Jornal Povo

‘Executaram ele’, diz tio de adolescente morto durante ação da PM em Campinho

Felipe, tio do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, acusou os policiais militares que faziam uma operação em Campinho, na Zona Norte do Rio, nesta segunda-feira, de terem executado o rapaz. Em entrevista à ONG Rio de Paz ele disse que os agentes levaram o jovem baleado para outra comunidade — não citou qual —, onde havia outras duas pessoas feridas e só depois os três foram conduzidos para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, também na Zona Norte, onde Ray foi localizado pela família. Felipe falou ao lado da mãe do adolescente, Alessandra, que não conseguiu dizer nada por estar muito emocionada:

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Felipe ao lado de Alessandra, a mãe de Ray Foto: Reprodução

— Por volta das 6h da manhã, ela (a mãe) rodou a comunidade (de Campinho) toda e não achou. Ele estava no portão de casa jogando no celular. Ela começou a caçar ele porque ele não estava no portão. Ela foi ali para cima e perguntou aos policiais porque falaram que tinham apreendido um menor. E ela foi comunicada sobre isso. Chegou na hora, ela perguntou para um policial e o policial falou que não tinha visto ele, que não tinha sido ninguém preso, que não tinha nada acontecido naquela hora. Então, ela continuou procurando. Dali a pouco, ela perguntou a outro policial e esse outro policial falou que tinha, sim, um menor atingido.00:00/03:37 

Felipe negou que tenha havido confronto com bandidos na  comunidade do Campinho.

— Não teve troca de tiros. Meu sobrinho não é bandido, como todos estão falando nas redes sociais. Ele  só tem 14 anos. Os policiais não deram nenhuma assistência. Levaram ele para outra comunidade junto com dois corpos que já estavam lá. E levaram para o (Hospital municipal) Salgado Filho. Sequer tiveram o amor pela vida de outra pessoa. Ele era uma criança. Não era um bicho, não era um monstro. Eles não amam o ser humano. Eles entram na nossa comunidade, fazem arruaça como sempre fizeram. Já não é a primeira vez. Quebram a casa de moradores, batem em moradores, xingam, fazem algazarra. E aí agora dessa vez vieram e mataram o meu sobrinho, que só tem 14 anos — disse.

Em seguida, ele acusou os policiais de execução:

— Depois ainda continuaram mentindo falando que não foram eles. Falaram para os outros que o meu sobrinho era vagabundo, que o meu sobrinho trocou tiros. Como que teve troca de tiros se morador nenhum escutou troca de tiros? Executaram ele e levaram para outro lugar.

Felipe disse ainda que, agora, a família espera por justiça e ressaltou que ela não tem condição de custear o sepultamento de Ray.

Em nota, a Polícia Militar informa que “três indivíduos foram atingidos e socorridos ao Hospital municipal Salgado Filho” e diz que “todas as circunstâncias das ações estão sendo apuradas pelo Comando de Operações Especiais (COE) e pelo 1° Comando de Policiamento de Área (CPA)”:

“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte e parte da Zona Oeste da Cidade do Rio, na segunda-feira (22/02), para coibir a ação de grupos criminosos que disputam a Praça Seca. As equipes estiveram nas comunidades Caixa D’ Água, Camarista Méier, Campinho, Fubá, Lemos Brito, Morro do Dezoito, Morro do Urubu e Saçu.

Durante as ações, foram apreendidos três fuzis, três pistolas, duas granadas e entorpecentes. Três indivíduos foram atingidos e socorridos ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde não resistiram. Um quarto suspeito foi detido.

Todas as circunstâncias das ações estão sendo apuradas pelo Comando de Operações Especiais (COE) e pelo 1° Comando de Policiamento de Área (CPA)

As ocorrências foram apresentadas nas 24ª DP, 25ª DP e Delegacia de Homicídios da Capital.

Ainda durante o dia, manifestantes depredaram um ônibus e agrediram seu motorista na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura. A mobilização foi contida por equipes policiais e 29 pessoas foram conduzidas à 28ª DP. Um coletivo foi incendiado na região na parte da noite.

A Corporação reitera seu compromisso com a atuação técnica e idônea de seus policiais e reforça os canais da Corregedoria da Polícia Militar para denúncias, através do telefone (21) 2725-9098 e do e-mail [email protected]. O anonimato é garantido”.

Armas de agentes apreendidas

As armas dos agentes que participaram da operação foram apreendidas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e passarão por perícial, informou a Polícia Civil em nota. De acordo com a corporação, parentes da vítima e PMs prestaram depoimento. A nota destaca ainda que “diligências estão sendo realizadas para identificar outras testemunhas que ajudem a esclarecer o homicídio”.