisão, mas recorreu em liberdade ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedindo um novo julgamento.

Quarto com paredes falsas

Na manhã de 5 de novembro de 2004, Belo foi preso novamente, em sua casa no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio. Ele estava escondido em um quarto com paredes falsas após ter sido condenado a oito anos de prisão pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro pelos crimes de tráfico e associação.

O cantor cumpriu pena inicialmente no presídio Ary Franco, foi transferido para o presídio Evaristo de Moraes e depois voltou para o Ary Franco, após agentes encontrarem celulares e um videogame na cela que Belo dividia com outros quatro presos.

Em março de 2006, ele passou para o regime semiaberto, mas foi proibido de realizar shows fora do município do Rio de Janeiro.

Em julho de 2008, a juíza Cristina de Araújo Góes Lajchter, da Vara de Execuções Penais, concedeu liberdade condicional ao cantor. Na decisão, a magistrada entendeu que ele já havia cumprido um terço da pena e obteve comportamento satisfatório. Ainda assim, ele precisou respeitar algumas restrições, como não ficar fora de casa após as 23h.
Em março de 2010, a juíza Roberta Barrouin Carvalho de Souza, da Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro, concedeu liberdade total ao cantor.

No programa “Conversa com Bial”, em 2019, Belo relembrou a prisão e disse que, na ocasião, estava vivendo um momento de ascensão como artista. “Esse episódio me levou do céu ao inferno em fração de segundos. Não acreditei que seria preso porque cometi um erro de falar um minuto e trinta e oito segundos no telefone. Mesmo assim, fui preso, condenado e fiquei três anos e oito meses. Foi um episódio tão triste! Achei que a minha vida tinha acabado de forma total”.